
Maria Luiza Rückert
A grande tarefa: nascer de novo
Atualizado: 29 de ago. de 2019

Em sua obra Psicanálise e Religião, o psicanalista Erich Fromm mostra que o resultado da terapia analítica é idêntico ao objetivo proposto pelas grandes religiões: o objetivo é a promoção do ser humano.
Sendo integrante da existência humana, a religião contém três componentes:
1. A capacidade de se maravilhar diante do mundo, da vida e da própria existência.
2. A busca pelo Absoluto, a preocupação por “aquilo que tem significado último” (a formulação é de Paul Tillich).
3. A “atitude de identificação” – consigo mesmo, com os semelhantes e com o universo.
A pessoa que só procura seu próprio interesse não pode ser considerada religiosa. A “religião individual” é necessariamente neurótica. A neurose é um retorno a uma forma primária de religiosidade. A pessoa concentrada no seu próprio interesse é portadora de neurose. O egoísmo é uma forma primária de religiosidade.
“A existência humana nos coloca fundamentalmente uma questão. O ser humano é jogado dentro deste mundo sem a sua vontade e retirado novamente sem a sua vontade. Contrariamente ao animal, que possui instintos e mecanismos de adaptação ao meio, que visam a sua integração na natureza, o Homem carece totalmente desses mecanismos instintivos. Donde, cumpre-lhe viver sua vida, ele não é vivido por ela. Está na natureza e, no entanto, transcende a natureza; tem consciência de si mesmo, e essa consciência de si como entidade separada fá-lo sentir-se intoleravelmente só, perdido, impotente. O próprio fato de ter nascido coloca um problema”.
“No momento do nascimento a vida faz uma pergunta ao Homem, e a essa pergunta ele precisa responder. Precisa responder a ela a todo instante; e não é sua mente, não é seu corpo, é ele, a pessoa que pensa e sonha, que dorme, come, chora e ri – o Homem todo – quem precisa responder a ela. Qual é a pergunta formulada pela vida?”.
“A pergunta é: como poderemos superar o sofrimento, o aprisionamento, a vergonha que cria a experiência do isolamento; como poderemos encontrar a união conosco, com o nosso semelhante, com a natureza? O Homem precisa responder a essa pergunta de algum modo, e até na loucura ele procura dar uma resposta quando transforma violentamente a realidade fora de si mesmo ou quando vive completamente dentro da própria casca, superando assim o medo do isolamento”.
“Existem apenas duas respostas frente à mesma pergunta de sempre. Uma delas é sobrepujar o isolamento, e encontrar a unidade através da regressão ao estado de unidade com o ventre que existia antes do despertar da percepção, antes do nascimento do Homem”.
“A outra resposta é nascer plenamente, desenvolver a própria percepção, a própria razão, a própria capacidade de amar; a tal ponto que o Homem possa ultrapassar o envolvimento egocêntrico, chegando a uma nova harmonia, a uma nova unidade com o mundo” (Erich Fromm, Zen Budismo e Psicanálise, p. 102).
“Somos uma sociedade de pessoas com notória infelicidade: solidão, ansiedade, depressão, destruição, dependência; pessoas que ficam felizes quando matam o tempo que foi tão difícil conquistar”.
“A felicidade é a aceitação corajosa da vida”.
“O homem moderno vive sob a ilusão de que sabe o que quer, quando na verdade ele deseja aquilo que se espera que ele queira”.
“A principal tarefa na vida de um homem é a de dar nascimento a si próprio”.
“O perigo do passado era que os homens se tornassem escravos. O perigo do futuro é que os homens se tornem autômatos”.
“A ânsia de poder não é originada da força, mas da fraqueza”.
“Na medida em que aumentam seus poderes, o homem se torna cada vez mais pobre”.
“O passo mais importante para chegar a concentrar-se é aprender a estar sozinho consigo mesmo”.
“Ter esperanças é uma condição essencial do ser humano”.
“Morrer é dolorosamente amargo, mas a ideia de ter de morrer sem ter vivido é insuportável”.
“A vida tem um dinamismo interno próprio; ela tende a crescer, a encontrar uma expressão e a ser vivida”.
“’Conhece-te a ti mesmo’ é um dos comandos fundamentais para dar força e felicidade aos homens”.
“Aparentemente, nada é mais difícil de suportar, para o homem comum, do que o sentimento de não se identificar com o grupo”.
“Nossa capacidade de tomar decisões afeta constantemente a nossa vida. Quanto mais decisões erradas tomamos, mais nossos corações endurecem; e quanto mais frequentemente tomamos as decisões certas, mais nossos corações amolecem ou, melhor ainda, são vivificados”.
“O amor imaturo diz: eu te amo porque preciso de ti. O amor maduro diz: eu preciso de ti porque te amo”.
“O amor é a única resposta sã e satisfatória para o problema da existência humana”.
“A maior parte das pessoas vê no problema do amor, em primeiro lugar, o problema de ser amado, e não o problema da própria capacidade de amar”.
“O amor é uma atividade, não um ato passivo; é um ato de firmeza, não de fraqueza... é propriamente dar, e não receber”.
“O amor é a última e real necessidade do ser humano”.