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  • Foto do escritorMaria Luiza Rückert

O REINO DE DEUS E O DEMONÍACO



O pensamento de Paul Tillich.

Citações extraídas da Teologia Sistemática.

“Não é exagero dizer que hoje o homem experimenta sua presente situação em termos de dilaceração, conflito, autodestruição, falta de sentido e desespero em todos os reinos da vida”.

“O demoníaco cega; não revela. No estado de possessão demoníaca a mente não está de fato ‘fora de si mesma’. Ela de fato está em poder de elementos dela mesma, que aspiram ser a totalidade da mente, que se apoderam do centro do eu racional e o destroem. Há, contudo, um ponto de identidade entre êxtase e possessão. Em ambos os casos, a estrutura sujeito-objeto da mente é desativada. Mas, êxtase divino não viola a totalidade da mente racional, enquanto que possessão demoníaca a enfraquece ou destrói. Isso indica que, embora êxtase não seja um produto da razão, ele não destrói a razão”.

“Segundo Paulo, os poderes demoníaco-idólatras que regem o mundo e distorcem a religião foram conquistados na cruz de Cristo”.

“O demoníaco é a elevação de algo condicional a um significado incondicional”.

“A revelação é a resposta às perguntas implícitas nos conflitos existenciais da razão”.

“O santo é uma qualidade daquilo que preocupa o homem de forma última. Só aquilo que é santo pode dar ao homem preocupação última. E só aquilo que dá ao homem preocupação última tem a qualidade de santidade”.

“Politeísmo é um conceito qualitativo e não quantitativo. Não é uma crença numa pluralidade de deuses mas sim a falta de um último unificador e transcendente que determina seu caráter. Cada um dos poderes divinos politeístas reivindica ultimacidade na situação concreta que aparece. Isto leva a reivindicações conflitantes e ameaça destruir a unidade do eu e do mundo”.

“Também é verdade que não existe maneira de falar sobre Deus a não ser através de termos mitológicos”.

“Portanto, a relação pesoa-a-pessoa entre Deus e o homem é constitutiva para a experiência religiosa. O homem não pode estar interessado em forma última por algo que seja menos do que ele é, algo impessoal”.

“O amor divino é a resposta final à questão implícita na existência humana incluindo a finitude, a ameaça de desintegração e alienação. Esta resposta é dada realmente só na manifestação do amor divino sob as condições da existência”.

“Se Deus é invocado como ‘Meu Senhor’, está incluído o elemento paternal. Se Deus é invocado como ‘Pai nos Céus’, o elemento de senhorio está incluído. Eles não podem ser separados; até mesmo a tentativa de enfatizar um mais do que o outro destrói o sentido de ambos. O Senhor que não é Pai é demoníaco; o Pai que não é Senhor é sentimental”.

“O cristianismo afirma que Jesus é o Cristo. O termo ‘o Cristo’ aponta, por marcado contraste, para a situação existencial do homem. Pois o Cristo, o Messias, é aquele que deve trazer o ‘novo Eon’, a regeneração universal, a nova realidade. Nova realidade pressupõe uma velha realidade; e esta velha realidade, segundo as descrições proféticas e apocalípticas, é o estado de alienação do homem e seu mundo com relação a Deus. Este mundo alienado é regido por estruturas do mal, simbolizadas como poderes demoníacos. Eles regem as almas individuais, as nações, e até mesmo a natureza. Eles produzem ansiedade em todas as suas formas. É tarefa do Messias conquistá-los e estabelecer uma nova realidade, da qual os poderes demoníacos ou as estruturas de destruição estejam excluídos”.

“Não é a experiência do tempo como tal que produz desespero; antes, porém, é o fracasso em opor resistência contra o tempo. Em si mesma, essa resistência brota da pertinência essencial do homem ao eterno, de sua exclusão dela no estado de alienação, e do seu desejo de transformar os momentos transitórios de seu tempo numa presença duradoura. Sua indisposição existencial de aceitar sua temporalidade converte o tempo numa estrutura demoníaca de destruição para ele”.

“O termo ‘salvação’ tem tantas conotações quantas são as negatividades que necessitam de salvação”.

“O malogro que Satanás sofreu por parte de Cristo tem uma dimensão metafísica profunda. Ele aponta para a verdade de que o negativo vive do positivo, ao qual distorce. Se ele vencesse completamente o positivo, destruiria a si mesmo. Satanás nunca pode prender Cristo, pois Cristo representa o positivo da existência porque representa o Novo Ser. A traição de Satanás é um motivo espalhado em toda história da religião, porque Satanás, o princípio da negação, não tem realidade independente”.

“A mensagem do cristianismo foi de libertação com relação ao temor demoníaco”.

“E a reivindicação de algo finito querer ser infinito ou de aspirar à grandeza divina é característica do demoníaco”.

“A característica principal do trágico é o estado de ser cego; a característica principal do demoníaco é o estado de ser desintegrado”.

“Religião é o ponto no qual é recebida a resposta à busca do que é sem-ambiguidade”.

“Toda religião se baseia em revelação e toda revelação se autoexpressa numa religião”.

“O êxtase não destrói a centralidade do eu integrado. Caso o fizesse, então seria possessão demoníaca substituindo a presença criativa do Espírito”.

“O finito não pode forçar o infinito; o homem não pode violentar a Deus. O espírito humano como dimensão da vida é ambíguo, como o é toda forma de vida, ao passo que o Espírito divino cria vida-sem-ambiguidade”.

“Nesse sentido podemos dizer que uma igreja é uma comunidade daqueles que afirmam que Jesus é o Cristo”.

“A igreja pode incorrer em erros desintegradores, destrutivos ou mesmo demoníacos”.

“Nessa situação o fanatismo, como sempre, é resultado de uma insegurança interior, e a perseguição, como sempre, é produzida pela ansiedade”.

“A igreja mostra sua presença como igreja apenas quando o Espírito irrompe nas formas finitas e as conduz para além de si mesmas”.

A psicologia “redescobriu a realidade do demoníaco em cada pessoa”.

“Santificação inclui a consciência do demoníaco bem como do divino. Essa consciência, que aumenta no processo de santificação, não conduz ao surgimento do ‘homem sábio’ dos estoicos, que é superior às ambiguidades da vida porque venceu suas paixões e desejos, mas sim a uma consciência dessas ambiguidades em si, como nos demais, e ao poder de afirmar a vida em sua dinâmica vital apesar de suas ambiguidades”.

“A vinda do Cristo não significa a fundação de uma nova religião, mas a transformação do antigo estado de coisas. Consequentemente, a igreja não é uma comunidade religiosa, mas a representação antecipatória de uma nova realidade, o Novo Ser como comunidade”.

“Os conflitos históricos entre o velho e o novo atingem seu estágio mais destrutivo quando um dos lados reivindica para si ultimacidade autoelevada. Essa reivindicação à ultimacidade é a definição do demoníaco, e em nenhum lugar o demoníaco é tão manifesto como na dimensão histórica”.

“Esses conflitos atingem uma destrutividade infinitamente maior nas guerras e perseguições religiosas”.

Uma reivindicação arrogante da igreja pode evidenciar “tanto seus traços divinos quanto demoníacos”.

Devemos entender o Reino de Deus “com os escritores bíblicos, como um poder dinâmico sobre a terra por cuja vinda oramos no Pai Nosso e que, conforme o pensamento bíblico, está em luta com os poderes demoníacos que atuam com grande força tanto nas igrejas quanto nos impérios”.

“A referência ao império romano – às vezes visto como o último e maior da série dos impérios – mostra que a visão dos poderes demoníacos não é meramente imaginária”.

“O Novo Testamento acrescenta um elemento novo a essas visões: o aparecimento intra-histórico de Jesus como o Cristo e a fundação da igreja no meio das ambiguidades da história”.

“Onde aumenta o poder do bem, também aumenta o poder do mal”.

“As igrejas que representam o Reino de Deus em sua luta contra as forças de profanização e demonização estão elas mesmas sujeitas às ambiguidades da religião e expostas à profanização e demonização”.

“Sua luta contra o demoníaco e o profano é dirigida contra o demoníaco e o profano na própria igreja”.

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