Maria Luiza Rückert
O APOCALIPSE

Paulo Rückert
Breve comentário.
O Apocalipse se ocupa com os acontecimentos finais – desde a ressurreição e exaltação de Jesus Cristo até sua parusia (a volta gloriosa) e estabelecimento de seu senhorio sobre o mundo. São acontecimentos que também estão revestidos de um significado último.
O Apocalipse pertence ao gênero apocalíptico do AT. O conteúdo do Apocalipse tem paralelos no AT e também no NT. No AT, o gênero apocalíptico é encontrado em Is 24-27, Ez 1 e 40-48, Jl 2, Zc 1-6 e Dn 7-12. O NT apresenta apocalipses em Mt 24, Mc 13, Lc 21, 1 Co 15:20-28; 1 Ts 4:13-5:11 e 2 Ts 2:1-12.
No judaísmo da época havia a expectativa de um fim próximo deste mundo e aguardava-se o início de um novo mundo. Este mundo sucumbirá mediante catástrofes. O novo mundo de Deus descerá do céu para o restabelecimento da vontade original de Deus; uma dimensão paradisíaca.
A apocalíptica judaica se ocupa com a história de Israel – que se desenrola em direção a um alvo. Os apocalipses judaicos eram lacrados, para serem abertos e lidos no momento oportuno.
O Apocalipse de João se diferencia dos apocalipses judaicos. João não se esconde atrás de um pseudônimo. Ele menciona o seu nome, pois devia ser conhecido e respeitado entre os cristãos. Seu livro não é selado, mas tem uma mensagem profética para uma situação específica. Em cada frase ele cita conteúdo do AT. O Apocalipse contém mais de 400 citações do AT. Suas raízes estão dentro dos escritos dos profetas do AT. João traduz as palavras dos profetas do hebraico para o grego.
Autoria do Apocalipse.
João escreve para comunidades cristãs, que sofrem sob a perseguição do império romano. Ele se identifica como profeta (10:11 e 22:9).
Os pesquisadores concordam a respeito da data da redação do Apocalipse: ano 95. Irineu, bispo de Lyon a partir de 178, relata que o Apocalipse foi redigido no final do período de Domiciano (Adversus haereses, V, 30,3).
O nome do autor é João. No ano de 95, João esteve exilado na ilha de Patmos e recebeu a revelação para escrever o Apocalipse. A vocação de João lembra em todas as características o chamamento dos profetas (Is 6, Jr 1, Ez 1-3).
Justino o Mártir e Irineu identificaram João com o filho de Zebedeu, um dos discípulos de Jesus.
Houve resistência para aceitar o Apocalipse no cânone do NT. No século III, as heresias do montanismo e do milenarismo distorceram a mensagem do Apocalipse. Os montanistas desenvolveram uma doutrina do Espírito a partir dos escritos de João. Surgiram os adversários do evangelho do Logos – denominados Alogos – dizendo que os escritos de João seriam uma falsificação do gnóstico Cerinto. Com essa intenção, os Alogoi queriam solapar a base doutrinária dos montanistas. Desse modo, eles contestaram a autoria do apóstolo João.
Em meados do século III, o bispo Dionísio de Alexandria apontou para as diferenças de estilo e de ênfase teológica entre os escritos de João e o Apocalipse. Considerando as diferenças, Dionísio concluiu que não se trata do mesmo autor.
Quanto à diferença da ênfase teológica, torna-se necessário avaliar a mudança da realidade: os cristãos passaram a se defrontar com perseguições sistemáticas.
O Apocalipse foi escrito num grego carregado de semitismos. A pesquisa constata que o autor provém de um ambiente judaico-cristão, provavelmente da Palestina.
Em Éfeso foram encontradas duas sepulturas pertencentes a João. Uma sepultura deve ser do apóstolo João, e outra, do presbítero João.
O bispo Pápias de Hierápolis menciona um presbítero que atuou na Ásia Menor e que foi sepultado em Éfeso. Também Eusébio de Cesaréia menciona a atuação do presbítero João (História Eclesiástica, III, 39,4) e as duas sepulturas (VII, 25,16).
A redação e a composição do Apocalipse.
A mensagem apresentada nos cap. 4-22 deve ter sido composta de dois blocos distintos. Günther Bornkamm defende a idéia de que um bloco era acessível a todos os leitores. E a outra parte teria sido lacrada. Mais tarde, alguém do círculo de João teria unido os dois blocos em um só texto.
Carlos Mesters argumenta que a redação do Apocalipse aconteceu em etapas.
Os cap. 4 a 11 foram redigidos em 64, época da perseguição de Nero.
Com o aumento da perseguição, foram redigidos os cap. 12:1 a 22:5, no ano 95, época da perseguição de Domiciano. Tornou-se necessário aprofundar a reflexão em torno da política do império romano. A mensagem de Rm 13 precisa ser complementada com Ap 13.
A seguir foram redigidos os cap. 1 a 3.
Por fim, foi redigido o epílogo (22:6-21).
A análise de Ap 6:6-11 mostra que já haviam acontecido perseguições antes da redação do livro. Em 11:1-2 encontra-se uma tradição, que provém do período final da guerra judaica do ano 70.
O Apocalipse precisa ser interpretado a partir da história, principalmente os cap. 13 e 17.
O objetivo do Apocalipse.
Apocalipse quer dizer “revelação”. Isto significa que o livro se destina a ser revelado: é uma mensagem a ser “des-coberta”. O Apocalipse é uma “re-velação”. Cristo se revela. Todo o livro do Apocalipse é um desdobramento dessa auto-manifestação de Cristo.
O autor procura revelar o mistério do que está acontecendo e do que vai acontecer (1:19). Deus atua na história, julgando e destruindo o mal, para implantar definitivamente o seu Reino entre os homens (11:15).
Cristo cumpriu o plano redentor de Deus. Ele é o vencedor do mal e da morte. Os crentes têm participação na vitória de Cristo, mesmo que agora ainda estejam sofrendo sob a brutal realidade deste mundo.
A ressurreição de Jesus Cristo mudou a situação do universo inteiro.
O evento de Cristo é apresentado no seu mais amplo horizonte – temporal e espacial.
João recebeu a ordem de escrever
- o que ele viu: sua vocação (cap. 1);
- aquilo que é: a situação das igrejas (cap. 2-3);
- aquilo que deverá acontecer (cap. 4-22).
Às igrejas são dirigidos um louvor e também uma advertência. A repreensão é pequena (para Pérgamo) e bastante dura (para Laodicéia). Esmirna não é louvada e nem censurada; apenas é mencionada sua tentação. As igrejas devem perseverar.
A visão do trono (4-5) tem caráter introdutório. O vidente se defronta com Deus e sua majestade. A visão corresponde em detalhes a Is 6 e Ez 1. O livro fechado com sete selos contém o plano de Deus para a história universal. Somente o Cordeiro pode abrir o livro.
A visão dos sete selos (6-7) é seguida da visão das sete trombetas (8-11). Com o toque das trombetas tem início o Juízo Final. As primeiras seis trombetas (8-9) anunciam catástrofes e destruição. A sétima trombeta anuncia a vinda da salvação. As catástrofes do tempo final recebem o colorido próprio da apocalíptica.
O povo de Deus precisa lutar contra o dragão e as duas bestas (12-14). A mulher representa o povo de Deus. A criança é o Messias. O dragão e as duas bestas simbolizam as potências que ameaçam de morte o povo de Deus.
As sete taças da ira de Deus serão derramadas sobre o mundo que se revolta contra Deus (15-16).
As visões das sete taças correspondem em detalhes às visões das trombetas. Essas visões não devem ser compreendidas como uma sequência de acontecimentos, mas como uma abordagem da mesma mensagem a partir de outro enfoque.
O juízo e a vitória sobre Babilônia (17-19) atingem toda oposição a Cristo. O mundo inteiro é atingido, principalmente as transações comerciais. Há júbilo no céu. É instaurado um reino de paz. Satanás se rebela pela última vez e é destruído para sempre. A visão da Jerusalém celestial expressa a vitória.
Essa monumental descrição da salvação eterna é formulada com palavras do AT.
O Apocalipse estabelece uma conexão entre o AT e o NT. A vitória definitiva de Jesus Cristo é a concretização de todas as promessas do AT.
Chama a atenção o número de duplicatas, de interrupções na sequência das visões e de narrativas fora do contexto.
Anúncio profético e mensagem apocalíptica.
O gênero literário do profeta caracteriza-se pelo oráculo, palavra que ele ouviu de Deus e transmite adiante. A ênfase está na transmissão da Palavra.
Na apocalíptica, o homem de Deus é um visionário. Ele vê o “céu aberto” ou é elevado para contemplar a realidade celestial. Na apocalíptica, a imagem tem mais importância que o discurso.
A revelação comunica o plano de Deus, que atua na história. O anúncio da revelação é também um apelo para a pessoa corresponder ao agir de Deus.
Os profetas exortam o povo de um modo direto. Lembram a eleição do povo e apontam para as exigências da aliança com Deus. A atuação de Deus no passado requer a fidelidade do povo no presente, para que a bênção permaneça. A conversão e a fidelidade são necessárias para a manutenção da aliança.
Na literatura apocalíptica as visões comunicam os enigmas da história. São desvendadas as grandes fases do plano de Deus. É anunciada a era da plenitude. As visões são um estímulo e transmitem esperança (para os perseguidos), coragem (para os desanimados) e uma advertência para a conversão (dos afastados e extraviados). A revelação do triunfo final de Deus é um estímulo para a perseverança e a vigilância.
Claus Westermann constatou que “a profecia atinge simultaneamente o passado, o presente e o futuro”. Por sua vez, “o gênero apocalíptico atinge de preferência o futuro” (Teologia do Antigo Testamento).
A profecia se ocupa com um evento futuro previsível, como uma crise política ou um conflito internacional.
A apocalíptica descreve o futuro. Ela não se atém a um fato, mas a uma visão que se encontra além da história.
A revelação comunica o plano de Deus, que atua na história. O anúncio da revelação é também um apelo para a pessoa corresponder ao agir de Deus.
“Falando em termos gerais, os profetas prediziam o futuro que resultaria do presente, enquanto que os apocalípticos prediziam o futuro que irromperia no presente” (H. H. Rowley).
A pregação profética analisa o desenrolar da história, aponta para o plano de Deus e proclama advertências para o povo desobediente. Os profetas constatam que o plano de Deus se desenrola na história.
A literatura apocalíptica salienta que há uma ruptura radical entre a era presente e a era futura. A era presente está marcada pelo pecado e pelas forças do mal. Na era futura acontecerá o triunfo pleno e definitivo de Deus e de seus escolhidos. A era presente é um tempo de conflito e de provação. Na era futura será instaurada a ordem divina – “Deus será tudo em todos”. Essa realização depende unicamente de Deus. Só ele determina os prazos. E só Deus é Senhor e Juiz da história. A implantação final e definitiva do Reino de Deus tem dimensões universais. Os tempos finais têm a abrangência da criação do universo. A grandiosidade da criação acontece também no final dos tempos – com a nova criação.
A literatura apocalíptica é pessimista em relação a este mundo com sua perversidade. E é otimista em relação ao triunfo final de Deus.
O Apocalipse se distingue dos apocalipses judaicos, pois o livro não apresenta cálculos a respeito do final dos tempos, e também não contém especulações cosmológicas. O universo é criação de Deus; as nações e as pessoas não são regidas pelos astros. O Apocalipse vincula toda esperança em Jesus, o Salvador crucificado (11:8), que inaugurou o período final (1:5-6; 7:14; 12:11; 13:8; 19:11-21). Ele ressuscitou (1:5) e conduz a história da humanidade ao seu alvo (5:1-8:1 e 19:11-21).
O Apocalipse também contém uma importante seção do gênero literário dos profetas: as cartas às sete igrejas da Ásia (cap. 2-3). Assim como os profetas, o autor se apresenta e dirige a mensagem aos seus contemporâneos.
A mensagem do livro é transmitida no gênero literário chamado apocalíptico. A maior parte dos profetas do AT também empregou o gênero apocalíptico, como observamos em Is 24-27; Joel 2; Ez 1 e 40-48; Dn 7-12 e Zc 1-6.
Os escritos apocalípticos têm surgido em época de perseguição e desorientação. A literatura apocalíptica surge em determinadas situações históricas, quando o povo é dominado, esmagado e sufocado por uma nação estrangeira. São renovadas então as esperanças na gloriosa vitória de Deus sobre os inimigos, estabelecendo um período de paz e bem-estar sem fim (Shalom).
O sofrimento e a resistência da igreja de Jesus Cristo.
O contexto do Apocalipse mostra que os cristãos se opunham ao paganismo de Roma e à religião estatal: o culto do imperador. Tornaram-se inimigos de Roma e foram perseguidos até à morte.
O livro quer prevenir as igrejas a respeito da grande perseguição.
O tema é a luta da Igreja com os poderes hostis. O chefe da Igreja é Jesus Cristo. A luta é contra Satanás, que tem sua capital em Babilônia (Roma). A vitória de Cristo e de suas testemunhas é certa, mas terá que passar pelo sofrimento e pelo martírio. Chegará o julgamento e a queda da Babilônia. Haverá a batalha final e o julgamento universal. Virá o final glorioso e feliz. O curso da história culmina com o casamento do Messias-Cordeiro com a igreja.
João quer prevenir os irmãos: está próxima a grande prova. Já houve perseguições e mártires (2:13 e 6:9). E ainda sobrevirá a grande prova (3:10), quando o imperador exigir adoração (13:4.16-17 e 19:20).
Diante do fato de que o povo de Deus está sendo perseguido, oprimido e vigiado pelo poder do império romano, chegará o dia em que Deus vai alterar essa situação. Para transmitir essa mensagem revolucionária, João usa uma linguagem simbólica, com ilustrações do AT. O livro foi escrito em símbolos, imagens e números misteriosos. Os cristãos podiam entender o simbolismo.
Dois grandes motivos levaram João a dirigir sua mensagem às comunidades da Ásia Menor:
1. O sincretismo religioso.
As conquistas de Alexandre Magno provocaram uma mistura de muitas religiões e culturas. Os cristãos tinham que manter sua identidade em meio a essa idolatria.
2. A dominação romana e a religião imperial.
No tempo do imperador Nero (54-68), os cristãos foram perseguidos em Roma. Era um período de decadência e o imperador queria concentrar a atenção dos romanos em algum assunto, para que não aflorassem os verdadeiros problemas. Também o imperador Vespasiano (69-79) procurou se reafirmar no poder e criou a religião imperial, isto é, o culto aos imperadores mortos. E atribuiu a si mesmo títulos divinos, como “salvador”, “benfeitor” e “senhor”. O imperador Domiciano (81-96) impôs a religião imperial a todos os povos dominados, exigindo inclusive o culto ao imperador vivo. Aquele que não prestasse culto ao imperador era considerado inimigo. Era perseguido e executado. Com essas manobras, Domiciano queria manter o império unido. A perseguição era implacável: Domiciano mandou executar seu primo Flávio Clemente, porque se tornara cristão. Flávia Domitila, mulher de Flávio Clemente, foi desterrada. Em Éfeso e em outras cidades do império, Domiciano mandou erigir uma estátua sua, para ser cultuado. Observemos a menção da estátua no Apocalipse.
O livro quer fortalecer as comunidades para os momentos difíceis que iriam passar por causa da fé. Os cristãos devem estar preparados para testemunhar corajosamente a sua fé.
O livro é um alimento para a fé e um fortalecimento para a esperança. Ser fiel ao Evangelho de Cristo significa lutar por um mundo de justiça, de fraternidade e de direitos iguais para as pessoas. Significa orientar a vida pela vontade de Deus.
Quando examinamos a realidade do império romano e a crueldade com que os cristãos foram perseguidos, percebemos que o livro foi escrito para uma situação histórica específica. Mas o livro não se esgota com os acontecimentos verificados no império romano. Afinal, momentos de opressão, de injustiça, de torturas e de violações dos direitos humanos sempre de novo se repetiram na história da humanidade. E lamentavelmente, ainda continuam acontecendo hoje. Por isso, o livro é válido para todos os tempos, pois fornece dados e reflexões sempre atuais.
Em meio aos detalhes históricos, permanece um drama permanente: a luta dos cristãos contra as forças do mal. E a certeza de poder contar com Deus e com sua vitória final. A igreja deve saber que Deus tem um plano para este mundo. Se agora ainda não enxergamos esse plano, por causa do excesso de maldade e de perseguições, mesmo assim podemos estar certos de que Deus continua com o controle dos acontecimentos e que a vitória final será de Jesus Cristo.
Por que as forças políticas do poderoso império romano passaram a hostilizar os cristãos?
Mesmo sendo uma minoria insignificante, os cristãos incomodavam. Anunciavam que Deus é um só. Para expressar a sua fé, se empenhavam para viver como irmãos. A característica dos cristãos era a partilha (At 2:44-45). Consideravam todas as pessoas iguais em dignidade. Não deram apoio ao sistema injusto do império (Ap 18:4).
Podemos observar que não se tratava de uma discussão de assuntos abstratos. Os cristãos eram um grupo diferente por causa de seu estilo de vida. E os regimes autoritários não toleram pessoas que pensam e agem de um modo diferente. Esta é uma característica de todos os regimes autoritários, em todas as épocas.
Observamos que Apocalipse quer dizer revelação. O termo significa “tirar o véu”. Qual era o assunto que precisava ser desvendado?
O assunto encoberto era a própria situação do povo nas comunidades. Os cristãos não estavam mais entendendo os acontecimentos. A história ainda tem um sentido? A perseguição estava tornando a vida sem sentido. Todo o poder do mundo estava se voltando contra os cristãos.
Os seguidores de Cristo começaram a se impacientar. Passaram a clamar: “Até quando, Senhor?” (6:10). O medo e o desânimo levaram alguns a abandonar o Evangelho.
O contraste era realmente insuportável. Na igreja se dizia: “Jesus é o Senhor!” Mas, quem mandava no mundo era o imperador de Roma.
O livro do Apocalipse é a resposta de Deus ao povo aflito e perseguido. O livro foi escrito por ordem de Deus (1:1.19), e se destina a clarear a situação do povo de Deus.
Este é o anúncio libertador do Apocalipse: “O tempo está próximo” (1:3). Os planos de Deus estão ocultos dentro dos acontecimentos da vida (1:19). Deus continua tendo o controle dos acontecimentos! Por maior que seja a perseguição, Deus continua sendo o Senhor da história! Por mais forte que seja a máquina governamental do império romano, ninguém consegue mudar o rumo do plano de Deus!
Jesus vai conduzir o seu povo para a vitória final! Os acontecimentos não estão escapando da mão de Deus. Mesmo que as aparências digam o contrário, Deus continua com o controle da situação. A história se desenrola de acordo com o agir e o plano de Deus. A ressurreição de Jesus é a prova que garante a certeza da vitória final!
Podemos, então, concluir que o Apocalipse é uma mensagem de conforto e de esperança para um povo abalado em sua fé.
A fé dos cristãos havia sido abalada por duas causas:
- a causa externa era perseguição;
- a causa interna era o desânimo.
A interpretação cristã da história aponta para o surgimento de uma era nova. A ressurreição de Jesus Cristo inaugurou a nova dimensão. Outra característica da nova realidade é o derramamento do Espírito (At 2). Os que pertencem a Cristo já ressuscitaram com ele (Cl 3). Por ora, a vinda do Reino só pode ser percebida pela fé; ele se realiza no mistério. A realização plena acontecerá por ocasião da manifestação gloriosa de Jesus Cristo. O tempo presente e a era futura se entrecruzam: a Igreja se encontra no tempo presente, mas ela pertence à dimensão futura. É a tensão entre o já e o ainda não. O mal já foi derrotado, mas ainda não foi eliminado.
A realidade última já foi inaugurada com a ressurreição de Jesus Cristo. A ordem escatológica (a realidade última) já se faz presente na ordem histórica.
A esperança cristã se concentra na participação atual do cristão no combate vitorioso de Jesus Cristo. O objetivo das visões não é apenas descrever o fim dos tempos, mas a realidade instaurada por Jesus.
Existe uma urgência. Mas, a urgência não se prende a uma avaliação cronológica das etapas finais. A literatura apocalíptica em geral se concentra nos prazos escatológicos. O Apocalipse insiste na urgência, porque a fase decisiva do plano de Deus foi revelada. Os últimos tempos já começaram. As primícias dos bens definitivos já foram concedidas.
Por causa de sua avaliação e interpretação da história da salvação, o Apocalipse se aproxima da pregação profética. A ênfase está muito mais no mistério da realização do Reino de Deus do que na data de sua manifestação gloriosa. Por isso, torna-se tão importante o apelo a um despertar espiritual, uma exortação à fidelidade do povo de Deus.
O Apocalipse não adota a pseudonímia (o autor não usa outros nomes; ele se apresenta como João) e nem estimula cálculos para estabelecer a proximidade do Dia do Senhor.
Por que o livro se expressa por meio de visões e de símbolos?
- O visionário contempla realidades celestes que são de ordem superior. Elas não podem ser representadas assim como são. A dimensão sagrada só pode ser transmitida por meio de analogias. E a transmissão de símbolos nem sempre se submete a uma lógica. Algumas analogias podem até parecer paradoxais, mas o símbolo tem uma maneira própria de se expressar.
- O simbolismo também realça o caráter confidencial da mensagem. A transmissão da mensagem é um privilégio. Aqueles que foram chamados podem compreender os segredos divinos. É uma comunicação para iniciados nos mistérios.
- O símbolo nos leva a experimentar algo. A descrição de Jesus em 1:12-18 faz com que possamos sentir o seu poder e a sua presença.
- O símbolo estabelece uma ligação com os temas do AT, principalmente com os profetas Isaías, Ezequiel, Daniel Joel e Zacarias. O Apocalipse é o livro do NT que mais emprega citações do AT. Mais de 400 vezes! Os cristãos recuperam a memória. E percebem que o mesmo Deus que agiu e salvou no passado, pode continuar intervindo no presente e no futuro.
- O símbolo comunica a presença de Deus. O povo precisava superar seu problema interno: o desânimo. Para restabelecer a confiança dos cristãos, as visões transportam os crentes para dentro do céu (4:1-11) - para perto do trono de Deus. Lá do alto, os cristãos podem contemplar a luta com os olhos de Deus. Apesar das dificuldades, a luta já está ganha! Os cristãos sempre viveram na convicção de que a igreja é uma só: Cristo é Senhor dos vivos e dos mortos. Quando celebramos um culto aqui na terra, nós estamos em sintonia com o culto celebrado na eternidade. Há uma íntima conexão entre a nossa realidade e o céu. O símbolo é uma maneira de expressar essa ligação entre o céu e a terra. Num regime ditatorial e opressivo, a verdade deve ser dita de uma maneira que somente os cristãos entendem. Observemos 13:18 e 17:9. O símbolo revela a mensagem aos perseguidos e a esconde aos opressores. Esta é uma característica da literatura apocalíptica. O mesmo procedimento foi adotado no livro de Daniel.
O Simbolismo dos Números.
Um – símbolo de Deus, princípio e fundamento de toda a realidade.
Dois – representa o dualismo entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, entre a verdade e a mentira. Expressa o conflito entre o ser e o não-ser.
Três – número perfeito que expressa a Trindade divina. Aparece onze vezes no Ap.
Quatro – número cósmico: os quatro pontos cardeais (Norte, Sul, Leste e Oeste), quatro são os elementos primordiais (água, terra, ar e fogo), quatro são as extremidades do mundo (Is 11:12). Quatro são os evangelhos e há quatro seres viventes do Apocalipse (4:6). É mencionado dezenove vezes.
Sete – número pleno e completo. Expressa a totalidade. Deus santificou o sétimo dia. Os sete Espíritos de Deus (Ap 5:6). A oração do Pai nosso contém sete petições (Mt 6:9-13). O candelabro possui sete braços (Êx 25:37). As sete igrejas do Apocalipse. Aparece cinquenta e cinco vezes. O número sete também se encontra implícito. O livro contém sete exortações à “paciência”.
Dez – representa os reinos deste mundo, a humanidade (Dn 7:7). Dez chifres (Ap 13:1) representam o poder humano em sua totalidade. A provação de dez dias (Ap 2:10) é por um período limitado. Dez Mandamentos. Dez pragas no Egito. O número é mencionado nove vezes.
Doze – expressa uma quantidade plena. Doze meses no ano, doze horas no dia, doze tribos em Israel, doze discípulos de Jesus, doze profetas menores, doze pães da proposição (Lv 24:5). Aparece vinte e três vezes.
Quarenta – número ligado à penitência e ao preparo espiritual. No dilúvio houve quarenta dias de chuva. Moisés permaneceu quarenta dias no Sinai. Elias caminhou quarenta dias e quarenta noites até à montanha de Deus (1 Rs 19:8). Jesus foi tentado durante quarenta dias.
Setenta – múltiplo de dois números perfeitos (7 x 10). Em Israel havia setenta anciãos (Nm 11:16). Jesus enviou setenta discípulos (Lc 10).
A estrutura do Apocalipse.
Depois do prólogo e da seção profética (1-3), o Apocalipse apresenta sete visões. Cada visão descreve de um modo total e pleno o tempo final; cada uma o faz a partir de um novo ponto de vista.
As visões não se desenvolvem numa reação em cadeia, e também não apresentam uma história contínua e ininterrupta.
Cap. 1 - 3 Prólogo e sete cartas às igrejas.
4 – 5 A visão do trono e da glória de Deus.
6:1 – 8:1 Os sete selos.
8:2 – 11:19 As sete trombetas.
12 – 14 A mulher, o dragão, as bestas, o Cordeiro e os anjos.
15 – 16 As sete taças.
17:1 – 19:10 O julgamento e a derrota de Babilônia.
19:11 – 22 A Parusia de Jesus Cristo, a batalha e a vitória final,
a comunhão plena com Deus.
De acordo com essa estrutura, a interpretação é que cada uma das sete visões traz a mensagem completa do Apocalipse. Cada uma apresenta a vitória de Jesus Cristo a partir de um outro enfoque. Este esquema foi apresentado por Matthias Rissi, professor em Richmond, EUA (Biblisch-Historisches Handwörterbuch, pp. 1331/35).
A sucessão das visões deve ser vista como uma proclamação que se destina a apresentar os múltiplos aspectos do triunfo de Jesus Cristo.
A intenção não é mostrar um cronograma das diversas fases do final da história, mas ressaltar a participação da Igreja na vitória de Cristo. A tentativa de estabelecer um cronograma do futuro a partir do Apocalipse resulta no desvio de sua mensagem. Aliás, toda tentativa de desvendar o futuro vem a ser uma afronta a Deus. A Bíblia toda nos exorta a confiar o futuro a Deus. A tentativa de querer antecipar o futuro se constitui em afronta a Deus. No Sl 31:15 lemos: “O meu futuro está nas tuas mãos” (NVI). E é justamente por isso que a magia é tão condenada na Bíblia, pois as práticas mágicas são uma tentativa de se apropriar do âmbito divino. Moisés pediu para ver Deus de frente (Ex 33:18-23), ou seja, ele queria antever o que Deus iria realizar. Mas, é impossível que um ser humano possa prever o agir de Deus, pois a atuação do Senhor está aberta às intercessões dos homens (Ex 32:7-14). Um ser humano só pode perceber o agir de Deus quando ele passou. Deus só pode ser visto “de costas”, quando são constatados os efeitos de “sua glória”.
Desse modo, a mensagem da vitória final e definitiva de Jesus Cristo é proclamada repetidas vezes com imagens diferentes. Novas ilustrações e novos símbolos convergem para a mesma proclamação.
O Apocalipse proclama a atualidade do plano de Deus. Os cristãos são colocados diante da urgência de tomar uma posição. O tempo presente é compreendido a partir da perspectiva eterna. A obra de Deus chegou a seu objetivo. Esperamos apenas a sua manifestação.
O Apocalipse nos coloca diante da realidade de que estamos nos últimos tempos. Diante de Jesus Cristo não há neutralidade: ou ele é o Senhor ou estamos em oposição a ele (como os “habitantes da terra” sob o domínio de Satanás).
A Igreja é a comunidade eleita, é amada por Cristo, foi redimida pelo sangue do Cordeiro, é constituída de um povo sacerdotal.
A Igreja participa no destino de Cristo: ela desempenha um testemunho profético, ela também enfrenta oposição neste mundo, ela deve enfrentar um combate e se deparar com o martírio, mas ela também participa já da vitória do Senhor ressuscitado e glorificado.
A Igreja é um Reino Sacerdotal que deve testemunhar – perante o mundo – uma vida em fidelidade a Deus.
A Igreja se encontra no exílio e sofre perseguição. Mas, ela também é preservada por Deus. Ela vive das primícias da ressurreição.
A Igreja se encontra em exílio, mas também em êxodo.
A Igreja vive na perspectiva da glória futura em meio à provação do tempo presente. Ela se prepara para viver da manifestação plena de Jesus Cristo.
O Reinado de Cristo já é uma realidade presente. Os acontecimentos de hoje se encontram sob a perspectiva da eternidade.
Os cristãos pertencem a Cristo. A luz de Deus orienta a caminhada na fé. O momento presente é revestido de uma seriedade de dimensões eternas.
O Apocalipse contém sete exortações. As recomendações são as seguintes:
1. ler e escutar em comunhão (1:3-4);
2. não acrescentar e nem tirar algo do livro (22:18-19);
3. ter discernimento (13:18 e 17:9);
4. ter sede pela verdade (22:17);
5. ouvir o que o Espírito tem a dizer (2:7, 11:17.29; 3:6, 13:22);
6. a mensagem nos conduz à oração (22:17);
7. praticar a palavra ouvida (1:3; 22:7,10).
Nós vamos entender melhor a mensagem do Apocalipse, se a nossa vida for idêntica à dos cristãos das sete comunidades mencionadas nos capítulos 2 e 3. Se sentirmos o quanto é difícil vivenciar o Evangelho em meio à nossa realidade, então vamos ter sensibilidade para entender a luta dos primeiros cristãos.
Também nós nos encontramos em meio à luta. Como está a nossa caminhada?
Nós também pertencemos ao povo de Deus. Quais são nossas dificuldades maiores: as internas ou as externas? Somos participantes do drama apresentado pelo Apocalipse. Não somos apenas espectadores. Ou será que até agora estivemos apenas olhando piedosamente para o mundo?
A história é dividida em etapas.
A apocalíptica é um gênero literário que divide o passado em períodos. O desfecho da história é iminente, e acontece uma colossal perturbação cósmica. É inaugurado um futuro feliz e definitivo.
A mensagem apocalíptica tem um caráter de urgência. O Dia do Senhor está próximo. A literatura apocalíptica também emprega a antedatação, que é a apresentação de um acontecimento histórico já realizado e projetado para o futuro. No momento em que a mensagem apocalíptica é redigida, esse acontecimento já ocorreu. No entanto, esse acontecimento passa a figurar entre os últimos sinais que antecedem o Juízo Final. O objetivo da antedatação é mostrar que a proximidade da era escatológica tornou a situação do tempo presente extremamente grave.
O livro do Apocalipse divide a História em etapas. O objetivo é localizar os leitores dentro do grande plano de Deus. O livro também volta seguidamente ao passado. Estando lá no passado, o livro olha para o futuro e anuncia o que vai acontecer daquele momento em diante. Uma parte desse futuro já pertence ao passado; já aconteceu. Outra parte está acontecendo. E outra parte ainda vai acontecer.
Nos capítulos 5 e 6, o livro descreve o momento da ressurreição de Jesus e de sua entrada gloriosa no céu à direita do Pai. Portanto, vivendo no ano 95, João foi transportado em espírito para o ano 30, para o ano da morte e ressurreição de Jesus. Os leitores do Apocalipse podem se localizar na história e constatar que a caminhada está conforme os planos de Deus! No capítulo 12 temos outro retorno ao passado. João é transportado em espírito para o começo da criação do mundo e para o início da nova criação, iniciada pela ressurreição de Jesus.
A atualidade das exortações do Apocalipse.
João quer prevenir os irmãos: está próxima a grande e grave prova. Já houve perseguições e mártires (2:13 e 6:9). E ainda sobre virá a grande prova (3:10), quando o imperador exigir adoração (13:4.16-17 e 19:20).
O Apocalipse proclama a atualidade do plano de Deus. Os cristãos são colocados diante da urgência de tomar uma posição. O tempo presente é compreendido a partir da perspectiva eterna. A obra de Deus chegou a seu objetivo. Esperamos apenas a sua manifestação.
O Apocalipse nos coloca diante da realidade de que estamos nos últimos tempos. Diante de Jesus Cristo não há neutralidade: ou ele é o Senhor em nossa vida ou estamos em oposição a ele (como os “habitantes da terra” sob o domínio de Satanás).
A Igreja é a comunidade eleita, é amada por Cristo, foi redimida pelo sangue do Cordeiro, é constituída de um povo sacerdotal.
A Igreja participa no destino de Cristo: ela desempenha um testemunho profético, ela também enfrenta oposição neste mundo, ela deve enfrentar um combate e se deparar com o martírio, mas ela também participa já da vitória do Senhor ressuscitado e glorificado.
A Igreja é um Reino Sacerdotal que deve testemunhar – perante o mundo – uma vida em fidelidade a Deus.
A Igreja se encontra no exílio e sofre perseguição. Mas, ela também é preservada por Deus. Ela vive das primícias da ressurreição.
A Igreja se encontra em exílio, mas também em êxodo.
A Igreja vive na perspectiva da glória futura em meio à provação do tempo presente. Ela se prepara para viver da manifestação plena de Jesus Cristo.
O Reinado de Cristo já é uma realidade presente. Os acontecimentos de hoje se encontram sob a perspectiva da eternidade.
Os cristãos pertencem a Cristo. A luz de Deus orienta a caminhada na fé. O momento presente é revestido de uma seriedade de dimensões eternas.
O Apocalipse contém sete exortações. As recomendações são as seguintes:
8. ler e escutar em comunhão (1:3-4);
9. não acrescentar e nem tirar algo do livro (22:18-19);
10. ter discernimento (13:18 e 17:9);
11. ter sede pela verdade (22:17);
12. ouvir o que o Espírito tem a dizer (2:7, 11:17,29; 3:6, 13:22);
13. a mensagem nos conduz à oração (22:17);
14. praticar a palavra ouvida (1:3; 22:7,10).
Nós vamos entender melhor a mensagem do Apocalipse, se a nossa vida for idêntica à dos cristãos das sete comunidades mencionadas nos capítulos 2 e 3. Se sentirmos o quanto é difícil vivenciar o Evangelho em meio à nossa realidade, então vamos ter sensibilidade para entender a luta dos primeiros cristãos.
Também nós nos encontramos em meio à luta. Como está a nossa caminhada?
Nós também pertencemos ao povo de Deus. Quais são nossas dificuldades maiores, as internas ou as externas? Somos participantes do drama apresentado pelo Apocalipse. Não somos apenas espectadores. Ou será que até agora estivemos apenas olhando piedosamente para o mundo?
No ano 100 faleceu o evangelista João em Éfeso.
Em 110 ocorreu o martírio de Inácio em Roma.
Análise do livro
Capítulo 1.
Por intermédio do anjo, Jesus Cristo “notificou ao seu servo João” uma revelação. Em grego, apokálypsis significa “tirar o véu”, “desvelar”, “descobrir”. Antes de passá-la a João, Jesus recebeu a revelação de Deus Pai. O livro procede de Deus.
É proferida a primeira das sete bem-aventuranças do Apocalipse (1:3; 14:13; 16:15; 19:9; 22:7 e 22:14). A bênção se destina àqueles que leem e ouvem esta mensagem. O livro deve ser lido em voz alta perante a igreja (v 3).
A apresentação de Deus (v. 4) lembra sua auto-apresentaçao em Ex 3:14).
O Espírito é apresentado com sua ação multiforme e plena (sete).
Deus ama e liberta dos pecados (v. 5).
Jesus Cristo constitui um reino de sacerdotes.
Aquele que subiu na nuvem (Dn 7:13 e At 1:9-11) agora desce na nuvem (v. 7). Todos o verão e os culpados lamentarão.
João se apresenta em igualdade e irmandade com os leitores (v. 9). O sofrimento e a perseverança o colocam no reinado de Jesus. João estava exilado em Patmos, uma ilha no mar Egeu, localizada a sudoeste de Éfeso. Provavelmente ele foi submetido ao trabalho forçado nas minas de sal.
O primeiro dia da semana é Kyriakós – do Senhor (vers. 10). Observemos At 20:7.
A descrição de Jesus é difícil de visualizar. Cada traço apresenta uma característica de poder e majestade. A figura é humana (Dn 7:13). A túnica é sacerdotal. O cinto expressa realeza (Is 11:5); Os cabelos são do Ancião (Dn 7:9). Os pés de bronze revelam firmeza e estabilidade. A voz potente também foi ouvida por Ezequiel (1:24). Move-se entre as igrejas, que devem brilhar! A espada afiada é a Palavra (Hb 4:12). O conjunto lembra a figura descrita em Dn 10:5-6.
Diante dessa visão imponente de Jesus, João caiu “a seus pés como morto”. Jesus colocou a sua mão direita sobre João e declarou: “Não temas”. Não há necessidade de temor, pois Jesus tem as chaves.
Jesus é o primeiro e último: ele abrange a totalidade. Vejamos Is 44:6 e 48:12. O Abismo (Sheol) é o reino, a Morte é o senhor (Sl 49:15). Com as chaves, o Ressuscitado agora controla esse poder (1 Cor 15:54).
Capítulo 2.
As sete cartas são dirigidas às igrejas da Ásia Menor. Havia uma estrada circular que ligava as principais cidades da província da Ásia. As cidades são mencionadas na ordem estabelecida pela estrada. Três cidades se localizam na estrada costeira: Éfeso, Esmirna e Pérgamo. Quatro cidades se situam na estrada que liga o interior: Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodiceia. A primeira cidade mencionada é Éfeso, a capital da província.
O número sete é intencional e, portanto, simbólico. Havia outras igrejas, na província da Ásia, além das sete mencionadas: Colossos, Hierápolis (Cl 4:13) e Trôade (At 16:8 e 20:5). Concluímos que as sete igrejas são representativas para toda a Igreja de Jesus Cristo.
As sete cartas obedecem a um esquema, dividido em sete partes:
1. Cabeçalho e saudação;
2. é mencionada uma característica do Autor divino;
3. é relatada a situação espiritual da igreja; Jesus conhece a realidade da igreja;
4. a igreja recebe um louvor ou uma repreensão (ou ambos);
5. uma palavra de exortação;
6. uma promessa ao vencedor;
7. o estribilho septiforme: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”.
Carta à igreja em Éfeso (2:1-7).
Éfeso era a capital da província da Ásia. A cidade era um centro industrial e comercial. Era chamada “A Luz da Ásia”. Lá era o centro do culto à deusa Diana; o templo era considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo. Todas as religiões e todas as correntes de pensamento estavam presentes em Éfeso (At 19:23-40).
Os anjos são falíveis e são repreendidos; deve-se tratar dos bispos responsáveis pela pregação na igreja. No AT, um profeta (Ag 1:13) e um sacerdote (Ml 2:7) são designados pelo título de anjo.
Jesus se apresenta: ele conserva os mensageiros na mão direita, e ele caminha entre as igrejas. Ele se movimenta para encorajar, reprovar, socorrer, orientar e louvar.
Jesus conhece as obras, as fadigas e a perseverança da igreja.
O AT conheceu os falsos profetas. O NT conhece os falsos apóstolos. Eles devem ser submetidos à prova (1 Jo 4:1).
Louvor: a igreja não tolera os falsos apóstolos, e suporta perseguições.
Censura: a igreja de Éfeso abandonou o primeiro amor. Ela deve “voltar à prática das primeiras obras”. Cristo pode remover o candeeiro, e a igreja ficará sem luz.
Os nicolaítas se pervertem na conduta. São gnósticos libertinos. Acreditavam que o pecado não contamina a alma. O importante é ter o conhecimento (a gnose). Também era adeptos do culto ao imperador, tentando conciliar fé cristã com idolatria.
A árvore da vida proporciona frutos que vencem a morte (Gn 2:9; 3:22-24; Ez 28:13).
Carta à igreja em Esmirna (2:8-11).
A cidade de Esmirna estava localizada a 65 km ao norte de Éfeso. Era conhecida como “A Beleza da Ásia”. Foi reconstruída duas vezes. A cidade era um centro do culto ao imperador. Destacava-se juntamente com Éfeso e Pérgamo. A igreja de Esmirna era perseguida pelos judeus.
Jesus se apresenta: ele esteve morto, mas agora está vivo.
Jesus conhece a tribulação, a pobreza da igreja e a perseguição dos falsos judeus.
A sinagoga de Satanás é constituída de judeus que perseguem a igreja. A perseguição continuou. Mais tarde, em 155, o bispo Policarpo foi denunciado pelos judeus como inimigo da religião do Estado. Policarpo foi condenado à morte na fogueira. Os próprios judeus ajudaram a colher lenha para o fogo. Os judeus preferiam adorar o imperador do que Jesus Cristo.
A igreja deve se preparar para a perseguição. A tribulação será de “dez dias”. O número dez representa os reinos deste mundo, a humanidade (Dn 7:7). Significa que se trata de um período limitado.
Por enquanto, Satanás está conseguindo vitórias aparentes: a primeira morte. Mas o vencedor – que se mantém fiel – não sofrerá a segunda morte, que é a perda definitiva do destino à imortalidade (Ap 20:14 e 21:8).
Aquele que é fiel recebe a coroa da vida: um prêmio esportivo (1 Co 9:25 e Tg 1:12).
Carta à igreja em Pérgamo (2:12-17).
Pérgamo era uma cidade erigida sobre um monte, e situava-se a 350 metros de altitude. A cidade era muito bonita. Havia muitos edifícios e templos em homenagem a deuses pagãos, destacando-se Zeus e Asclépio. Havia uma diversidade de religiões, e a cidade se destacava no culto ao imperador. Em 29 aC já se cultuava Roma e o Imperador Augusto.
Jesus se apresenta: ele tem a espada afiada de dois gumes – a Palavra.
A cidade de Pérgamo era famosa pelo culto a Esculápio (deus da medicina) e pelo culto a Roma e ao imperador. O templo dedicado ao imperador recebe o nome de “trono de Satanás”. Trata-se de culto satânico. Antipas foi martirizado.
Louvor: conservou o nome sem renegar, mesmo quando Antipas foi assassinado.
Censura: a igreja tolera os que professam a doutrina de Balaão: um grupo que admitia a participação em banquetes idolátricos. Participavam também no culto ao imperador. A igreja também tolera os nicolaítas, que são gnósticos libertinos e coniventes com a idolatria. Em Éfeso, os nicolaítas não conseguiram se estabelecer. Em Pérgamo são tolerados. A igreja também se defrontava com problemas internos. Se o responsável não tomar providências, Jesus virá com sua Palavra cortante.
O vencedor fiel receberá o maná escondido (no céu): comida milagrosa da imortalidade (Jo 6:47-57). É uma alusão à Ceia do Senhor. Receberá também a pedra branca. Em Pérgamo eram realizados os jogos em honra ao deus Asclépio. O vencedor recebia uma pedra branca com o nome desse deus inscrito nela. Agora, o vencedor receberá uma pedrinha branca com um nome novo: o de Cristo (3:12; 14:1 e 19:12-23).
Carta à igreja em Tiatira (2:18-29).
Tiatira era a menos importante das sete cidades. E recebeu a carta mais extensa. A cidade se destacava pelo seu comércio, pelas manufaturas e tinturarias de tecidos de lã. Lídia, vendedora de púrpura, era da cidade de Tiatira (At 16:14-15).
Jesus se apresenta: tem olhos penetrantes e pés firmes e estáveis (de “bronze polido”).
Jesus conhece as boas obras, o amor, a fé, o serviço e a perseverança da igreja, que está progredindo. As “últimas obras” estavam se tornando “mais numerosas do que as primeiras”.
Censura: a igreja tolera Jezabel: uma profetisa que induzia a participar de banquetes idolátricos. Os amantes são os ídolos. Fornicar é praticar o culto idolátrico, do qual o banquete faz parte. A missão profética podia ser exercida por mulheres, mas neste caso tratava-se de uma falsa profetisa (que lembrava a princesa fenícia Jezabel). Vejamos Dt 13.
A carta convida à conversão. Deus concede tempo para que se arrependam. O leito aponta para uma enfermidade grave. Os filhos são os seguidores e serão aniquilados.
As profundezas de Satanás são doutrinas esotéricas. Os participantes do movimento queriam conhecer e reconhecer as profundezas de Satanás, para então se tornarem independentes em relação ao mal. Desse modo, queriam reduzir Satanás à impotência.
Aqueles que se mantiveram fiéis devem conservar o que tem. Cristo dará a cada um segundo as suas obras (Ap 22:12). A carta insiste muito numa conduta correta.
O vencedor receberá a “estrela da manhã” – que é o “sol nascente” (2 Pd 1:19) – o próprio Cristo (1 Jo 5:12). A “brilhante estrela da manhã” (Ap 22:16) é a mais brilhante do céu e simboliza a glória de Cristo. O vencedor também receberá o “cetro de ferro”, que é o bastão usado pelo pastor. Era feito de madeira extremamente rija e possuía uma ponta de ferro. Destinava-se a estocar as feras, protegendo o rebanho. o cetro de ferro tornou-se o símbolo do reinado do Messias.
Capítulo 3.
Carta à igreja em Sardes (3:1-6).
Sardes era uma cidade edificada sobre uma região montanhosa a 500 m de altitude. Apesar da localização privilegiada, a cidade havia sido invadida por duas vezes: em 549 aC, por Ciro, em 218 aC, por Antíoco o Grande. As sentinelas descuidaram a vigilância. No ano 17, a cidade foi abalada por um terremoto. O imperador Tibério isentou a cidade de seus impostos pelo período de cinco anos, e ainda lhe enviou um auxílio em dinheiro. Sardes localizava-se a sudeste de Tiatira e havia sido a capital da Lídia. A deusa padroeira de Sardes era Cibele. A cidade chegou a ser uma das menos importantes da província da Ásia. A igreja acompanhava a decadência de Sardes.
Jesus se apresenta: ele tem o Espírito na plenitude e tem as igrejas em sua totalidade.
Jesus conhece as obras realizadas na igreja. O responsável é admoestado, pois a igreja tem aparência de viva, mas está morta. Ainda há um resto para ser vigiado e fortalecido. Os que dormem devem vigiar. Os que estão morrendo devem reviver. Somente a igreja de Laodiceia se encontra em situação pior do que Sardes.
Se não houver vigilância, Jesus virá como ladrão (Mt 24:43-44). A vigilância já havia faltado à cidade por duas vezes.
A igreja é exortada a recordar os seus melhores dias do passado. Essa mesma exortação também já havia sido dirigida à igreja de Éfeso (2:5).
O vencedor se vestirá de branco, que é um sinal de pureza e glória. Seu nome permanecerá no livro da vida, e será confessado diante do Pai e dos anjos (Mt 10:32). A vestimenta branca está em contraste com as roupas coloridas, produzidas pela indústria têxtil de Sardes.
Nas três primeiras cartas, a exortação para ouvir precede o anúncio da recompensa pela vitória. Nas quatro últimas cartas, a exortação vem no final.
Carta à igreja em Filadélfia (3:7-13).
O nome Filadélfia significa “amor aos irmãos” ou “amor fraterno”. Era uma cidade pequena. A igreja também era pequena. No ano 17 houve um grande terremoto na região, que destruiu Filadélfia e mais 11 cidades. Muitos habitantes se mudaram para fora da cidade. Os que permaneceram, morava em casas reconstruídas de modo precário, com medo de um outro terremoto. Mesmo sendo pequena, a cidade se destaca pelo seu desenvolvimento cultural. A localização da cidade era favorável: situava-se na rota de acesso à região serrana do centro da Ásia Menor. A cidade havia sido fundada para impulsionar a civilização grega no interior da província.
Jesus é o Santo (Is 1:4; 37:23; Os 11:9) e o Verdadeiro (Ap 6:10); ele é autêntico e fiel. Ele tem a “chave de Davi” (Is 22:22). A chave é o símbolo do poder.
Jesus conhece a igreja e lhe abriu uma porta.
A igreja tem pouca força, mas guardou a Palavra.
A Sinagoga de Satanás são os que se dizem judeus sem o ser. Eles terão de reconhecer que a igreja é amada por Jesus. Vejamos Is 60:14. Assim como a igreja de Esmirna, também a de Filadélfia havia sofrido a perseguição dos judeus. São as duas únicas igrejas que não recebem censura.
A igreja será preservada na hora da provação que sobrevirá ao mundo inteiro. Cristo vem sem demora.
A igreja deve conservar o que tem, para preservar a coroa. Das sete cartas, a de Filadélfia é a mais positiva. O vencedor se tornará uma coluna no templo. Ser coluna no santuário de Deus é uma promessa de segurança, que certamente é bem recebida por pessoas com medo de um outro terremoto. Três nomes serão gravados nele: o de Deus, o da nova Jerusalém, o de Jesus Cristo. O nome define o ser e fixa o destino. No caso de Abraão, o nome estabelece a vocação. O nome de Deus, da nova Jerusalém e do Verbo de Deus (19:13) são escritos sobre o vencedor. No caso específico de Filadélfia, a cidade havia escolhido um nome para si: “Novo César”. Os cristãos de Filadélfia não são consagrados ao imperador divinizado, mas a Jesus Cristo!
Carta à igreja em Laodiceia (3:14-22).
Laodiceia era uma cidade próspera. Localizava-se no ponto de encontro de três rodovias. Situava-se a 160 km de Éfeso e a 80 km de Filadélfia. A indústria da cidade ficou famosa pela produção de tecido de lã tingido de preto e pela produção de uma pomada para os olhos, produzida pela Academia Médica. Laodiceia também era um centro bancário. Cícero recomendava que o câmbio do financeiro fosse efetuado em Laodiceia. No ano 62, Laodiceia foi abalada por um forte terremoto. O historiador Tácito narra que a cidade se reergueu sem a ajuda oferecida por Roma.
A igreja em Laodiceia foi fundada por Epafras, companheiro de Paulo (Cl 1:7 e 2:1).
Jesus é o Amém (Is 65:16 e 2 Cor 1:20). Isto significa que Jesus é categórico e definitivo. Nele não há ambiguidade de sim e não.
Jesus também é a testemunha fidedigna e verdadeira (Ap 1:5).
E Jesus é o princípio da criação (Pv 8:22-23 e Cl 1:15.18).
Jesus conhece as obras da igreja.
A igreja em Laodiceia é morna. E a poucos quilômetros dali, irmãos eram mortos por causa de sua fé (2:10.13; 3:10; 6:9 e 7:14). O Amém categórico se opõe à confusão entre paganismo e fé cristã (2 Co 6:14-16). Esse sincretismo provoca a náusea de Deus (Jr 14:19). Observemos também Js 24:15 e 1 Rs 18:21.
A igreja é chamada à conversão. O primeiro passo é descobrir e reconhecer a verdadeira situação. a Igreja se considera rica, mas precisa reconhecer que sua situação é de desgraçado, miserável, pobre, cego e nu.
A igreja não é censurada por ter demais; ela é aconselhada a comprar (Is 55:1). A igreja deve adquirir ouro purificado, vestes brancas e colírio para enxergar. A verdadeira riqueza deve ser adquirida junto ao Senhor. Apesar da renomada indústria têxtil, os cristãos de Laodiceia andam nus. A ironia se completa com conselho de adquirir colírio – numa cidade onde há a famosa pomada para os olhos.
Deus corrige os que ele ama (Pv 3:12 e Hb 12:6). Jesus bate à porta. A decisão de abrir cabe a cada um que ouvir a batida na porta.
Promessas ao vencedor: participar do banquete e sentar no trono.
Capítulos 4 e 5 – Liturgia celeste.
As liturgias tradicionais celebram acontecimentos do passado: Êxodo, Páscoa, volta do Exílio. Esta liturgia comemora eventos futuros e próximos – com hinos e gestos, mas sem o sacrifício, pois este já foi realizado.
A liturgia celeste é o modelo da terrestre. É a realizada a leitura de um livro.
Dois protagonistas:
- o Soberano eterno, entronizado e Criador do universo;
- o Cordeiro – o nome de Jesus mais freqüente no livro.
Três grupos:
- vinte e quatro anciãos – adorando e cantando. Doze anciãos do AT e doze do NT – representam os dois povos unidos e pacificados;
- quatro seres viventes. Quatro é o número de totalidade cósmica. A tradição os identificou com os quatro evangelistas. Sua função é sustentar o estrado do trono e cantar hinos;
- milhares e milhões de anjos – em serviço permanente na corte celestes.
Gestos: adoração, deposição das coroas, ofertas de incenso ou perfumes (que são as orações). O sacrifício do Cordeiro já foi realizado (Hb 13:15).
Os vinte e quatro anciãos, os quatro seres viventes, os anjos e todas as criaturas cantam a santidade de Deus, ser agir criador, seu poder e sua majestade.
A visão é carregada de efeitos luminosos e de impactos de teofania.
O vidente tem de subir ao céu, onde acontece a revelação dos acontecimentos próximos. Deus aparece entronizado.
As pedras preciosas são conhecidas no AT. Seu significado é a beleza luminosa.
O fogo é o elemento da divindade.
O mar cristalino é a porção de águas sobre o firmamento (Gn 1:6-8).
Os seres viventes têm seis asas: são serafins (Is 1:6). Os muitos olhos são uma referência às estrelas do céu. Observemos Ez 1:18.
Capítulo 5.
O rolo estava escrito nos dois lados. Os setes selos garantem totalmente o segredo do conteúdo. Enquanto está enrolado e selado, o rolo não pode ser lido em nenhum dos lados.
Nenhuma criatura está em condições de desvelar os segredos de Deus.
João chorava, mas um ancião declarou que o Leão de Judá, o rebento de Davi é digno (autorizado) de abrir o rolo de sete selos. O título Leão provém das bênçãos de Jacó (Gn 49:9-10). Rebento de Davi é um título messiânico (Is 11:1).
Jesus recebe dois títulos: o Cordeiro imolado e o Leão de Judá. É assim que Deus se revela: o poderoso e humilde.
O rolo fechado com sete selos é o AT. Somente Jesus Cristo glorificado pode interpretá-lo.
Os sete chifres significam a plenitude da autoridade (Sl 75).
Os setes olhos (Zc 4:1) indicam que Jesus observa e perscruta.
A cítara é um instrumento musical comum no AT.
O cântico exalta a obra redentora. Observemos Ex 19:6. O alcance é universal. A declaração de que “reinarão na terra” é animadora para uma minoria perseguida. Todas as criaturas a uma só voz. A divisão é quadripartida: céu, terra, sob a terra (mundo dos mortos – Fl 2:10 e Sl 22:30) e no mar (peixes e navios).
Capítulos 6:1 – 8:5 – Os sete selos e os quatro cavaleiros.
A visão dos quatro cavaleiros tem seu paralelo no profeta Zacarias (1:8 e 6:1-8). Os quatro cavaleiros têm a tarefa de inspecionar e executar o castigo.
No Apocalipse, os cavaleiros aplicam um castigo limitado.
O Cordeiro abriu o primeiro selo. O cavalo branco é da cor própria do mundo celeste. Para entendermos o primeiro cavaleiro, precisarmos dar atenção ao paralelismo entre os quatro mencionados. O segundo simboliza a guerra; o terceiro, a fome e o quarto, a peste. Logo, o primeiro cavaleiro também deve ser um flagelo. Ele vem armado de arco (Ez 5:16-17; Sl 7:13 e 64:8). Tem na cabeça uma coroa e é vencedor. Pensou-se que o cavaleiro branco representasse os partos, os vizinhos orientais do império romano, que despontaram no ano 62. Sabiam manejar muito bem o arco. Eram temidos e a mobilização dos partos poderia debilitar o império romano. Mas, a cor branca, a vitória e o paralelismo com o cavaleiro de Ap 19:11-21 contribuíram para que alguns exegetas vissem no cavaleiro branco o próprio Cristo. No entanto, não há possibilidade de se harmonizar este cavaleiro branco com o cavaleiro descrito em 19:11-16. Cristo jamais traria a guerra, a fome e a peste. E sua arma não é o arco, mas a espada (1:16; 2:12.16; 19:15.21). Observemos que no AT o arco é uma arma para a execução do juízo (Dt 32:23.42; Jó 6:4; 34:6: Sl 38:2; Lm 2:4; 3:12 e Hc 3:9-14). Se observarmos bem o cavaleiro branco e o cavaleiro apresentado em 19:11-16, constataremos um antagonismo. O Apocalipse apresenta figuras em duplicidade: a mulher e a prostituta, a nova Jerusalém e a Babilônia, o Cordeiro e a besta. Portanto, em antagonismo a Cristo, o primeiro cavaleiro é o Anticristo. Ele é descrito com a cor branca, porque ele ofusca e engana as pessoas. O inimigo de Deus vem com um arco na mão (Ez 39). O Anticristo desponta logo depois de o Cordeiro ter sido considerado digno de abrir o livro selado. Seu objetivo é ofuscar e deslumbrar as pessoas. Observemos como Jesus falou dos falsos messias (Mt 24:4-7). O Cordeiro abriu o primeiro selo e um dos quatro seres viventes chamou o cavaleiro branco, ordenando-lhe: Vem! A manifestação de Cristo provoca o surgimento do Anticristo. Os demais cavaleiros (o vermelho, o preto e o pálido esverdeado) são uma decorrência do sedutor branco. Observemos Mt 24:24. A partir de então, o poder satânico passa a atuar sem máscara. Cristo abre o primeiro selo e um dos quatro seres viventes ordena que o primeiro cavaleiro ande, porque chegou o momento de tudo se tornar manifesto.
Com a abertura do segundo selo, saiu um cavalo vermelho com a incumbência de tirar a paz da terra, para que os homens se matassem. A falta de paz e a espada (Is 27:1) são uma referência à guerra. A cor vermelha lembra o derramamento de sangue. O grande dragão também é de cor vermelha (12:3). Os povos e as nações passam a se matar mutuamente (Ez 38:21; 2 Cr 15:6; Zc 11:9 e 14:3).
Quando o terceiro selo foi aberto, saiu um cavalo preto, uma alusão clara à fome que sucede à guerra. O cavaleiro trouxe uma balança na mão, mostrando que os alimentos estão racionados (Ez 4:10-11.16). Os preços estão majorados (2 Rs 6:25-26). O horror da fome é muitas vezes pior do que o da guerra (Lm 4:9). O ordenado de um trabalhador cobria apenas a despesa de sua alimentação. Pesquisas mostram que os preços foram reajustados de oito a doze vezes. Trigo, cevada, óleo e vinho são mencionados em Jl 1:10-11. Somente pessoas extremamente pobres se alimentavam com cevada, usada para tratar cavalos e burros. Em Ap 18:13 vemos que vinho e azeite são artigos de luxo. Esses dois produtos não são danificados! Enquanto os pobres passam fome, os ricos não precisam abdicar de seu luxo! A fome é consequência da guerra e está diretamente ligada ao egoísmo, à corrupção e aos desníveis sociais.
A abertura do quarto selo fez surgir o quarto cavaleiro, que se chama morte; é a peste – o agente do Hades (Jó 18:13). A cor pálida esverdeada lembra um cadáver. Morte e Hades (o mundo dos mortos) andam juntos (Ap 1:18 e 20:13; observemos também Os 13:14 e 1 Cor 15:55). As quatro pragas clássicas já são mencionadas em Ez 14:21 e 5:17. O castigo é limitado: ainda se consegue trigo, embora caro; o óleo e o vinho não são prejudicados; a mortandade atinge a quarta parte dos habitantes.
Portanto, o Anticristo é forçado a atuar abertamente, provocando uma reação em cadeia: guerra, fome e peste. A humanidade acaba encontrando as consequências de seu próprio pecado, que se volta contra o pecador e o “encontra” (Nm 32:23).
Com a abertura do quinto selo, são vistas as almas dos mártires. É uma maneira de dizer que estão vivos. São os espíritos dos que morreram por causa da Palavra e do testemunho. Eles não se encontram no Sheol, mas sob o altar, no templo de Deus (Sl 27:5). Eles pedem que se lhes faça justiça. Observemos Zc 1:12; Sl 79:10 e Dt 32:43. Cada um recebeu uma veste branca, que simboliza a salvação já concedida a eles. Devem repousar um pouco. Mas, a era dos mártires ainda não terminou (Mt 23:32).
Com a abertura do sexto selo acontece uma perturbação cósmica, que provoca o terror dos homens. A breve escatologia tem paralelos em Is 34:4; Ez 32:7; Is 2:10.19; Os 10:8 e Sf 1:14-15.
Sete categorias representam a totalidade da humanidade: os reis, os nobres, os comandantes, os ricos, os poderosos, os escravos e os homens livres. As pessoas se esconderam em grutas e cavernas, preferindo a morte (Os 10:8). É o dia da ira (Sf 1:14).
A abertura do sétimo selo é adiada. O capítulo 7 registra uma pausa de proteção.
Capítulo 7.
No cap. 7 há um intervalo entre o sexto e o sétimo selo.
Há uma mudança de cena. Em Ap 4:1 o olhar se dirige para o céu; no cap. 7, ele é direcionado para a terra.
O cap. 7 se ocupa com a Igreja de Cristo.
Os quatro cantos da terra são os pontos de origem dos ventos do juízo (Jr 49:36; Dn 7:2; Zc 6:5). O número quatro simboliza a totalidade.
Os quatro anjos controlam os quatro ventos destruidores. Os poderes destruidores estão sob controle. Nem as árvores são afetadas, pois é nelas que se percebe o efeito dos ventos.
Um anjo se destaca dos demais e sobe do nascente do sol. Ele traz o selo do Deus vivo. Como portador de salvação, sua missão prevalece sobre a dos outros quatro. É uma demonstração da fidelidade de Deus em meio à aflição. Os que foram selados por Deus passam a ser sua propriedade. Nenhum dano acontecerá antes de os selados receberem a marca de Deus na fronte. A partir do cap. 13 observamos que também há os selados pela besta.
Os marcados com o selo são 144 mil. O número 12 é uma referência às tribos de Israel. O quadrado de 12 expressa a plenitude ideal do povo de Deus. O número mil se refere a uma grande quantidade (Jó 9:3; Sl 84:10; Is 60:22 e Ap 5:11). Portanto, trata-se de uma multiplicação elevada ao máximo. O número de selados abrange uma quantidade incalculável.
As promessas de Deus se tornaram realidade na Igreja de Jesus Cristo. Portanto, a Igreja é o “Israel de Deus” (Gl 6:16). Jesus Cristo atrai para si judeus e pagãos (Jo 10:16 e 12:32). Os pagãos foram enxertados em Israel (Rm 11:24).
A tribo de Judá é mencionada por primeiro, apesar de não ser primogênito.
A tribo de Dã não é mencionada. Certamente é porque ela rompeu muitas alianças. Sua infidelidade é mencionada em Jz 18. Uma tradição judaica (lembrada por Irineu) declara que a partir de Dã surgirá o Anticristo.
Não devemos nos ater a uma grandeza histórica e política, mas espiritual. Deus vê o seu povo em sua totalidade; ele conhece os que lhe pertencem.
A cena descrita nos vers. 9-17 é idêntica à do cap. 5. O texto dirige o olhar para dentro da realidade da ressurreição. É empregada uma linguagem de figuras, provocando um impacto visual.
Uma “grande multidão” se encontra “em pé diante do trono e diante do Cordeiro”. A grande multidão procede “de todas as nações, tribos, povos e línguas”, enfim, de toda a humanidade. A “grande multidão” é a Igreja de Jesus Cristo em sua plenitude.
O branco é a cor da vitória e as palmas são o prêmio para os vencedores.
Inicialmente, a humanidade toda entoa um cântico. A seguir, os anjos, os 24 anciãos e os 4 seres viventes respondem. A forma dialogada pertence ao estilo apocalíptico. Há fortes indícios de que os presbíteros da igreja eram tratados de “meu senhor”.
A “grande tribulação” se refere à grande aflição do período final que antecede a parusia de Jesus (Dn 12:1 e Mc 13:19).
Eles são vencedores porque lavaram e branquearam suas vestimentas por intermédio do “sangue do Cordeiro”. É uma declaração que transcende o formalismo da lógica. Os que pertencem a Cristo enfrentarão a “grande tribulação” na condição de “selados”, ou seja, como propriedade de Deus.
Enquanto estas palavras eram redigidas, a Igreja se encontrava em meio a uma brutal perseguição. Mas, o texto nos transmite que tudo já foi superado. A grande multidão está retornando da grande tribulação. Quando o céu se abre, então todo o sofrimento é superado. Também nós devemos dirigir o nosso olhar para além da tribulação. Com base nas promessas de Deus, a fé vence a tribulação, usando como arma a esperança!
O vidente de Patmos está solitário e, ao mesmo tempo, unido a toda a Igreja de Jesus Cristo. Na vivência da fé, a brutal realidade deixa de impor limites, e a celebração celestial se abre. João torna-se testemunha do culto celestial. Também nossas celebrações de hoje devem ser uma participação daquilo que há de vir.
A nossa vitória foi alcançada por Jesus Cristo. É isto que une os redimidos de Deus: permanecer “diante do trono de Deus” e poder servi-lo “de dia e de noite”. Não se trata de uma referência cronológica (monótona), mas de uma declaração de que a nossa comunhão com Deus será permanente e imperturbável. Os redimidos serão abrigados na “tenda” de Deus. É uma alusão à festa dos Tabernáculos, quando o povo entrava em cortejo no Templo agitando palmas e cantando o Sl 118 (como observamos no v. 9). Quando o Logos se tornou carne, ele armou sua tenda entre nós (Jo 1:14).
Não haverá mais privações, nem fome, nem sede e nem calor.
E então, “o Cordeiro ... os apascentará”. O Cordeiro que foi imolado (5:6) exerce o governo com sua maneira peculiar: Ele conduzirá o seu povo com o seu amor de doação. O mesmo amor demonstrado na cruz. Sendo o Cordeiro o nosso pastor, o Reino eterno será repleto de amor.
Fontes de água viva proporcionam água corrente e dinâmica. Não se trata de água de cisterna, parada e sujeita à estagnação e à deterioração. A vida junto a Deus é ativa, fluente e dinâmica.
E Deus saberá nos confortar no final de toda luta e aflição. Vejamos Is 25:8; 66:13 e Ap 21:4.
Capítulo 8:1-5.
O sétimo selo cumpre três funções:
- o incenso é acrescentado ao perfume das orações (5:8) de todos os santos;
- o anjo arremessa à terra o incensário cheio de brasas do altar (Ez 10:2);
- é ligado o setenário dos selos ao setenário das trombetas.
O fogo gera aroma, mas também causa incêndio. Tirado do lugar sagrado, o fogo é destruidor (Ez 9-10 e Nm 17).
A catástrofe dura meia hora. O céu (Deus) se cala. Ele deixa acontecer. É um silêncio inquietante. A tradição judaica se ocupou com o silêncio primordial, que existia antes de ser criado o universo. Deus falou para dentro desse proto-silêncio. Deus rompeu o silêncio primordial com sua Palavra. O Logos divino participou na criação (Cl 1:15-20). Enquanto Deus falar, este mundo continuará subsistindo. Quando Deus deixar de falar, o universo voltará ao silêncio primordial; retornará ao caos, de onde a Palavra de Deus o tirou. Por isso, esse silêncio é inquietante.
Textos como Nm 10:1-10 e Js 6 mencionam a presença das trombetas em momentos decisivos da história do povo de Deus. Elas também são mencionadas no contexto do dia do Senhor (Jl 2:1 e Sl 1:16).
Além dos sete anjos, outro se posicionou junto ao altar (provavelmente do incenso - Ex 30:1).
Capítulos 8:6 - 11:19 – As sete trombetas.
Com a abertura dos selos. a Morte e o Hades exerceram poder sobre um quarto da terra (6:8). Com as trombetas aumenta o terror apocalíptico, pois é atingido um terço da terra, do mar, dos rios, das fontes e das estrelas. Nossa tarefa não é quantificar um quarto (atingido pela abertura dos selos) ou um terço (com o toque das trombetas). O Apocalipse quer nos transmitir que houve um crescimento: a ação dos flagelos aumentou de um quarto para um terço. Cresce o terror. Mas, a devastação ainda não é total.
A exemplo da série de selos, também as trombetas são acompanhadas de um primeiro quarteto. Agora são atingidos a terra, o mar, os rios e as estrelas. Há alguma semelhança com as pragas do Egito e outros textos escatológicos do AT. As pragas vão crescendo e causando impacto: granizo, desmorona uma montanha, precipita-se uma estrela, diminui a luz do sol, da lua e das estrelas. Há uma semelhança com as pragas do Egito. Agora, os flagelos têm uma amplitude cósmica. As catástrofes fizeram com que o universo saísse de sua ordem. Fica a pergunta: as catástrofes da natureza levam as pessoas uma conversão ou endurecimento do coração (como aconteceu com faraó)?
O primeiro toque de trombeta desencadeou raios de fogo entre o granizo (Ez 9:23-25; Sl 18:12-13), misturados com sangue. Parte da vegetação é destruída.
Com o segundo toque de trombeta caiu no mar uma montanha de fogo (Jr 51:25 e Sl 46:3). A cena lembra a erupção de um vulcão. As montanhas expressam a estabilidade. Parte da água se transforma em sangue (Ex 7:20-21).
Com o terceiro toque de trombeta, a estrela de nome Absinto caiu sobre um terço dos rios e mananciais. A água amarga se tornou venenosa.
Com o quarto toque de trombeta, o sol, a lua e as estrelas são atingidos. A luminosidade diminuiu em um terço – de dia e de noite. As trevas são comuns em textos escatológicos (Is 13:10; Ez 32:7; Ex 10:21). O alerta da águia é o aviso que vem do alto.
Com o quinto toque de trombeta acontece a queda de Satanás. A estrela, que caiu do céu, abriu o poço do Abismo. Saiu fumaça que escureceu o sol e o ar. Da fumaça saíram gafanhotos, que se assemelham a cavalos com caudas como de escorpião. O profeta Joel descreve duas pragas de gafanhotos. Em uma das versões, o avanço dos insetos se assemelha a esquadrões de cavalaria (Jl 2:1-2).
A estrela é um anjo caído do céu (Is 14:12 e Lc 10:18). Desce para abrir o Abismo. A fumaça lembra a de Sodoma (Gn 19:28; Is 34:9-10). Está presente no juízo. Os gafanhotos produzem um tormento maior do que a morte (Jó 3:21).
Em Is 28:15 é mencionado um pacto com morte, para se livrar dela. Aqui, acontece o contrário: os homens a desejarão, mas ela fugirá deles. Há situações em que é melhor morrer do que continuar a viver (Jr 8:3 e Jó 3:21).
Os gafanhotos têm aspecto humano. Isto significa que são seres inteligentes. A coroa expressa autoridade. A cabeleira é um símbolo de excelência e nobreza (2 Sm 14:26). Estes gafanhotos têm um rei, contrariando Pv 30:27. Em hebraico, o nome do rei é Abadom, que significa perdição, destruição. Este título chega a ser sinônimo de Sheol (Jó 26:6). Em grego o nome é Apolíom, que significa destruidor. A transposição do hebraico para o grego tem uma intenção: Apolíom (Destruidor) faz pensar em Apolo, o deus grego.
Abismo e Inferno são sinônimos em Pv 15:11 e 27:30. Morte a abismo aparecem personificados em Jó 28:22.
Com o sexto toque de trombeta, uma voz saiu do altar do holocausto (Ex 27:2 e 30:2-3). A voz procede do local em que são ouvidas as orações dos santos (8:3-4). Com a sexta trombeta, a ilustração é aterradora, a ponto de os toques anteriores serem apenas um prelúdio. Agora não é mais possível escapar da destruição. Quatro anjos acorrentados serão soltos. São anjos destinados a castigar. Eles promovem castigo e desgraça. Os anjos dão ordens a um exército poderoso. O rio Eufrates é a última fronteira da Terra Prometida (Gn 15:18 e Dt 1:7). Esta referência lembra a procedência dos partos, um povo muito temido. Procedendo do Oriente, os partos eram considerados a única possibilidade de abalar o gigantesco império romano.
O momento exato é determinado por Deus (vers. 15). Observemos Sl 75:3. A mobilização do exército é idêntica à descrição em Ez 38-39. Cavalo e cavaleiro constituem uma unidade. A força dos cavalos está na boca (Sl 11:6; Is 34:9-10) e na cauda. As caudas parecem serpentes com cabeças. Monstros cospem fogo e fumaça. Observemos o Leviatã em Jó 41:11-13. Apesar do tormento, os sobreviventes não se arrependeram; continuaram seguindo demônios e adorando ídolos. Observemos Am 4:6-11; Sl 115:4-7 e 135:15-17. Aqueles que adoram os ídolos, acabam se bloqueando para o verdadeiro Deus. Incredulidade e desobediência caminham juntas. Os homens continuaram transgredindo os mandamentos de Deus.
O relato do pequeno rolo e das duas testemunhas (10:1 - 11:14) interrompe os toques de trombeta. Quando, enfim, é tocada a sétima e última trombeta, então é chegada a hora do julgamento e do reinado definitivo de Deus.
Capítulo 10.
Um anjo poderoso desceu do céu. Ele é extraordinário por seus atributos visuais. A nuvem e as colunas de fogo lembram a caminhada do povo no deserto. O arco-íris lembra a aliança de Deus com a humanidade, após o dilúvio (Gn 9:12-13).
O anjo tinha na mão um livrinho aberto.
O rolo com sete selos (Ap 5) é o AT, que só pode ser interpretado por Jesus Cristo glorificado.
Este livrinho, que o anjo traz na mão, não está selado, e tem como conteúdo a etapa final que precede o julgamento final.
Em Ez 2:8-9 e 3:1-3 é mencionado um livro. O sabor é doce como a Palavra de Deus (Jr 15:16), mas é amargo pelas ameaças que contém.
O anjo apoiou o pé direito no mar e o esquerdo em terra firme. Significa domínio sobre esses dois âmbitos. Seu grito soou como um rugido de leão, o que é uma referência à atividade profética (Am 3:8).
Falaram então os sete trovões (Sl 2:9); sua voz é articulada (Ex 20:18-19 e Jo 12:29). João quis escrever, mas não deve registrar e nem revelar o conteúdo antes que chegue o momento do cumprimento (Dn 8:26).
O anjo volta a se manifestar e pronuncia o juramento mais solene (Dt 32:40; Gn 14:22; Dn 12:7). Anuncia que o fim é iminente (Ez 7). Quando o sétimo anjo tocar a trombeta, então se cumprirá o plano secreto de Deus, já anunciado aos profetas.
A voz celeste ordenou que João pegasse o livrinho. O anjo ordenou que João comesse o livrinho, que se tornou doce na boca e amargo no estômago. João engoliu o livro e recebeu a incumbência de profetizar (Ez 3:1-11). Profetizar é dar testemunho da parte de Deus perante povos e reis (Jr 1:4.10). E o testemunho cristão torna-se profecia (Mc 13:11).
Capítulo 11.
João recebeu a incumbência de medir o templo de Deus, o altar e os que nele adoram. Há um espaço seguro para os adoradores de Deus (1 Rs 19:18; Sl 27:5 e 61:5).
O átrio externo é pisoteado pelos pagãos durante três anos e meio: a metade de um setenário.
O espaço e o tempo são medidos: estão sob o controle de Deus.
As duas testemunhas têm as características de Moisés (Ex 7:17) e Elias (1 Rs 17:1). A Lei exige duas testemunhas pelos menos (Dt 19:15).
O tempo do ministério dos dois é a metade de sete anos (Dn 7:25 e 12:7). São profetas, mas funções também são de âmbito real e sacerdotal, assim como as duas oliveiras e os dois candelabros (Zc 4:3.11-14). A palavra profética é como fogo que consome os rebeldes (Jr 23:29; Lc 9:54). As duas testemunhas estarão vestidas de pano de saco, um gesto de luto e penitência (Jn 3:6-8). Seu poder é maior do que o de Moisés e Elias.
Quando os profetas concluírem seu ministério, a besta que sobe do Abismo os derrotará. A cidade onde os dois profetas foram mortos, e onde o Senhor foi crucificado, recebe o nome de Sodoma (a depravada – Is 1:10) e Egito (o opressor).
Seus cadáveres jazem insepultos durante meia semana (Is 14:19). Os habitantes da terra festejam a aparente derrota dos dois profetas.
Depois de três dias e meio, os dois ressuscitam. Observemos Ez 37:10. Sua ascensão assemelha-se à de Elias (2 Rs 2:11; Dn 7:13). A ressurreição e ascensão dos profetas provoca o terror dos culpados. Há um terremoto (Ez 38:19; Is 24:18-20) e a morte de sete mil pessoas. Os restantes confessaram a glória do Deus do céu (Ez 39:21; Sl 102:16).
Dois ais se passaram. Falta um.
A sétima trombeta.
Com o toque da sétima trombeta chega o fim. É estabelecido o reinado de Deus e acontece o julgamento final.
Os vinte e quatro anciãos se prostraram e adoraram a Deus, entoando gratidão.
Os pagãos se enfureceram. O AT menciona uma coalizão internacional (Sl 2:2; Ez 38; Is 8:9-10), que é derrotada (Sl 48:5-6 e 76:6-7). Acontece o julgamento – com prêmio e castigo (Is 65:8-16).
Observemos a ordem na escatologia de Is 24-27: terremoto (24:18-20), julgamento e reinado (24:21-23).
Os santos são os cristãos, os profetas servos de Deus (Zc 1:6), que temem o Nome do Senhor (Sl 61:6).
Pequenos e grandes é uma designação para a totalidade (Sl 115:13).
Os inimigos de Deus destroem a terra, a criação de Deus.
Com o céu aberto, apareceu no templo a arca da aliança. Com o reinado de Deus é inaugurada a aliança com seu povo.
Capítulo 12 – A mulher e o dragão.
Personagens:
- a mulher em dores de parto. Em Is 66:7-14 ela dá à luz “um filho homem” e um “povo”. O aspecto crítico do parto é mencionado em Os 13:13. Os atributos astrais tornam a mulher celeste. Assim como o Senhor, ela está revestida de luz solar (Sl 104:2). A lua serve como base a exemplo de uma gôndola. A mulher tem sido identificada com a comunidade de Israel da qual nasce o Messias, e com a Igreja – o Israel de Deus (Gl 6:16);
- o dragão é o antagonista. No AT, o dragão é o império opressor: Egito e Babilônia (Jr 51:34; Is 51:9-10; Ez 29 e 32). As sete cabeças são as sete colunas de Roma (Ap 17:9);
- o Filho é o vencedor. Em Ap 13:33 é citado o Sl 2:7, para mostrar que o nascimento do Messias coincide com sua ressurreição. O Sl 110 declara que também coincide com a ascensão, para receber o poder real. O Dragão-Sheol tentou devorar o Filho mediante a crucificação, mas Deus o arrebatou.
O céu é um palco que proporciona uma explicação transcendental para quilo que acontece aqui na terra.
Um “sinal” no céu é uma cena com um significado transcendental. Observemos Is 7:11.
A fuga significa a retirada da Igreja diante da perseguição pagã, ou sua saída do judaísmo.
Os v. 7-12 apresentam um interlúdio complementar.
O dragão e seu exército tiveram um “lugar no céu”. Miguel significa “Quem-como-Deus”. A confissão do único Deus verdadeiro desmascara o dragão e seus anjos (Sl 82 e Is 14).
O Messias derrotou o Acusador (Jó 1-2 e Zc 3:1) e viu-o cair do céu (Lc 10:18).
Os mártires participaram na vitória mediante o sangue do Cordeiro e o testemunho. O céu festeja.
Enfurecido e com pressa, Satanás vai lutar na terra. Essa é a situação da Igreja.
O poder hostil recebe quatro nomes: Dragão, Serpente primitiva (Gn 3), Satanás (rival) e Diabo (acusador). Sua atividade consiste em enganar, pois é inimigo da verdade (Jo 8:44).
Os vers. 13-18 mostram que a hostilidade do dragão continua contra a mulher na terra. A mulher recebe “asas de águia” e se refugia no deserto, durante a metade de sete anos. O dragão envia seu agente: as “águas torrenciais” (Sl 18:5; 32:6; Jn 2:4), que a terra engole (Nm 16:30-32). Enfurecido, o dragão partiu para guerrear contra o resto da descendência da mulher (Gn 3:18). O dragão se deteve à beira-mar. O anjo poderoso pisava a terra e o mar ao mesmo tempo (Ap 10:2).
Capítulo 13.
Surgem dois novos personagens, que atuarão até o cap. 20. Este relato tem muita semelhança com Dn 7. O dragão atua mediante estes agentes: a besta que emerge do mar, uma besta terrestre, uma estátua que tem de ser adorada e uma marca de reconhecimento. São poderes políticos absolutos e divinizados. Esses poderes impõem suas ideologias. Pretendem ser rivais de Deus.
Na visão de Daniel, as bestas simbolizam os impérios. No passado, essa posição era ocupada por Babilônia (Is 14) com seu imperador e sua estátua (Dn 2-3). Outros impérios se sucederam (Dn 7-8).
No tempo do Apocalipse, a opressora é Roma, com o culto ao imperador divinizado, perseguindo os cristãos.
A besta é uma paródia de Deus e do Cordeiro. Recebe o poder do dragão, tem um trono, exige adoração, recupera-se de uma ferida.
Durante o transcurso da história, outras bestas surgirão. A blasfêmia consiste em apresentar-se como Deus (Ez 28:9; Is 48:8.10). Com obras portentosas (Dt 13:2) tentam arremedar a Deus (Gn 2:7). Enganam e negam os direitos a quem não se submete à ideologia dominante.
A besta sai do mar (Dn 7:3), onde se deteve o dragão. O mar é considerado o elemento rebelde e hostil. É o oceano primordial, caótico e rebelde (Sl 74:13-14 e 93:3-4). Neste texto, trata-se de uma referência específica ao mar Mediterrâneo, chamado pelos romanos de Mare nostrum.
Os dez chifres são dez reis (Ap 17:12), e as sete cabeças são sete reis (17:9), mas também pode ser uma referência às sete colinas de Roma.
Os nomes de blasfêmia são os títulos que a besta se arroga (Dn 7:25 e Ap 17:3).
A descrição da besta (v. 2) é um resumo de Dn 7:4-6. “Mas parece convincente a ideia de que da mesma forma como o livro de Daniel quer expressar sob a ótica religiosa como era viver sob a opressão dos selêucidas, João mostra como era a vida na ótica de minorias religiosas no Império Romano” (Paulo Nogueira, O que é Apocalipse, p. 67).
O dragão cede o trono à besta. Vejamos Ap 2:28 e 3:21. No Egito, o faraó não cedeu o trono a José (Gn 41:40).
A besta ferida mortalmente é uma alusão a Nero. “Quem se compara à besta?” arremeda o nome Miguel = Quem-como-Deus. Vejamos Ex 15:11; Sl 88:6 e Is 46:9. Observemos também 2 Tes 2:4.
A boca da besta é insolente (Sl 12:5). Seu tempo para agir é limitado: metade de sete anos; prazo igual ao do dragão (12:6-14).
A besta blasfemou contra Deus, contra o Nome dele, contra sua morada (a tenda, o templo celeste) e contra os que habitam no céu (a corte divina).
Foi-lhe dada autoridade. O passivo teológico significa que Deus permitiu. Deus detém o controle supremo, não o dragão. A besta empreende guerra, assim como o dragão (12:7).
O livro da vida (Ex 32:32 e Sl 69:28) é o do Cordeiro. Desde o princípio do mundo pode significar: ou aqueles que estão previstos de antemão, ou desde o início da humanidade.
A sentença passa a ser executada (Jr 15:2).
A segunda besta é inferior à primeira em cabeça, chifres e aspecto. Mas, ela se sobressai falando como um dragão. Age como representante da outra besta. Sua função é a de um falso profeta (Dt 13). Promove o culto da outra besta: o culto imperial era inicialmente de Roma e mais tarde do imperador.
A ferida mortal da besta foi curada: o “Nero redivivo” retornou em Domiciano (81-96).
A besta faz cair raios do céu na terra. Assim fizeram os profetas autênticos do Senhor, como Elias (1 Rs 18:24-39) e Eliseu (2 Rs 1:10-12). Jesus já havia alertado sobre os sinais enganosos (Mt 24:24). A segunda besta passa a ser designada como Falso Profeta (Ap 16:13; 19:20 e 20:10). O Falso Profeta se encarrega da propaganda em favor do culto imperial.
A estátua é uma alusão ao culto do imperador. O tema da estátua já aparece em Dn 2-3. O Sl 115 se ocupa com a mudez das estátuas de idolatria.
“Os dois monstros nos oferecem quadros de diferentes aspectos do poder imperial. No primeiro temos uma ênfase no fetiche religioso, na arrogância e no poder de destruição do Império. Ele blasfema, destrói, mas também maravilha. Para chegar à descrição da ferocidade deste império, João funde características dos 4 reinos de Daniel 7 em um único monstro. Para o leitor familiarizado com a profecia de Daniel este recurso literário de João não passou despercebido. Roma é o ápice do mal e da opressão que reúne todas as características dos reinos de Daniel 7. Mas o que dizer do 2º monstro? Que aspectos da realidade representa? Parece que este monstro – sem dúvida menos assustador, porém mais invasivo – representa um poder próprio da Ásia Menor, da região onde se localizam as igrejas para as quais João endereça o seu livro: o culto ao governante” (Paulo Nogueira, O que é Apocalipse, p. 67-68).
O culto ao imperador lembra a opressão exercida por Antíoco IV Epífanes, subjacente ao livro de Daniel, mas a idolatria romana torna-se uma caricatura do poder do Cordeiro.
A tatuagem de identificação é o oposto do que observamos em Ap 7:3. Observemos também Ez 9 e Is 44:5. A marca da besta é uma alusão ao selo imperial.
O número 666. Na época era comum atribuir um valor numérico às letras. Empregando o alfabeto hebraico para as palavras Neron Qesar obtém-se a soma 666. Portanto, o autor do Apocalipse fez o cálculo empregando letras hebraicas para se referir ao Nero redivivo. Trata-se, portanto de Domiciano no papel de Nero redivivo.
Capítulo 14.
O Cordeiro e os 144 mil selados estão no monte Sião. Os salvos são companheiros de destino do Cordeiro. Eles receberam o nome de Cristo e de seu Pai no batismo. O monte Sião é o local da confluência universal (Is 2:1-5).
O autor ouve um barulho no céu. O barulho das águas e de trovoada se assemelha a uma música de instrumentos de corda. A apocalíptica emprega o visual e o sonoro para transmitir a mensagem. O cântico novo é entoado diante dos quatro seres viventes e dos anciãos. Somente os 144 mil resgatados podem aprender o cântico.
Como interpretar a virgindade dos 144 mil selados?
Deparamo-nos com um Deus ciumento (Ex 20:5; 34:14; Dt 4:27). O relacionamento entre Deus e seu povo é ilustrado com o casamento. Quando o povo é infiel, entregando-se aos ídolos, ele se prostitui (Jr 2:20; 3:1; Ez 16:20-29; Os 4:15). Idolatria e prostituição tornam-se sinônimos. A Igreja é a esposa, Cristo é o noivo. A contaminação com mulheres é uma referência à promiscuidade. Os virgens são os que se conservam integralmente na fé cristã. Em sua boca não se encontra a mentira. No AT, a mentira também designa a adoração dos falsos deuses. Os que não se contaminaram com a idolatria são primícias para Deus e para o Cordeiro. Foram resgatados da humanidade.
Os vv. 6 a 20 apresentam a primeira descrição do juízo universal, com o seguinte esquema:
- um anjo anuncia o Evangelho e chama a humanidade à conversão.
Um anjo voa no centro supremo do céu, levando o Evangelho eterno. Ele clama à humanidade para que se converta ao Deus verdadeiro. É a última advertência. A adoração deve ser dirigida ao Criador do céu, da terra, do mar e das fontes. Trata-se da verdadeira adoração, em oposição à idolatria e ao culto imperial.
- um segundo anjo anuncia a queda da Babilônia.
Babilônia é a capital do Dragão. É a designação de Roma (1 Pd 5:13). Ela está em oposição à Jerusalém celestial. Sua queda é um fato consumado. Ela embriagava as nações. A embriaguez também é um termo empregado para caracterizar o afastamento de Deus (Jr 51:7 e Hc 2:15-16). Babilônia se notabiliza pela embriaguez desenfreada e pela devassidão.
- um terceiro anjo ameaça com o castigo.
Também a Besta tem seus adoradores. A marca sobre a fronte ou a mão é uma tatuagem de identificação, uma prática característica de algumas religiões. É uma referência ao selo imperial. A idolatria sempre vem acompanhada da desordem espiritual e moral. Os seguidores da Besta terão de tomar o vinho do furor de Deus. A devassidão é uma designação metafórica da idolatria. É o vinho com que Babilônia embriagava e seduzia os povos. A menção do fogo e do enxofre deve se aplicar à “geena” (Mt 18:8-9), onde havia sido praticado o culto de Moloque. Em Is 66:24 temos uma alusão ao castigo escatológico. Tudo isso acontece diante dos santos anjos e do Cordeiro. É hora de perseverança. Os santos devem guardar os mandamentos de Deus e a fé em Jesus. Os adoradores da Besta não têm descanso. Mas, os que morrem no Senhor podem descansar de suas obras (Hb 4:10). As obras acompanham os cristãos em seu destino eterno.
- uma figura humana surge com uma foice e recebe ordem de um anjo.
Na descrição do Filho do Homem os cristãos reconhecem Jesus Cristo (Mt 13:24-30). O Filho do Homem aparece como Rei e Juiz. Ceifa e vindima são ilustrações para o julgamento escatológico (Is 63:3.6; Jl 4:13-14). O Filho do Homem espera a ordem do Pai que determina a hora. A colheita feita por Cristo é imagem da recompensa dos fiéis. A vindima simboliza o juízo sobre os inimigos (Is 63:3-4 e Ap 19:11-15).
- outro anjo surge com uma foice e recebe ordem de mais um anjo.
O anjo - com poder sobre o fogo – saiu do altar. Do altar sobe o sangue dos mártires (Ap 6:9 e 11:1) e também a oração dos santos (8:3-5 e 9:13). Acontece uma batalha de extermínio (Jl 4:2-12 e Zc 14:4). O extermínio das nações deve ser realizado fora de Jerusalém (Zc 14:2-3.12-13; Ez 38-39). Os rios de sangue cobrem o mundo. É a ilustração do juízo universal. Os 1600 estádios gregos (vers. 20) equivalem a 304 quilômetros. Um estádio equivale a 190 metros. Mil e seiscentos é um múltiplo de quatro, e por isso expressa um valor de totalidade.
Capítulos 15 e 16 – As sete taças.
O setenário de pragas é o último. De certa forma, o setenário de pragas repete ou renova os sete selos e as sete trombetas.
As pragas acontecem na terra, no mar, nos rios e nas estrelas. Desta vez, o alcance é universal.
Além do sinal da mulher e do dragão (Ap 12:1-3), agora é visto outro sinal no céu.
Antes de começar o castigo, os vencedores celestes celebram uma liturgia no céu.
Sete anjos levam as sete últimas pragas. Observemos Lv 16:21. E então a ira de Deus se esgota (Ez 5:13; 6:12; 20:21).
O mar misturado com fogo deve ser interpretado a partir de Is 43:2 – representa a prova que os vencedores atravessaram.
O cântico de Moisés (Ex 15) faz o leitor pensar no mar Vermelho: os salvos se encontram na outra margem. Em seguida é entoado o cântico do Cordeiro, repleto de recordações (Sl 11:2; 99; 102).
Abriu-se o templo, identificado com a tenda do testemunho, que na tradição hebraica é a tenda do encontro (Ex 33:7-11). Em 11:19 havia aparecido no templo a arca da aliança. Agora, aparece a tenda do encontro.
Os sete anjos estão vestidos de linho sacerdotal e com cinturões régios. Observemos os sete personagens de Ez 9.
As taças são mencionadas em Is 51:17.22.
O templo se encheu de fumaça, como em 1 Rs 8:10.
A fumaça da ira já é mencionada em Sl 74:1 e 80:5.
Capítulo 16.
A ordem saiu do templo e as taças foram derramadas rapidamente.
Alguns temas dos setenários precedentes se repetem: sangue, fogo e recusa à conversão (Am 4:6-12). Houve um terremoto sem igual (vers. 18).
Desperta atenção a semelhança com as pragas do Egito (Ex 7-10): úlceras (Ex 9:10), sangue (7:12-21). trevas (10:21), tempestade (9), granizo (9:24). A semelhança com as pragas do Egito dá a este texto uma conotação de libertação.
Também há grande semelhança com os textos proféticos: a voz possante (Is 66:6), a ira derramada (Jr 10:25; Ez 7:8), beber sangue (Is 49:26), nudez (Is 20).
Dois temas chamam atenção: a mobilização geral e o grande terremoto.
O castigo é estabelecido pela lei do talião: derramaram sangue (Sl 79:3), sangue beberão. É atendido o clamor dos mártires (6:10).
Quando Deus retira sua proteção (Sl 121:6), o sol se torna abrasador.
Dar glória a Deus significa, neste contexto, reconhecer a própria culpa (Js 7:19). Os homens continuavam blasfemando (vers. 11 e 21), agravando sua culpa.
Em Ez 38-39 e Zc 14:13 é Deus quem promove a mobilização geral. Agora são as forças do mal que empreendem a mobilização, remedando a ação de Deus.
O dragão, a besta e o falso profeta formam um trio. O falso profeta é a segunda besta, descrita em Ap. 13:11-18. Da boca desses três sai um trio de espíritos demoníacos como rãs (Ex 8:1-11). Os espíritos de demônios incitam os reis a formarem uma coalizão.
A batalha do grande dia do Deus Todo-poderoso acontece em Armagedom, que significa monte de Megido (Jz 5:19 e 2 Rs 23:29). O monte já se tornara conhecido na literatura apocalíptica. Na realidade, o local é uma planície com um desfiladeiro que conduz à cidade.
O nome Armagedom só é mencionado uma vez em toda a Bíblia. Em hebraico Har Meguidô significa “a montanha de Meguido”. Megido é uma cidade na planície de Esdrelom. A planície também é chamada de vale de Jezreel. Lá se desenrolaram batalhas sangrentas (Jz 4:12-16; 5:19; 6:33-7:22; 2 Rs 9:27; 23:29-30; 2 Cr 35:20-27). O lugar tornou-se um símbolo de derrota para os exércitos que nele se reúnem (Zc 12:11). Por isso, o nome Armagedom simboliza o desastre final dos exércitos inimigos. O nome do local passou a ser uma referência para a batalha definitiva entre Jesus Cristo e as forças do mal (Ap 19:11-21).
O alerta à vigilância (vers. 15) faz eco às palavras de Jesus (Mt 24:43). Andar nu é grave humilhação (Is 20).
Deus se lembrou de Babilônia. A capital dirigida por Satanás foi abalada: um terremoto sem igual embaixo (Is 24:18-20) e um granizo devastador em cima. As pedras de granizo pesavam cerca de um talento, ou seja, 30 quilos.
As ilhas fugiram e não sobraram montanhas. Ilhas e montanhas são pilares do mundo (Sl 65:7).
A visão das sete taças apresenta muitos traços idênticos à das sete trombetas.
Primeira trombeta: granizo e fogo caem sobre Primeira taça: é derramada sobre a terra
a terra, queimando um terço da vegetação (8:7). (16:2).
Segunda trombeta: um terço dos mares se Segunda taça: o mar se transforma em sangue;
transforma em sangue; um terço todos os seres vivos morrem (16:3).
dos seres vivos morre (8:8-9).
Terceira trombeta: um terço dos rios e das Terceira taça: rios e fontes transformam-se
fontes torna-se amargo (8:10-11). em sangue (16:4).
Quarta trombeta: um terço do sol e das estrelas Quarta taça: o sol queima as pessoas com fogo
escurece (8:12). O brilho diminui um terço. (16:8-9).
Quinta trombeta: o poço do Abismo é aberto. Quinta taça: o reino da besta torna-se escuridão.
Gafanhotos escurecem o sol e provocam As pessoas são atormentadas(16:10-11).
tormentos nas pessoas (9:1-12).
Sexta trombeta: os quatro anjos junto ao Sexta taça: é derramada sobre o grande rio
grande rio Eufrates são soltos (9:14-15). Eufrates (16:12).
Sétima trombeta: raios, vozes, trovões, Sétima taça: raios, vozes, trovões, terremoto,
terremoto, granizo (11:19). granizo (16:17-21).
As trombetas e as taças são apresentadas de modo paralelo. As taças desencadeiam os últimos flagelos, imediatamente antes do fim. As taças representam um aumento do juízo sobre a humanidade.
Capítulos 17:1 – 19:10 - Sete visões da queda de Babilônia
Acontece agora o julgamento, a condenação, a lamentação e a execução da Grande Prostituta. No AT, a prostituta simboliza frequentemente um povo ou uma cidade idólatra (Is 1:21; Ez 16:15-63; Os 2; 5:3); É a Babilônia histórica que arrasou Jerusalém. É a Roma do culto imperial que persegue os cristãos. E torna-se o emblema de toda ostentação de poder que se opõe ao plano de Deus, em qualquer época.
A Grande Prostituta (Is 23:16-17 e Na 3:4) seduz mediante o comércio e o poder. A prostituição consiste em induzir à idolatria (Jr 51:7). Observemos Hc 2:15. O poder imperial seduz e corrompe. A cidade de canais é Babilônia (Jr 51:13 e Sl 137:1). A Grande Prostitua é o oposto da esposa do Cordeiro (Ap 21:9-10).
Um dos anjos transportou João em espírito a um deserto, que é a morada das feras (Is 13:19-22; Jr 51:29-43). Uma mulher estava cavalgando uma besta vermelha (Dn 7:8 e Ap 13:1). Os títulos blasfemos são mencionados em Dn 7:25.
A mulher é uma figura de luxo suntuoso (Jr 4:30). As cores imperiais contrastam com o branco do cavalo e do cavaleiro (Ap 6:2). As pedras preciosas (Ez 28:13) e a taça de ouro (Jr 51:7) completam a luxúria.
O título secreto significa que Babilônia é Roma, a Grande (Dn 4:27).
A embriaguez com sangue é uma descrição do modo impiedoso e sádico da perseguição aos cristãos.
O anjo explica o segredo da mulher e da besta.
Babilônia existiu e deixou de existir (Jr 51:64). Mas, volta a existir com o nome de Roma. A besta sobe do Abismo para ser destruída. Ela procede do Abismo, pois seu poder é satânico.
A besta que existiu e já não existe e irá se apresentar provoca assombro entre os que não estão inscritos no livro da vida. A expressão ternária “existiu - não existe - voltará” é como uma paródia do título divino de Ap 1:4. Na época havia lendas anunciando o retorno de Nero após sua morte. O Nero redivivo volta a reger o império de Roma no período de Domiciano. As “sete colinas” identificam Roma.
O oitavo rei é a besta que existia e já não existe; é a encarnação de Satanás. Todos se unem para lutar contra o Cordeiro. É uma evidência de que o Cordeiro é o verdadeiro Senhor da história.
Os dez reis representam a grande coalizão que se prepara para a batalha final e será derrotada (Ez 38-39). No contexto histórico de Roma deve-se tratar de soberanos das nações vassalas. O texto quer mostrar a precariedade das nações inspiradas por Satanás. Esses soberanos serão derrotados pelo “Rei dos reis” (Dt 10:17; Dn 2:47 e Sl 136:3).
Os antigos aliados da Prostituta se tornarão hostis a ela. Os servidores passam a ser executores. Vão expô-la à vergonha pública (Ez 16:37 e Is 47) e arrasá-la. Foi Deus quem os moveu, para executar seu plano. Mais tarde, eles próprios serão julgados e executados (Ap 19:17-21). Deus utiliza os poderes satânicos para castigar Babilônia. A capital do mundo ainda vive em luxúria, mas seu final está próximo.
Capítulo 18.
É anunciada e comemorada a queda de Babilônia. Observemos Ez 27-28. Deparamo-nos com o anúncio da sentença (vers. 1-8); três lamentações: dos reis (9-10), dos comerciantes (11-17a), dos marinheiros (17b-19); e uma ação simbólica com sua explicação.
Desceu do céu um anjo esplendoroso, que iluminou a terra (Ez 43:2). Deu a notícia da queda da Grande Babilônia. Em Is 21, a queda acontece no final.
A capital era um abrigo de demônios (Is 13:21; 34:11-14; Jr 50:39).
A fornicação é mencionada em Is 23:17. O comércio imperial provocou o luxo ostensivo e o enriquecimento de alguns.
Uma outra voz ordena aos cristãos saírem da capital orgulhosa, para se livrarem da cumplicidade e do castigo.
Os pecados se acumularam. E a tolerância tem um limite (Gn 15:16).
O castigo segue a lei do talião e é pago até em dobro (Sl 137:8; Jr 16:18 e Is 40:2). Houve excesso de crueldade. Há situações em que o culpado deve pagar o quádruplo (2 Sm 12:4).
Babilônia soberba e humilhada já é apresentada em Is 47.
A descrição do v. 8 corresponde à destruição histórica de Jerusalém (2 Rs 25).
Os reis, os comerciantes e os marinheiros se lamentam. Vejamos Is 23:1-2; Ez 26:16-18; 27:12-24.30-36.
Babilônia incendiada lembra a destruição de Sodoma. Jeremias descreveu Babilônia submersa pelas águas.
A relação de mercadorias lembra o comércio de Tiro (Ez 27:12-24). A lista é encerrada com o comércio de escravos. O luxo imperial cresceu em função da economia escravagista.
Com tanta injustiça e brutalidade, o lucro foge. Observemos Hc 2:6-13.
Os céus, os santos, os apóstolos e os profetas devem se alegrar (Is 44:23 e 49:13). Fazer justiça implica libertação. O pranto e o lamento dão lugar à alegria.
O anjo poderoso executa um gesto simbólico: arremessa uma pedra ao mar para ilustrar o que acontece com Babilônia. Vejamos Jr 51:63-64. Depois tudo emudece (Is 24:8).
Não se ouvirá mais na cidade o barulho do moinho, nem brilhará mais a luz da lâmpada. Moinho e lâmpada expressam a alegria e a paz da vida doméstica.
O sangue de profetas, santos e dos assassinados clama ao céu (Gn 4:10 e Ez 24:7).
Capítulo 19:1-10.
Na capital arrogante havia desolação. A liturgia celeste aclamava os salvos. Observemos Sl 29:1-2; 7:9-10; Is 34:10; Dt 32:43 e Sl 47:9.
Deus pediu contas do sangue dos servos dele. É uma resposta ao clamor dos assassinados (6:10).
Babilônia foi destruída por suas culpas. Mas, por enquanto não há detalhes sobre a batalha. Esta será descrita em 19:11-21.
Por ora, realiza-se o casamento do Cordeiro com a nova Jerusalém. No AT é frequente o símbolo do casamento de Javé com Jerusalém. Observemos Is 54:1-8 e Os 2:16-18. É cantado o casamento de um rei vencedor (Is 62:1-9 e Sl 45). Jesus narrou a parábola de um rei que celebrou o casamento de seu filho (Mt 22:1).
O NT adota o simbolismo do casamento. A noiva está preparada e vestida (Is 61:10), mas a cerimônia fica em suspenso até o cap. 21. É pronunciada uma das sete bem-aventuranças, dirigida aos convidados para o banquete (Lc 14:15). O casamento é a realização perfeita da aliança, e ele é esperado para o fim dos tempos (Mt 25:1-13).
João se prostrou para adorar o anjo, e este salienta que é servo também. Portanto, João deve adorar somente a Deus.
É enfatizado que a visão inteira do Apocalipse procede de Deus e é autêntica (Dn 8:26).
Capítulo 19:11-21.
Acontece uma mudança de cena do casamento para a batalha. O texto apresenta o exército vencedor e as consequências da derrota do mal.
O “céu aberto” mostra uma visão (Ez 1:1).
O Cavaleiro é Fiel, Veraz e Justo. Vejamos Sl 45:5. Aquele que entrou em Jerusalém montando um humilde jumento, agora cavalga um imponente cavalo branco. Ele é justo no governo (Sl 72 e 98:9). Os olhos como chamas de fogo (Dn 10:6). O manto empapado de sangue (Is 63:3) é o do vencedor que volta da guerra. Ele sentencia com justiça e é poderoso para salvar. As tropas celestes o acompanham (Is 13).
O Cavaleiro é a mesma pessoa que o personagem do começo comparemos 3:14 com 19:11; 1:14 com 19:12; 1:16 com 19:15; 17:14 com 19:16 e 12:5 com 19:15.
Seu nome é Palavra de Deus (Jo 1:1.14).
A espada afiada é a sentença que pronuncia (Is 49:2 e Ez 21:14-21).
O cetro de ferro é do Ungido do Senhor (Sl 2:9).
Pisar o lagar significa que o mosto é imagem do sangue (Is 63:3). Observemos Dn 2:47.
Uma batalha de valores e princípios adquire uma conotação de vitória militar. E essa batalha se desenrola no transcurso da história da humanidade.
O Nome que ninguém conhece é uma referência ao mistério transcendente de Jesus Cristo.
O anjo sobre o sol convoca as aves que voam pelo céu.
Depois da alusão ao banquete do casamento é anunciado o banquete da vitória (Ez 39:17-20; Sf 1:7-8). Os mortos servem de comida para as aves. Não recebem sepultura honrosa.
Os responsáveis são capturados: a besta que emerge do mar, o falso profeta (a besta terrestre). São condenados à morte (Js 10:22-27) e lançados no fosso de fogo e enxofre ardente (Dn 7:11 e Is 30:33). Por ora, resta o dragão.
Capítulo 20.
Chegou a vez do principal responsável: o dragão.
A dimensão temporal poder ser observada em Dn 7:25-26.
Jesus Cristo é o mais forte (Mt 12:29). Com sua morte e ressurreição, ele derrotou Satanás (Lc 10:18 e 11:21). Aqueles que seguem Jesus reduzem o diabo à impotência.
O diabo continua tendo poder sobre aqueles que se deixam seduzir (2 Cor 11:3). Ele continua batalhando (Ap 12:17).
Um anjo desceu do céu com a chave do Abismo. Em 9:1-2 a chave abriu o poço do Abismo. Agora, o dragão é acorrentado no Abismo (2 Ped 2:4). O anjo fechou e selou por fora, procedendo como Josué (Js 10:18-19). Observemos também Is 24:22.
Os tronos são assentos do tribunal (Dn 7:9.22).
A menção das almas dos decapitados é um modo de dizer que estão vivos. Equivale a dizer que os mártires são preservados por Deus.
A segunda morte é o fim de qualquer possibilidade para a vida eterna.
Aqueles que permaneceram fiéis a Jesus, recusando-se a adorar a besta e sua imagem e não recebendo o selo da besta (13:15-16), foram despertados para a vida (Ez 37:3.10) para reinar com Cristo. Os mártires reinarão com Cristo (Lc 22:30), tornando-se reis e sacerdotes (Ap 1:6 e 5:10). Essa é a primeira ressurreição. Os demais permanecem na morte.
No final dos tempos, a ressurreição acontecerá em etapas.
A ressurreição de Jesus Cristo já aconteceu. Por isso, ele é primícias dos que morreram (1 Cor 15:20).
Por ocasião da parusia de Jesus, os mortos no Senhor ressuscitarão primeiro (1 Tes 4:16). Os que estiverem vivos serão arrebatados. A ressurreição precede o julgamento de separação. Todos deverão comparecer para o juízo definitivo (Dn 12:2): uns para a vida, outros para a condenação (Jo 5:29). Todos deverão comparecer perante o tribunal de Cristo, para receber prêmio ou castigo (2 Cor 5:10). A alternativa está entre vida eterna e vergonha eterna (Dn 12:2), que é a consciência perpétua da derrota definitiva.
Em 1 Cor 15:23-26, Paulo detalhou as etapas da ressurreição.
Observemos que em Ap 14:4 os redimidos são chamados “primícias para Deus”. São os primeiros a alcançar a ressurreição (1 Cor 15:23). Não precisam esperar o juízo (20:11-15). As expressões “reinar com Cristo”, “sacerdotes de Deus e de Cristo”, “primeira ressurreição” complementam-se mutuamente.
Os sacerdotes de Deus e do Messias são o povo do Senhor (Ex 19:6 e Is 61:6).
Em Ez 38, Gog é o rei e Magog seu território. Observemos Gn 10:2 e 1 Cr 5:4.
Os santos são o povo de Deus (Dn 7:23-27). A cidade amada é apresentada em Jr 11:15; 12:7: Sl 87.
Vitória, reinado e amor são mencionados juntos em Sf 3:17. A intervenção de um raio é mencionada também em 2 Rs 1:10.
O reino milenar de Cristo
(Apocalipse 20:1-10)
Um anjo desceu do céu e aprisionou durante mil anos o dragão – que é a antiga serpente, o diabo, Satanás – lançando-o no abismo. Os mártires passaram a reinar com Cristo durante esses mil anos. Essa é “a primeira ressurreição”. A “segunda morte” não tem poder sobre os que participam na “primeira ressurreição”. Transcorridos os mil anos, Satanás é solto para seduzir as nações e organizar o seu exército contra o acampamento dos santos e a cidade santa, para um breve tempo de perseguição. Quando marcharam contra o acampamento dos santos e a cidade querida, desceu fogo do céu e os consumiu. O diabo foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde já se encontram a besta e o falso profeta. Os mortos precisam comparecer diante do trono. Os mortos foram julgados “conforme o que se achava escrito nos livros”. O mar teve que devolver os mortos. Também a morte e o Hades devolveram os mortos, que também foram julgados. A morte e o Hades foram lançados no lago de fogo, que é “a segunda morte”. Quem não estava inscrito no Livro da Vida, também foi lançado no lago de fogo.
Com essa descrição, o milênio parece ser um estado intermediário entre a dimensão terrestre e a celeste. Uma interpretação literal considera o milênio um reino terrestre de mil anos, distinto do Reino de Deus. E a conclusão é que esse reino milenar venha a acontecer no futuro e na história. Seria um reino distinto e paralelo.
“Esta concepção extremamente fantástica do Ap não se coaduna com o ensinamento universal do NT a respeito da ressurreição, só podendo ser conciliada com esse ensinamento se considerada em seu evidente significado simbólico” (John L. McKenzie, Dicionário Bíblico).
O autor do Apocalipse recorre a temas conhecidos na apocalíptica judaica e no AT, para transmitir uma mensagem específica para a situação histórica dos cristãos. O cap. 20 é o desenlace de vários conflitos apresentados no livro. Muitos temas convergem nesse cap. 20. É da maior significação o conteúdo das visões.
A revelação mostra “as coisas que em breve devem acontecer” (1:1). O plano de Deus está chegando à sua plenitude. A promessa deve se realizar em breve. Os cristãos já podem agora vislumbrar a vitória de Cristo.
“Aqui, João fala simbolicamente, como no uso que fez do mito do retorno de Nero. Embora o conceito de que haverá um período, antes do julgamento final, em que o povo de Deus governará as nações seja comum na literatura apocalíptica da época de João, ele mostra, pela forma como lida com essa tradição, que não quer que seus leitores a compreendam de forma literal. Para João, o milênio torna-se um símbolo da determinação de Deus de corrigir os abusos sofridos pelos cristãos nas mãos de Satanás, das autoridades políticas e militares romanas e dos que promoviam a devoção religiosa a Roma em suas várias formas de idolatria. O império Romano existiu por um curto período de tempo, a soberania de Cristo sobre as nações existe por mil anos” (Frank Thielman, Teologia do Novo Testamento, pp. 778-79).
O inusitado é que Satanás é acorrentado, para, depois, ser solto e, finalmente, destruído. Por que esperar mil anos?
O Apocalipse está repleto de simbolismo. Mas, o motivo do símbolo é a história. É possível que o atraso da parusia seja o ponto de partida dessa espera de mil anos. Os primeiros cristãos esperaram a volta do Filho do Homem para logo depois da ressurreição. “Depois a primeira geração passou: esta volta fazia-se esperar; a segunda geração de cristãos teve de se adaptar, rever as noções de imediatismo do regresso e instalar-se num período intermediário, o da Igreja. A espera fez-se menos viva enquanto a organização aparecia. A parusia tornou-se um acontecimento cada vez menos esperado no imediato: tentou-se explicar esta demora” (Jacques Ellul, Apocalipse: arquitetura em movimento, p. 228).
Como podemos interpretar esse período, que abrange um reinado de mil anos, mencionado em Ap 20:1-15?
Precisamos recorrer a algumas chaves de interpretação, pois o Apocalipse transmite sua mensagem por intermédio de muitos símbolos.
O anjo forte também é mencionado em 10:1. O anjo tem “na mão a chave do abismo e uma grande corrente” (20:1). O abismo é a morada dos poderes demoníacos. A “chave do poço do abismo” foi mencionada em 9:1, de onde saiu uma das catástrofes que atingiu os que não tinham o selo de Deus. Agora, o abismo recebe o dragão. O anjo “agarrou” o dragão, a antiga serpente, o diabo, Satanás. Esses quatro nomes já foram mencionados juntos em 12:9. O dragão foi preso por mil anos.
No NT, somente o Apocalipse menciona o dragão. No cap. 12, o dragão combate a mulher e quer devorar o seu filho. Derrotado pelo anjo Miguel, ele “foi atirado para a terra” (v. 9). O dragão se encheu de ira e “foi pelejar contra os restantes” da descendência da mulher (v. 17). Depois, o dragão deu o seu poder à besta (13:2) e conseguiu realizar prodígios e deslumbrar toda a terra.
O dragão é a “antiga serpente”, que é a sedutora da humanidade (Gn 3). A destruição do poder da serpente é uma prerrogativa para o retorno à vida paradisíaca.
O diabo é o “caluniador”, o causador da prisão de alguns da igreja de Esmirna (2:10) e que desceu à terra “cheio de grande cólera e com pressa (12:12). Ele é homicida e “pai da mentira” (Jo 8:44).
Satanás é o “adversário”. É o chefe dos demônios (Mc 20-30). Ele tem o seu trono em Pérgamo (2:13), uma alusão ao culto do imperador.
O anjo “amarrou” o diabo, ou seja, aprisionou-o e submeteu-o. A corrente sempre é mencionada em situações de aprisionamento. E “lançou-o no abismo” (20:3). Em 12:9, o diabo foi expulso do céu e “atirado para a terra”. Agora, ele é lançado da terra ao abismo. No cap. 12, o diabo perseguiu a mulher e seus descendentes. Agora, a terra está livre. As portas do abismo foram fechadas. Vai-se viabilizando o surgimento de um novo céu e de uma nova terra (Ap 21).
O aprisionamento dos inimigos de Deus e de seu povo é um tema conhecido. O Apocalipse se inspirou em Is 24:21-22 e no livro apócrifo Testamento de Levi.
A experiência da liberdade acontece de um modo dramático. O dragão de muitos nomes está preso e deixa de seduzir as nações. Um novo reinado vai ser implantado.
As especulações judaicas a respeito da duração do mundo têm contribuído para a formulação do milênio. O Apocalipse é o livro do NT que mais recorre ao AT. Entre os judeus desenvolveu-se a ideia de uma Semana Cósmica de sete mil anos: cada dia da criação equivaleria a um período de mil anos. O judaísmo havia estabelecido uma correlação entre a semana da criação do mundo e a história universal. O livro apócrifo Segredos de Enoque declara que cada dia da criação corresponde a mil anos, portanto, o tempo do mundo seria de sete mil anos. Esse cálculo foi baseado no Sl 90:4, onde se lê que, para Deus, um dia corresponde a mil anos. Transcorridos seis mil anos, haveria de se manifestar o reino do Messias, com duração de mil anos. Seria o sábado do mundo, seguido da nova criação. Portanto, a Semana Cósmica de sete mil anos culminaria no grande Sábado, um milênio de paz e de salvação.
Os temas dos mil anos, do novo céu e da nova terra, do governo dos santos com o Messias são apresentados no livro apócrifo Apocalipse de Elias.
As especulações sobre a vida de Adão também contribuíram para o simbolismo do milênio e da Semana Cósmica. Em Gn 2:17 Deus disse ao homem que ele morreria no dia em que comesse do fruto proibido. Em Gn 5:5 é informado que Adão morreu com a idade de 930 anos. O Sl 90:4 menciona que mil anos equivalem a um dia para o Senhor. Segundo os rabinos, no paraíso, um dia tinha a duração mil anos. Nesse caso, os quase mil anos de existência de Adão equivalem a um dia para Deus. Estaria assim confirmado o pronunciamento de Gn 2:17. Por não ter alcançado os mil anos, os rabinos entenderam que Adão morreu no mesmo dia em que pecou.
O milênio passa a ser então o grande Sábado do Messias no coroamento da Semana Cósmica. A igreja de Jesus Cristo deve avaliar o que significa a prisão de Satanás.
A partir do esquema da semana cósmica, Agostinho concluiu que o reino milenar do Messias corresponde ao período entre a ressurreição e a segunda vinda de Cristo. Portanto, abrange o período de atuação da igreja. A interpretação de Agostinho é sustentada pelo atraso da parusia, que deu ensejo à segunda geração de cristãos a se concentrar no período de atuação da igreja.
Tendo início com a ressurreição de Jesus Cristo, o reino milenar é, então, o desenrolar da história da igreja: o reino de Cristo na terra subjugando os poderes das trevas. Muitos teólogos concordam com a interpretação de Agostinho. Com a ressurreição de Jesus, tem início a nova criação. É o período que corresponde ao sábado cósmico.
O anjo lançou o diabo no abismo, aprisionando-o por mil anos. O v. 3 deve ser lido junto com Mt 8:29, onde os demônios expulsos gritaram: “Que temos nós contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” Até o dia do julgamento, os demônios ainda podem oprimir as pessoas (Ap 9:5). Satanás ainda quer agir, antes da derrota final. Em Ap 12:12 consta que “o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta”. Cheio de furor e com pouco tempo disponível, o diabo vai lutar na terra, contra a igreja de Jesus.
Portanto, a atuação da igreja de Jesus Cristo deve ser uma demonstração de que o diabo está realmente acorrentado. Em 1 Jo 3:8 lemos: “Eis por que apareceu o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo”. No reino milenar de Cristo, que teve início com a ressurreição de Jesus, o Corpo de Cristo deve continuar a obra: administrar o Sábado cósmico do Messias, pois o diabo está acorrentado!
O número mil é o símbolo de um tempo completo, que se estende desde a ressurreição de Jesus até a consumação da história.
A partir da riqueza simbólica do Apocalipse, ainda há a considerar que o número 1.000 resulta da composição de outros dois. Vejamos.
O profeta Daniel mostra que o número 10 representa os reinos do mundo (Dn 7:7). Portanto, o número 10 se refere ao poder humano.
No NT, o número 3 simboliza a Trindade divina (2 Co 13:13; Mt 28:19).
Ora, se multiplicarmos o número 10 três vezes por si mesmo (10 x 10 x 10), obteremos o número 1.000.
Empregando esse simbolismo, podemos concluir que os mil anos também significam que os reinos do mundo serão transformados em Reino de Deus. Este mundo será penetrado e conduzido pelo poder divino. Essa idéia também aparece em Sl 37:22 e Mt 5:4.
A partir dessa interpretação, a mensagem do milênio é a seguinte: Deus quer que o próprio mundo (que é sua criação) se torne o local aonde venha se manifestar a revelação gloriosa de Jesus Cristo. Trata-se então de um anúncio profético do cumprimento da história.
Ainda precisamos considerar uma característica do pensamento hebraico. Ap 20 separa em segmentos temporais o que nós separamos em planos (dimensões) espaciais.
O hebraico afirma que o homem é mau “de nascença” (símbolo temporal).
Em nosso contexto cultural, declaramos que o homem é egoísta (mau) em sua raiz (símbolo espacial). Costumamos dizer que “no fundo ele é mau / ou bom”.
O Apocalipse diz que o dragão estará acorrentado durante mil anos e depois terá liberdade para agir por um tempo (símbolo temporal).
Nós costumamos empregar o símbolo espacial, e diríamos: Num plano, o dragão é impotente, e num outro plano ele é poderoso. Ou seja: no âmbito da Igreja de Jesus Cristo, o dragão é impotente. Fora desse âmbito, ele é poderoso.
O apóstolo Paulo também considerou a igreja como sendo o âmbito da salvação. Quando ele sentencia que o membro da igreja de Corinto seja “entregue a Satanás” (1 Co 5:5), isso significa que ele seja excluído do ambiente de bênção e proteção. Fora da comunhão, a pessoa está sujeita à ação de Satanás.
A tarefa da igreja de Jesus Cristo é manifestar aos poderes hostis a multiforme sabedoria de Deus (Ef 3:10). A igreja precisa estar consciente das implicações dessa tarefa.
Em Ap 20:4 são mencionados os tronos dos mártires no céu, com poder para julgar e reinar com Cristo.
Aqueles que se sentam nos tronos recebem a capacidade de julgar. Jesus declarou que os discípulos sentarão “em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel” (Mt 19:28). Observemos também 1 Co 6:2-3 e 15:20-28. Tronos também são mencionados diante do trono do Ancião (Dn 7:9), pois “veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio tempo em que os santos possuíram o reino” (Dn 7:22). Quando o Apocalipse dá destaque ao trono central, ele enfatiza a majestade de Deus, mas também está contestando o esplendoroso culto do imperador. No pensamento hebraico, julgar também significa governar. A igreja deve administrar os talentos que foram confiados a todos os cristãos, proclamando de um modo inequívoco que Jesus Cristo é o Senhor. Reinar com Cristo é um enorme desafio para todos os batizados.
Ao ver os tronos, João vislumbrou “ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos” (20:4). Essa visão tem o seu paralelo em 6:9-10 e com a situação do próprio João (1:9). Eles se tornaram mártires por causa de sua fidelidade. Eles não adoraram a besta e nem receberam “a marca na fronte e na mão”. Eles não se submeteram ao contexto social, econômico e cultural imposto por Roma. A “marca da besta” é uma alusão ao selo imperial. A segunda besta controla a mão direita, que simboliza a ação (14:9). Também controla a fronte, onde é elaborado o raciocínio. A menção da mão direita e da fronte é um arremedo de uma prática do israelita, que deve atar as palavras do Senhor na mão e na fronte (Dt 6:8). Vejamos também Ex 13:8-9. O Apocalipse denuncia a ideologia do império romano: todos são submetidos. Para poder comprar e vender, as pessoas precisam se submeter ao controle da besta. É o controle da economia. Em 6:6 também transparece uma referência à situação econômica: trigo e cevada custam caro, mas o azeite e o vinho, artigos de luxo (18:13), não são danificados!
Os mártires passam a julgar (1 Co 6:2). Eles estão sentados nos tronos para destronar os dominadores do mundo. Dois fatores tornam-se fundamentais para que os mártires possam julgar: a vitória de Cristo e a prisão do dragão. A besta e o falso profeta foram capturados e – com seus exércitos – destruídos (19:11-21). A vitória de Cristo foi obtida na cruz, quando ele exclamou: “Está consumado!” (Jo 19:30), tornando-se definitiva “pela ressurreição dos mortos” (Rm 1:4). A prisão de Satanás aconteceu, quando Jesus veio atormentar os demônios “antes do tempo” (Mc 8:29) e quando ele deu autoridade aos seus discípulos para pisarem “serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo”, pois absolutamente nada lhes “causará dano” (Lc 10:18-19).
Os mártires “viveram e reinaram”. O verbo “viver” assume importância em Ez 37, onde os ossos secos recebem o Espírito de Deus. O reino foi entregue aos santos do Altíssimo (Dn 7:27), para reinarem. O reinado apocalíptico se opõe aos reinados historicamente estabelecidos. Em 1:6 e 5:10são mencionados os reino e os sacerdotes de Deus, o que estabelece uma ligação com Ex 19:5; 1 Pd 2:5.9-10.
O inimigo dos santos é detido. O poder imperial de Roma precisa constatar que a situação está invertida. Vejamos Dn 7:27.
Cabe, pois, à igreja assumir o desafio. Assim procedendo, a Igreja certamente cumprirá melhor a vontade de seu Senhor do que se ela se entregar a cálculos e especulações futuristas. O milênio já começou com a ressurreição de Jesus. O Sábado cósmico do Messias passa a ser uma grande tarefa para a Igreja de Cristo. O diabo está acorrentado! Todos os seguidores de Jesus Cristo devem viver essa realidade, começando em sua igreja local.
A “primeira ressurreição” (Ap 20:5) é a ressurreição espiritual, que acontece por ocasião do novo nascimento da pessoa que se torna cristã. Essa “primeira ressurreição” deve ser entendida a partir de seu simbolismo: é uma referência ao batismo (Cl 2:12-15; Rm 6:4.8-9). A pessoa batizada (Ef 1:14) passou pela morte, foi ressuscitada e está sentada “nos lugares celestiais como Cristo Jesus” (Ef 2:6). Portanto, “sobre esses a segunda morte não tem poder” (Ap 20:6).
A Bíblia de Jerusalém comenta que para “Agostinho e muitos outros, os ‘mil anos’ se iniciaram com a ressurreição de Cristo; a ‘primeira ressurreição’ seria então o batismo (cf. Rm 6, 1-11; Jo 5. 25-28)”.
Além da sua dimensão futura, a ressurreição tem um aspecto espiritual e presente, mediante o batismo. Esse aspecto espiritual e presente da ressurreição nem sempre foi devidamente compreendido, pois 2 Tm 2:18 registra o equívoco de duas pessoas que estavam “asseverando que a ressurreição já se realizou, e estão pervertendo a fé a alguns”.
Para aqueles que receberam o batismo, a segunda morte (20:6), que é última e definitiva e que resulta no afastamento total de Deus, não terá mais poder.
No final, “Satanás será solto de sua prisão” (20:7). A apostasia será breve, pois se o Senhor não abreviasse aquele período, ninguém se salvaria (Mc 13:19-20). Satanás é solto, ataca o acampamento dos santos e a cidade querida, mas é consumido por fogo do céu. O diabo vai fazer companhia definitiva a seus agentes, a besta e o falso profeta, que já foram lançados no fogo (19:20).
Em Ap 19:17-21 é descrita a morte dos reis da terra e também da besta que recebeu poder do dragão. Agora, acontece a destruição da fonte desse poder. A derrota é progressiva e inexorável.
Os mortos são julgados de acordo com as obras registradas nos livros (Dn 7:10; Is 65:6; Jr 17:1; Ml 3:16; Sl 40:7; 56:8). Esses livros são os registros e arquivos celestes. É decisivo estar inscrito no Livro da Vida.
Na tradição dos rabinos, Gogue e Magogue (v. 8) se tornou uma designação para os exércitos dos maus no tempo do anticristo, antes do fim. As tradições judaicas passaram a ver em Gogue e Magogue os povos que atacam Israel – antes, durante ou depois da era do Messias. O Apocalipse se inspira nas tradições judaicas e em Ezequiel 38, mas deliberadamente exclui a identificação histórica e geográfica, mencionando que esses povos combatem “as nações dos quatro cantos da terra”. Com essa generalização, a imagem transmite que o mundo vai se tornando cada vez mais hostil ao plano de Deus. Mas, a intervenção de Deus, fazendo descer fogo do céu, aniquila essa coalizão contra o acampamento dos santos.
Por enquanto, Satanás está conseguindo vitórias aparentes: a primeira morte. Mas o vencedor – que está consagrado a Jesus Cristo mediante o batismo e se mantém fiel – não sofrerá a segunda morte, que é a perda definitiva do destino à vida eterna (Ap 20:14 e 21:8).
A terra e o céu (v. 11) darão lugar à nova criação de Deus (Is 65:17; 66:22; 2 Pd 3:13). Os redimidos habitarão um novo universo e a característica será a ausência de males e a plenitude de bens.
O mar precisa devolver os mortos. O mar “é o resíduo do caos primitivo e a morada das potências do abismo” (Tradução Ecumênica da Bíblia). Isso significa que os poderes destrutivos, que se opuseram à criação de Deus, terão que devolver os mortos. Nada poderá nos separar do amor de Deus (Rm 8:38-39). A morte e o Hades também devolvem os mortos, e são lançados no lago de fogo. A morte foi destruída. Finalmente foi destruído o “último inimigo” (1 Co 15:26). Todo o mal é erradicado e desaparece.
O lago de fogo e enxofre destina-se a castigar os maus (Ap 19:20; 20:10; 21:8). A imagem está associada à geena de fogo (Mt 18:8-9), da qual se originou. O lago de fogo é a “segunda morte”, a separação definitiva de Deus.
A revelação do fim da história ilumina a caminhada presente da igreja de Jesus Cristo. Assim como o êxodo e o exílio culminaram em libertação, também a opressão do império romano ter o seu fim. O povo de Deus é preservado.
Para o cristão, o decisivo é que seu nome esteja inscrito no Livro da Vida. Ele poderá trajar vestes brancas (Ap 3:5), pois seu nome jamais será apagado.
Capítulo 20:11-15.
Acontece o julgamento final dos mortos. São abertos os livros do julgamento (Dn 7:10). Os mortos comparecem (Dn 12:2).
Alguém sentado: o Messias (At 10:42; 17:31; 2 Cor 5:10). Paulo enfatiza que Deus julgará por meio de Jesus Cristo (Rm 2:16), podendo assim ser estabelecida uma harmonia com Rm 14:10 e Mt 18:35.
Céu e terra são testemunhas de Deus (Dt 30:19; Is 1:2; Os 2:21-22 e Mq 6:2). Céu e terra se retiram, porque o Juiz criará outros novos (21:1).
No livro da vida estão registrados os que alcançam a vida eterna (Ex 32:32; Ap 3:5). O julgamento é realizado segundo as obras (Pr 24:12 e Jo 5:28-29).
O mar devolveu seus mortos. Pode se tratar dos náufragos que não foram sepultados em terra, ou do mar subterrâneo junto ao Sheol (Jn 2:3.7).
O Hades é o reino dos mortos. A Morte é seu senhor supremo (Sl 4:15-16). O último inimigo (1 Co 15:26) será condenado ao fogo. Lemos em Hb 2:14 que o diabo tinha controle sobre a morte.
Capítulo 21.
O novo universo foi anunciado em Is 65:17 e 66:22. O centro é a nova humanidade: a dimensão humana predomina sobre a cósmica. No novo universo há uma ausência de males e uma plenitude de bens. É o ambiente para celebrar o casamento do Cordeiro com a nova Jerusalém.
O mar desaparece: é o oceano primordial e caótico (Sl 74:13-14 e 93:3-4), o resíduo do caos primitivo e a moradas das potências do Abismo.
A cidade é a noiva anunciada em 19:7. Vejamos Is 52:1 e 61:10. A nova Jerusalém desce, pois a noiva é conduzida ao noivo (Sl 45). Ela procede de Deus.
Deus habitará entre os seres humanos (Lv 26:11-12 e Jo 1:14).
A ausência de morte e de lágrimas foi anunciada em Is 25:8; 35:10 e 65:19.
A renovação do universo está em consonância com 2 Co 5:17.
A agitação passou. O Princípio e o Fim (1:8) abrangem tudo (Is 44:6 e 48:12): a criação e a história. Ele dá para beber de graça (Is 55:1) do manancial da vida (Jo 7:37; Jr 2:13 e Ez 47).
O vencedor receberá a herança (1 Cor 15:50 e 1 Ped 1:3-5). Haverá uma relação de Pai para filho / povo (Sl 2:7 e 89:27-28).
O v. 8 adota a mesma expressão encontrada no final do Sl 104.
21:9 – 22:5 – A nova Jerusalém.
A descrição da cidade é a visão da esposa do Cordeiro (Jo 3:29).
Do alto de uma montanha, João contempla a cidade descendo do céu (Ez 40:2-3). Ela é criação de Deus.
A cidade recebe luz da glória de Deus (2 Co 3:18).
A muralha da cidade, com suas portas (Ez 48:30-35) e alicerces, é descrita com seu material (Is 54:11-12) e sua dimensões (Ez 40:3-5). A cidade é um cubo com aproximadamente 1200 km de lado. Lembra o Santo dos Santos: um cubo perfeito de aproximadamente 10 metros de lado e revestido de ouro puro. O cubo é considerado uma forma perfeita. A cidade é o Santo dos Santos celeste. O número doze impera: tribos e apóstolos, pedras preciosas (Ex 28:15-21), anjos.
Surge a pergunta: por que as muralhas, se os malfeitores foram eliminados? Pelos menos as portas não se fecharão. Em verdade, uma cidade se torna completa, quando possui muralhas. Nas doze portas havia doze anjos e estavam inscritos os nomes das doze tribos de Israel. Também havia doze fundamentos, que traziam os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. A Igreja é edificada sobre o fundamento dos apóstolos (Ef 2:20 e Mt 16:18).
Acontece então a grande peregrinação escatológica para Jerusalém, com reunião de todos os povos (Is 60:3.11).
A cidade não necessita de templo, pois conta com a presença de Deus e de Jesus Cristo (Jo 2:19-21). Também não precisa de luz de lâmpada (Ex 25:31.37) e nem da luz do sol (Is 60:1-3.19-20). Na era escatológica, o Corpo de Cristo é o novo templo. A presença de Deus é plena e a comunicação com o Senhor é imediata.
As profecias se cumprem. Vejamos Is 2:5; 60:11 e Sl 72:10.11. O ambiente é litúrgico (Sl 15 e 24).
Do trono de Deus e do Cordeiro brota um rio de água viva (Sl 36:10). Observemos também Ez 47:1-12; Jo 4:18 e Zc 14:8. A vida vem diretamente de Deus e do Cordeiro. Observemos Jo 7:38.
A árvore da vida produz folhas medicinais para as nações. As folhas medicinais ainda são necessárias? A intenção é enfatizar o poder curador da árvore da vida.
Os inscritos no livro da vida verão o rosto de Deus e do Cordeiro. O desejo negado a Moisés (Ex 33:20), suplicado pelo salmista (Sl 11:7 e 17:15) e prometido no Sermão do Monte (Mt 5:8), agora é realizado (1 Jo 3:2).
Não haverá noite, porque depois da Semana Cósmica começou o “dia único” (Z 14:7). Todos reinarão junto com o Senhor.
22:6-21 – Epílogo.
Dois temas:
- como deve ser tratado o livro;
- a parusia (vinda gloriosa) de Jesus Cristo.
A mensagem final é de esperança.
Sobre o livro:
A palavra profética (1:3) está garantida (19:9 e 21:5). Ela é enviada pelo Deus dos espíritos (Nm 27:16) proféticos (1 Cor 12:10; 14:32).
O autor garante que a origem do livro é divina (19:10). Ele escreveu como testemunha de tudo quanto viu e ouviu (1 Jo 1:1-3). Ele não deve selar o livro (ao contrário de Daniel). Os selos já foram rompidos (5:1-5) e o livrinho estava aberto (10:2).
O rebento de Davi é o Messias (Is 11:1).
A expressão “Astro da manhã” advém da profecia de Balaão em perspectiva messiânica.
Nada deve ser acrescentado e nem tirado do livro (Dt 14:2 e 13:1). Será aplicada a lei do talião. Os homens devem persistir em sua conduta (22:11), como anunciou Daniel (12:10).
Diálogo do amor.
A noiva estava preparada (19:7 e 21:9).
O noivo anuncia: “Chego logo” (22:7).
Movida pelo Espírito (que é amor) a noiva responde: “Vem” (22:17).
A comunidade pronuncia em uníssono: “Vem” (22:17).
O noivo – a testemunha – responde: “Sim, venho logo” (22:20).
E todos exclamam: “Vem, Senhor Jesus!” (22:20).
O Apocalipse termina com exclamações amorosas. É a voz do noivo que João Batista escutou com alegria (Jo 3:29). É a comunhão plena!
A MENSAGEM DO APOCALIPSE
Do início ao fim, o Apocalipse anuncia que o final dos tempos está próximo. Acontecerá a volta gloriosa de Jesus Cristo, a redenção dos que lhe pertencem e o juízo final.
A manifestação final de Cristo tem dimensões cósmicas; todo universo será abalado com esse evento.
A história de toda a humanidade se tornará compreensível a partir do final. Desde agora se estabelece a divisão: de um lado, Deus e Cristo com seu povo e a nova Jerusalém; de outro lado, Satanás e a besta com seus seguidores, a prostituta e Babilônia.
Deus tem o seu trono estabelecido sobre o mundo, em majestade e santidade (4:2-3). Ele é o Criador e detém o controle de tudo (4:11 e 10:6). Ele é, ele era e ele vem (1:4.8.17 e 11:17). Ele é o início e o fim (21:6 e 1:8), ele tem o domínio de tudo (4:8; 15:3; 16:7; 19:6 e 21:22). Ele determina o transcurso da história e os poderes das trevas só podem fazer o que ele permite (7:2; 13:5.7.14; 16:8). O mal tem o seu prazo de atuação delimitado. Mesmo em tempos difíceis, Deus continua sendo o Senhor sobre tudo.
Ao lado de Deus está Jesus Cristo como Senhor exaltado. Ele é o Messias e recebe os títulos de “Leão da tribo de Judá” e “Raiz de Davi” (5:5 e 22:16). Ele é denominado de “brilhante estrela da manhã” (22:16), o “Rei dos reis” (17:14 e 19:16). Ele é o “Príncipe dos reis da terra” (1:5), o Filho do Homem celestial, que resplandece em glória ( 1:12-16 e 14:14). Ele retornará como Juiz. Executará o juízo e conduzirá os povos com cetro de ferro (1:7-16; 2:26-29; 12:5; 14:14; 19:11-16). Sua vinda será repentina (16:15). Ele tem na mão a chave da Morte e do Hades (1:18), com a decisão sobre morte eterna e vida eterna. Todos estes títulos adquirem seu sentido a partir da cruz e da ressurreição de Jesus. Ele foi crucificado (11:8) e é a Testemunha fiel (1:5 e 3:14). Seu sangue derramado liberta (5:9; 7:14; 12:11). Ele é o Cordeiro imolado (5:6 e 13:8). Somente ele é digno de abrir os selos do Antigo Testamento (5:9.12). Assim como Deus, ele também é o início e o fim, o primeiro e último (1:17; 2:8 e 22:13). Ele já estava aí antes de todos os tempos e é anterior à criação do mundo (3:14). Somente ele é o Filho de Deus (2:18) e Deus é seu Pai (1:6). Ele vive (1:18) como Deus (4:9-10; 10:6; 15:7) e é onisciente como Deus (1:14; 19:12; 2:2.9.13.18-19.23). Junto com o Pai, ele conduz a história até o final (19:11-21). E recebe louvor e adoração (1:6; 5:8-14; 7:10; 11:15; 12:10 e 19:6-7). Até a parusia, a glória de Cristo está oculta sob a Cruz.
A Igreja de Jesus Cristo tem sua caminhada pautada pela cruz do Senhor. Jesus adquiriu sua igreja com seu sangue (5:9). Os cristãos foram resgatados como primícias (14:4). O sangue de Cristo liberta de pecados (1:5; 7:14 e 22:14). Vencedor é aquele que persevera na Palavra em meio à tentação (12:11). Os cristãos tornam-se reis e sacerdotes (1:6) para reinar com ele (5:10; 17:14; 20:4.6). Seus nomes estão inscritos no Livro da Vida (3:5; 13:8; 17:8; 20:12.15; 21:27). O povo foi selado com o selo de Deus e do Cordeiro (7:1-8 e 14:1-5). Sofrem a oposição dos falsos judeus (2:9 e 3:9). Nos tempos finais, os seguidores de Jesus se deparam com sofrimento e terão de carregar a cruz (1:9 e 6:9-11). O decisivo é manter-se fiel em meio ao sofrimento (1:2-9; 6:9; 12:11.17; 19:10). O sofrimento que coube ao Senhor também está reservado aos que o seguem (11:3-13; 2:13; 17:6). Em meio a essa realidade, as orações dos cristãos são ouvidas (6:9-11; 8:3-4). Deus ouve o clamor e vinga o sangue derramado (16:6; 17:6; 18:20-24 e 19:2). A vitória de Deus é certa e por isso a Igreja militante se une em louvor à Igreja triunfante para celebrar o senhorio de Deus e do Cordeiro (7:9-17; 11:15-17; 12:10-12; 14:2-3; 15:3-4 e 19:1-10). Por ora, a proclamação profética transmite ânimo e conforto à Igreja ameaçada pelo sofrimento e pela tentação. Mediante o Espírito de Deus, que está presente nos profetas (19:10 e 22:6), a Igreja recebe a Palavra do Senhor exaltado (1:3; 14:13; 22:17; 2:7.11). Os cristãos são exortados a perseverar (13:10 e 14:12). As sete bem-aventuranças são anunciadas para os que permanecerem fiéis (1:3; 14:13; 16:15; 19:9; 20:6; 22:7.14): é importante guardar a Palavra (1:3 e 22:7), vigiar (16:15), preservar o testemunho até à morte (14:13), ter a vestimenta lavada (22:14), ser convidado para o casamento do Cordeiro (19:9) e participar na primeira ressurreição (20:6).
Diante da revelação de Jesus Cristo, o mundo se posiciona em inimizade e hostilidade contra Deus, Jesus Cristo e seu povo. Os poderes satânicos sabem que lhes resta pouco tempo e por isso se agitam (12:12). Enquanto este mundo se defronta com seu final (6:1-17; 8:7-9.21 e 16:1-21), aumenta a intensidade do mal. O dragão quer destruir a mulher e a criança, que é o Messias (12:1-7). A serpente primitiva, também denominada diabo e Satanás (12:9 e 20:2), envia suas tropas para causar o mal. As figuras satânicas surgem como uma caricatura de Deus, do Cordeiro e do seu povo. A besta é uma criatura do dragão. O poder dos impérios do mundo toma forma na besta. Ela tem uma ferida mortal, que é novamente curada (13:3.14; 17:8). É adversário do Cordeiro, que morreu e ressuscitou. Está coberta de blasfêmias, reivindicando honras divinas para si (13:5 e 17:3). Mediante sinais e prodígios desponta o Falso Profeta, divulgando o culto da Besta com pretensa legitimação divina (13:16). A besta ganha seguidores de todas as tribos, povos, línguas e nações (13:7); é como se se formasse uma anti-igreja (5:9-10 e 7:9). Os seguidores da besta recebem o selo que para evidenciar que se tornaram sua propriedade (13:16-17; 14:9.11; 19:20; 20:4). Os servos de Deus são selados e, como povo do Senhor, deparam-se com hostilidade mortal (7:1-8; 9:4; 14:1; 22:4). Defrontam-se a mulher, que é o povo de Deus (12), com a Prostituta Babilônia (17), a noiva do Cordeiro (19:7-8 e 21:9) com a Prostituta devassa (17), Jerusalém, a cidade amada (20:9), que desce do céu à terra (21:2.10-11) com a Babilônia rejeitada e perversa (14:8; 16:19; 17:5; 18:1-8). O conflito dos últimos tempos é de amplitude mundial. Os dominadores do mundo querem ser adorados e obedecidos. Ninguém deve questionar suas pretensões divinas. No entanto, Deus continua com o controle dos acontecimentos; ele estabel