Maria Luiza Rückert
Albert Ellis e as Ideias Irracionais

O psicólogo Albert Ellis tomou como ponto de partida este pensamento do filósofo grego Epiteto:
Não são os acontecimentos que perturbam os homens,
mas, sim, como estes os enxergam.
Em 1955, Ellis desenvolveu a Terapia Racional Emotivo-Comportamental (TREC), ressaltando que o impacto emocional é causado pelo modo como a pessoa se defronta com o acontecimento.
Ellis enfatizou três aspectos da vida:
- o que acontece;
- como assimilamos o que acontece;
- como reagimos ao que acontece.
É no segundo ponto que se concentra a maior parte das nossas dificuldades. É a nossa percepção que precisa ser avaliada e transformada.
“As pessoas e as coisas não nos aborrecem. Em vez disso, nós nos aborrecemos ao acreditar que elas têm o poder para isso” (Ellis).
Muitas pessoas obtêm conhecimento sobre seus problemas, mas os sintomas persistem. Isso evidencia que o mero conhecimento de uma situação não é suficiente. É necessário alterar o raciocínio da pessoa.
Trata-se de uma terapia racional, pois a permanência de problemas emocionais deve-se a pensamentos irracionais: a pessoa tem a tendência de elaborar conclusões extremadas e negativas. Exemplificando: a pessoa perde o emprego e conclui que não possui valor algum e que nunca mais encontrará outro trabalho. Nesse caso, o pensamento irracional é ilógico, extremado e autodestrutivo.
A tendência do pensamento irracional é perpetuar-se e as situações de fracasso tendem a se repetir. As novas situações passam a ser interpretadas de maneira negativa, antecipando um resultado desastroso. A possibilidade de experiências positivas é anulada. E a pessoa acaba vivenciando a realização de sua expectativa.
E assim, quando ocorrem acontecimentos negativos, a pessoa pode
- reagir de forma “automática” e irracional,
- reforçar hábitos prejudiciais de pensar,
- ficar ainda mais convencida de que sua auto-avaliação negativa é justificada.
Mas a pessoa também pode
- acalmar-se e esperar antes de reagir,
- refletir sobre maneiras novas, úteis e benéficas para resolver a situação,
- perceber que as opiniões negativas não são justificadas,
- constatar que a realidade é dinâmica e oferece inúmeras possibilidades.
Nossas reações a pessoas e acontecimentos tornaram-se automáticas. Nossa resposta emocional depende do significado do acontecimento e ela pode ser dirigida pelo pensamento racional ou pelo irracional.
Em sua obra A mente é maravilhosa, Ellis elaborou uma relação de 11 ideias irracionais.
Preciso de amor e aprovação de todos os que me cercam. Essa crença também pode ser formulada assim: Tenho que ser amado e receber aprovação de todas as pessoas importantes que me conhecem.
Para ser valioso, devo conseguir tudo o que me proponho; tenho que ser sempre competente, suficiente e capaz de conseguir alcançar os meus objetivos.
Os maus devem ser castigados por suas más ações.
É horrível e catastrófico que as coisas não aconteçam como eu espero e desejo.
As desgraças humanas são originadas por causas externas e eu não posso fazer nada ou quase nada para evitar ou controlar o sofrimento que me é ocasionado.
Devo pensar constantemente que o pior deve acontecer.
É mais fácil evitar do que enfrentar as responsabilidades da vida.
É preciso ter alguém mais forte em quem confiar.
Meu passado determina o meu presente e o meu futuro.
Devo me preocupar constantemente com os problemas dos demais.
Cada problema tem uma solução determinada e é catastrófico não encontrá-la.
Essas crenças irracionais contêm três noções básicas de exigências que o indivíduo dirige a si mesmo e ao mundo.
Eu devo me sair bem para receber a aprovação pela minha forma de agir.
Todas as pessoas devem me tratar bem, com justiça e consideração; se não fizerem isso, elas são desprezíveis e ruins e devem ser castigadas.
As condições de vida devem ser boas e fáceis, para que o mundo me dê o que eu quero, caso contrário ele é um lugar terrível.
O pensamento racional tem como base a tolerância e a capacidade de suportar contrariedades. Enxerga o potencial humano e abre espaço para novas possibilidades.
“Os melhores anos de sua vida são aqueles em que você decide assumir seus problemas e percebe que controla seu destino” (Ellis).
Ellis foi influenciado por Karen Horney, que desenvolveu o conceito de “tirania dos deveres”, mostrando a dificuldade em harmonizar esses pensamentos com a realidade.
O pensamento racional aceita os acontecimentos, também quando eles não são como gostaríamos que fossem; afinal, fazem parte da vida.
A Terapia Racional Emotivo-Comportamental (TREC) se ocupa com a reação emocional e também com o comportamento. Há uma relação ambivalente entre o modo de pensar e o comportamento. É possível mudar o pensamento mudando o comportamento. E também é possível modificar o comportamento mudando o modo de pensar.
Para mudar a maneira de pensar, a pessoa precisa:
reconhecer seus pensamentos irracionais
contestar a irracionalidade desses pensamentos, estabelecendo um “debate” com pensamentos racionais.
A TREC propõe que a pessoa passe a criar novas convicções, para moldar uma nova realidade. Na terapia, a pessoa percebe que as atitudes inflexíveis levam-na a “se agredir”. A terapia propõe formas de pensar e convicções mais benéficas.
Surgiu assim o primeiro modelo de terapia cognitivo-comportamental.
Aaron Beck foi influenciado por Ellis e definiu-o como um “terapeuta, teórico e professor investigativo e revolucionário”.