Maria Luiza Rückert
Resumo dos escritos do Novo Testamento

Paulo Rückert
Os 27 escritos, que compõem o Novo Testamento, são aqui apresentados de forma muito resumida. E são relacionados na sequência em que foram escritos. O NT teve início com as cartas do Apóstolo Paulo. Atualmente, o NT apresenta as cartas de Paulo numa sequência de tamanho: da maior à menor.
1 Tessalonicenses
Durante a segunda viagem, Paulo chegou a Tessalônica.
Atos 17:1-9 – Início da atividade em Tessalônica. Inveja dos judeus.
Atos 17:10-15 – Paulo e Silas partiram de noite para Bereia.
1 Tessalonicenses 3:1-5 – De Atenas, Paulo enviou Timóteo a Tessalônica.
1 Tessalonicenses 3:6-10 e Atos 18:5 – Timóteo retornou com notícias boas e um questionamento teológico.
A saída precipitada de Tessalônica: os judeus foram tomados de inveja (At 17:5) e acusaram os cristãos de anunciarem outro rei, Jesus (v. 7).
Silas e Timóteo reencontraram Paulo em Corinto (At 18:5). Trouxeram notícias boas e um questionamento teológico, que ensejou a primeira carta. O questionamento teológico encontra-se em 1 Ts 4:13-5:11. Paulo respondeu escrevendo a Primeira Carta aos Tessalonicens, no ano 51.
Esta carta veio a se tornar o primeiro escrito do Novo Testamento.
Para ilustrar a parusia (vinda) de Jesus Cristo, Paulo recorre a dois temas do AT:
- a vinda do Senhor (Is 63:1; Zc 9:9; Sl 96:11-13; 98:9).
- o Dia do Senhor (Ob 15; Ml 4:5; Am 5:18; Sf 1:14-15).
O “Dia de Iahweh” passa a ser o “Dia do Senhor Jesus”.
Paulo contava com a vinda iminente de Jesus. Ele nem se preocupou em organizar a igreja com a instituição de presbíteros e diáconos.
A proximidade do juízo implica vida cristã responsável. A carta dignifica o trabalho braçal (4:11).
Os tessalonicenses se afastaram dos ídolos e se converteram ao Deus vivo e verdadeiro (1:9).
2 Tessalonicenses
A expectativa em torno da parusia provocou equívocos (2 Ts 2:2). Algumas pessoas passaram a viver na desordem (3:6) e abandonaram o trabalho (3:10-12).
Paulo escreveu para esclarecer que a vinda do Senhor é certa, mas a hora é incerta.
O Dia do Senhor será precedido de sinais.
Antes da parusia virá o “homem da iniquidade” (2:8-9).
As etapas dos últimos tempos são: a atuação de Satanás, a apostasia, a parusia do Senhor Jesus.
Algo retém a iniquidade (2:6): o Evangelho.
Alguém retém o ímpio (2:7): a atuação do pregador.
A impiedade já está atuando, mas o ímpio será destruído pela manifestação da parusia de Jesus Cristo (2:8).
Filipenses
Atos 16:11-15 – Paulo chegou a Filipos.
A epístola aos filipenses, como consta atualmente no NT, é constituída de 3 cartas. Preso em Éfeso, Paulo escreveu as duas primeiras cartas.
Carta A (4:10-20) – Os filipenses enviaram Epafrodito, que trouxe donativos a Paulo. Gratidão e alegria pelos donativos trazidos por Epafrodito.
Carta B (1:1-3:1; 4:4-9.21-23). Em Éfeso, Epafrodito adoeceu gravemente (2:27). Os filipenses são exortados a manter a unidade na humildade (2:1-5). E devem se empenhar pela sua salvação (1:27-30; 2:12-17). Destaque da carta: o Hino Cristológico (2:6-11). Paulo deseja enviar Timóteo a Filipos (2:19-24).
Carta C (3:2-4:3). Polêmica contra os judaizantes, que insistiam na circuncisão. Essa carta não pressupõe a prisão de Paulo, que deve ter recuperado a liberdade.
Colossenses
Paulo nunca esteve em Colossos (1:4; 2:1).
A igreja de Colossos foi fundada por Epafras (1:7; 4:12-13).
Um movimento se infiltrou na igreja e propôs abstinência e observâncias legalistas (2:16-19).
A carta foi encaminhada por Tíquico (4:7-9), o mesmo que levou a carta aos efésios (Ef 6:21-22).
Em Cristo habita a plenitude de Deus (2:9).
Cristo subjugou todos os poderes (2:15).
O Hino Cristológico (1:15-20) ressalta a centralidade de Cristo na criação e na reconciliação. A temática da carta é Cristológica.
O batismo é “a circuncisão de Cristo” (2:11). Os colossenses devem orientar a nova vida a partir do batismo (2:20-3:4).
A ética cristã deve se realizar “no Senhor” (3:18-4:1). Deve haver vigilância e oração (4:2-4).
Filemom
Filemom tornou-se cristão por intermédio de Paulo (v. 19).
O escravo Onésimo havia fugido de Filemom e foi convertido por Paulo na prisão (v. 10). É possível que Onésimo tenha cometido algum furto (v. 18).
Paulo pede que Filemom receba Onésimo como “irmão amado” (v. 16), ou como se fosse o próprio apóstolo (v. 17). Com esse pedido, ele parece estar sugerindo a libertação do escravo.
Onésimo voltou com Tíquico para Colossos, tornando-se “o fiel e amado irmão” (Cl 4:7-9).
O intercâmbio entre Paulo e a igreja de Corinto.
Durante a segunda viagem missionária, Paulo viajou de Atenas para Corinto, onde ele permaneceu dezoito meses (At 18:11).
Durante a terceira viagem, estando em Éfeso, Paulo recebeu más notícias de Corinto.
Ele escreveu então a carta mencionada em 1 Co 5:9. Trata-se do fragmento que atualmente se encontra em 2 Co 6:14-7:1. É uma exortação para se afastar e separar do mundo pagão. Corresponde à ideia de um povo separado – um tema do AT.
Paulo enviou Timóteo a Corinto (1 Co 4:17 e 16:10). Os coríntios consultaram Paulo por carta (1 Co 7:1).
Paulo respondeu a consulta, escrevendo a que atualmente é considerada 1 Coríntios. Havia divisões, discórdias e escândalos na igreja de Corinto. A essa situação, Paulo enfatiza a mensagem da cruz e contrapõe a sabedoria de Cristo, que é dádiva de Deus mediante o Espírito. O cap. 5 trata do caso de incesto. “Em flagrante oposição à suficiência dos coríntios se encontram duas condutas que Paulo vai denunciar. O incesto, condenado por judeus e pagãos, não é sinal da nossa liberdade cristã, da qual os coríntios podem gabar-se, e sim vergonha que fomenta a fermentação do mal na comunidade inteira, como o fermento na massa. Por isso, é preciso extirpar o culpado (Dt 17,7.12 e outras dez vezes). A exclusão da comunidade ou excomunhão – afastá-lo de Cristo, entregá-lo a Satanás – deve ser medicinal para o culpado, para que extirpe sua conduta ‘instintiva’, imoral” (Bíblia do Peregrino). O cap. 6 aborda os litígios. “Às facções (cap. 1) se acrescenta a desgraça dos processos, com a agravante de que assuntos de família acabam expostos e submetidos aos de fora” (Bíblia do Peregrino). Paulo também aborda o celibato e o casamento. Havia também o problema da carne sacrificada aos ídolos. “A carne que sobrava de banquetes cultuais em honra de deuses pagãos era vendida no mercado ou consumida em contexto profano” (Bíblia do Peregrino). O amor deve prevalecer (cap. 9). “Nesse capítulo, Paulo desenvolve o princípio com seu exemplo: os direitos de um apóstolo e a renúncia a eles pelo bem da comunidade” (Bíblia do Peregrino). Também são tratados os costumes na igreja de Corinto e as instruções sobre a Ceia do Senhor. “Em Corinto, ao que parece, os dons espirituais ou ‘carismas’ davam origem a divisões por inveja ou competição, por vaidade comparativa. Paulo responde desenvolvendo duplo argumento: origem e função. A origem é única e mantém um controle unificado: o Espírito. A função é plural, mas de forma orgânica, ou seja, existe uma diferenciação a serviço da unidade do organismo” (Bíblia do Peregrino). No cap. 13, o apóstolo desenvolve o hino ao amor, o dom supremo. Os diversos dons devem visar o bem comum (cap. 14). No cap. 15 é abordada a ressurreição dos mortos. “Exposição fundamental sobre a ressurreição. A ressurreição de Cristo, objeto da profissão de fé das testemunhas (vv. 1-11); a ressurreição dos cristãos correlativa à de Cristo (vv. 12-34); o modo da ressurreição (vv. 35-58)”, comenta a Bíblia do Peregrino. O cap. 16 contém recomendações e saudações.
A seguir, Paulo escreveu a Carta A (2 Co 2:14-6:13 e 7:2-4) – a Defesa do Apostolado. “Aqui começa a grande seção sobre seu ministério apostólico, que se estende até 7,4, interrompida por uma inserção heterogênea em 6,14-7,1” (Bíblia do Peregrino). A pregação de Paulo é sincera e ele confia em Deus. Em 4:16-5:10 – “Recorda e desenvolve o tema da tribulação presente e da glória futura, entretecendo sem ordem rigorosa três imagens. A tenda, que se arma e desarma, comparada com o edifício permanente; o desterrado ou peregrino comparado com o cidadão; o nu comparado com o vestido ou revestido” (Bíblia do Peregrino). Em 7:2-4 – “Continuação de 6,13. Os problemas e tensões com os coríntios parecem resolvidos. Triunfam o consolo e a alegria” (Bíblia do Peregrino).
Paulo realizou a visita intermediária a Corinto. Nessa visita, Paulo sofreu uma ofensa pessoal (2 Co 2:1-11).
Paulo escreveu a Carta B (2 Co 10-13) – a Carta das Lágrimas. “Nas entrelinhas de sua apologia podemos encontrar palavras e entrever as atitudes de seus rivais em Corinto” (Bíblia do Peregrino). Cap. 12 – “É importante fixar a atenção sobre o contraste proposital de visões e fraquezas. Das visões pode afirmar o fato e dizer algo sobre a experiência anormal ou supranormal; nada pode dizer de exato sobre o conteúdo, que considera inefável. Podemos chamar essas experiências de êxtases, fenômenos místicos em sentido próprio. Se é assim, Paulo encabeça uma longa série de místicas e místicos cristãos” (Bíblia do Peregrino). Cap. 13 – “Os coríntios reconhecem o poder de Cristo, provavelmente nos sinais e prodígios realizados em seu nome. Em Paulo, só veem a fraqueza: porque sentem falta de um chefe dominador ou porque zombam de sua ineficácia” (Bíblia do Peregrino). O interesse de Paulo é edificar.
Paulo teve de abandonar Éfeso.
Paulo enviou Tito a Corinto.
Os dois se reencontraram na Macedônia. Tito comunicou que houve a reconciliação entre Paulo e os coríntios.
Paulo escreveu a Carta C (2 Co 1:1-2:13 e 7:5-16) – a Carta da Reconciliação. Consolo na tribulação (1:3-11). Perdão para o ofensor (2:5-11). Em 7:5-16 –“Efeito positivo da carta severa. Predominam no parágrafo as palavras ‘tristeza, entristecer’, repetidas oito vezes, contrastadas em ‘alegria e consolo’: temas da carta” (Bíblia do Peregrino).
Tito viajou a Corinto e organizou as ofertas.
Paulo escreveu 2 Co 8 – recomendando Tito para o levantamento de ofertas.
Paulo escreveu 2 Co 9 – para acelerar o encaminhamento de ofertas.
Aconteceu a terceira viagem de Paulo a Corinto.
Gálatas
Paulo lembra aos gálatas como foi o início da evangelização (4:13-15). Uma enfermidade havia forçado Paulo a passar um tempo na Galácia. Observemos At 16:6-7. A doença de Paulo poderia ter afastado os gálatas. Mas, eles não mostraram repugnância (literalmente: cuspido, para afastar as consequências de um encontro com certos tipos de doentes). Pelo contrário, os gálatas o acolheram como um anjo, como o próprio Cristo. Eles aderiram à verdade do Evangelho. E agora? Assediados pelos judaizantes, os gálatas querem andar segundo a carne (3:1-5).
É a primeira vez que Paulo aborda em carta a questão da lei. Mostra que a lei não vence o instinto egoísta; este deve ser conduzido pelo Espírito. Em Gl 5:16-26, o termo “carne” deve ser traduzido por egoísmo. O cumprimento da lei não possibilita o dom da justiça; o que importa é a fé em Jesus Cristo. O cristão obtém a justiça, torna-se filho de Deus, e recebe o dom do Espírito. As boas obras (o cumprimento da lei) não são requisito para a justiça. As boas obras são o resultado da ação do Espírito na vida da pessoa que crê em Jesus.
Indignado, Paulo escreveu uma carta enérgica. Fez uma defesa ardorosa de seu apostolado e de sua pregação. Paulo se considera mais judeu que os outros (1:13-14). Por isso, tem autoridade para afirmar que uma pessoa pode deixar o paganismo e abraçar a fé cristã.
Numa carta cheia de paixão, Paulo afirma que não recebeu o Evangelho por parte dos homens, mas diretamente de Deus (1:10 - 2:21). A missão de Paulo tem a sua origem em Jesus Cristo, que é o centro da mensagem.
Na segunda parte (3:1 - 5:12) demonstra que a salvação vem pela fé e não pela Lei. Esta é a questão fundamental abordada na carta; é o tema principal.
Na terceira parte (5:13 - 6:10) salienta que a liberdade cristã deve ser vivida no amor. Deve haver uma responsabilidade ética.
Na conclusão (6:11-18) adverte severamente os judaizantes. E mostra que a Igreja de Jesus Cristo é o Israel de Deus. Jesus Cristo dá um sentido à história.
A sua carta é polêmica, em tom agressivo, o que evidencia a sua profunda indignação. A perturbação desencadeada na Galácia ia frontalmente contra a essência da mensagem e da missão de Paulo. Os judaizantes queriam que os pagãos passassem pelo judaísmo para então se tornarem cristãos. A carta de Paulo expressa dureza (“insensatos” – 3:1) e ternura (“meus filhos” – 4:19 e “irmãos” – 4:12.28.39 e 5:11).
A vida cristã deve ser motivada pelo compromisso com Jesus Cristo, e não pela observância rígida e estéril de leis e ritos. Neste novo estilo de vida é que se manifesta a liberdade cristã. É uma argumentação vibrante em defesa da liberdade cristã (5:1-6).
Paulo mostra o antagonismo entre Lei e Espírito, e entre Espírito e instinto egoísta (carne – 5:16-26).
A Lei escraviza, e a fé emancipa. A promessa fundamenta a lei, mas a lei não anula a promessa. A carta apresenta a justificação pela fé em Jesus Cristo. Mais tarde, na carta aos Romanos o tema é aprofundado. Gálatas é um escrito polêmico, Romanos uma exposição doutrinal.
Para obter o dom da justiça, vale só a fé em Jesus Cristo. Obtida a justiça, o cristão deve ordenar sua conduta, ou seja, “andar no Espírito” (5:25). As boas obras não são requisito para a justiça, elas são o resultado da ação do Espírito no cristão.
A fé cristã corria o risco de se transformar numa seita judaica de caráter messiânico. A enérgica intervenção de Paulo contribuiu para que a fé cristã se tornasse universal.
Estrutura da carta aos romanos:
As cinco partes da Carta articulam-se organicamente.
1ª Parte – Introdução.
1:1-7 – um prescrito com grande densidade teológica.
1:8-15 – Paulo está disposto a anunciar o Evangelho também em Roma.
1:16-17 – como se fosse o título da carta.
2ª Parte – 1:18 – 3:20 = Primeiro grande bloco temático.
Todas as pessoas estão presas no pecado. Todos os seres humanos podem conhecer Deus, mas não tributam ao Criador a devida glória. A humanidade se encontra sob a ira de Deus.
3ª Parte – 3:21 – 8:39 = Segundo grande bloco temático.
A salvação é uma dádiva de Deus. A fé é a disposição para aceitar essa dádiva. O ser humano é justificado gratuitamente mediante a fé (a acolhida da oferta de Deus). O exemplo de Abraão (cap. 4). Viver a partir da fé e livre do pecado, da lei, do juízo, da ira divina, da morte e do juízo (cap. 5-8). O pecado e a morte vieram por intermédio do primeiro Adão; a justiça e a vida, pelo segundo Adão (cap. 5). A pessoa batizada é livre do poder do pecado, podendo se conduzir em novidade de vida sob a orientação do Senhor (cap. 6). O cristão não está mais sujeito à lei, mas vive no Espírito (cap. 8).
4ª Parte – 9 – 11 = O agir de Deus na história de Israel.
A desobediência dos homens não anula as promessas de Deus. Apesar de Israel ter rejeitado Jesus como revelação de Deus, a fidelidade divina permanece. Deus continua fiel ao seu propósito salvífico.
5ª Parte – 12 – 16 = O agir de Deus resulta em ética cristã.
O indicativo salvífico (o agir de Deus) resulta em imperativo ético (a conduta livre do poder do pecado).
No cap. 16, Paulo apresenta uma lista de 26 nomes de pessoas, para as quais envia saudações. Como ele conhece tantas pessoas em Roma?
Um grande número de teólogos considera Rm 16:1-23 um fragmento de uma carta endereçada a Éfeso. Priscila e Áquila, Epêneto, Andrônico e Júnia são pessoas ligadas a Éfeso. A carta aos romanos teria sido concluída em 15:33. Mesmo que o cap. 16 tenha sido endereçado originalmente a Éfeso, a autenticidade do fragmento não é contestada; trata-se de um escrito redigido por Paulo.
A carta aos romanos é composta de dois blocos distintos: um doutrinal (1-11), e outro exortativo (12-16).
Como observamos, a Carta se originou a partir de um diálogo com os judeus.O fluxo retórico do ditado de Paulo não se deixa enquadrar em parágrafos. Mas, podemos dividir os temas da seguinte maneira:
- 1:18 – 3:20 – Tribulação – pagãos e judeus sob a condenação divina;
- 3:21 – 4:25 – A justificação de todos os que creem, pela graça de Jesus Cristo;
- 5:1-14 – Tribulação da humanidade solidária com o primeiro Adão;
- 5:15 – 6:23 – Salvação da humanidade pela solidariedade com Jesus Cristo;
- 7:1-25 – Tribulação da humanidade escrava da lei;
- 8:1-39 – Libertação da humanidade pelo Espírito;
- 9:1-10:21 – Tribulação de Israel em sua rejeição de Cristo;
- 11:1-36 – Salvação do novo Israel composto de judeus e pagãos.
As quatro descrições da tribulação e da salvação são apresentadas em diferentes abordagens:
- jurídica para a primeira (a Lei e a justificação);
- sacramental para a segunda (o batismo e a solidariedade com Cristo na morte e na ressurreição);
- espiritual para a terceira (Espírito e liberdade);
- histórica para a quarta (o Israel de Deus: judeus e pagãos).
Para a redação da carta aos Romanos podem ser apontados
cinco motivos secundários:
- Paulo quer compartilhar algum dom espiritual com os cristãos de Roma (1:11);
- O apóstolo quer apresentar seu programa teológico (2:16 e 16:25);
- Paulo pretende passar por Roma e de lá seguir para Espanha (15:23-24);
- Paulo pede a intercessão dos cristãos de Roma em vista de sua viagem a Jerusalém (15:30-31);
- O apóstolo não quer dar a impressão de construir sobre alicerce alheio;
e um motivo principal:
- Paulo pede que todos os cristãos de Roma se acolham mutuamente (15:7). Paulo quer evitar uma ruptura na igreja de Roma, pois havia o partido dos judaico-cristãos e o dos gentílico-cristãos. A unidade da igreja requer a aceitação mútua dos cristãos – tanto os que vieram do judaísmo como os que procederam do paganismo.
1 Timóteo
Timóteo deve desempenhar com firmeza e coragem a função que recebeu de Cristo mediante a imposição das mãos dos presbíteros. Deve se tornar um defensor da verdade e organizar a igreja. Os falsos mestres estavam perturbando a igreja de Éfeso. Eram gnósticos que ensinavam uma mistura de ascetismo e entusiasmo. Queriam alcançar a salvação mediante a gnose, isto é, o conhecimento. Ocupavam-se com especulações, fábulas e genealogias. Proibiam o casamento e certos alimentos (4:3). Muitas mulheres abandonaram seus lares, para desfrutar uma “liberdade” alcançada mediante a gnose (2:8-15), e são exortadas a valorizar a maternidade, e conservar a modéstia e a fé. O hino litúrgico (3:16) destaca o mistério da fé. Os cristãos não devem cultuar o imperador, mas devem interceder por ele (2:1-2). Os cargos de presbíteros e diáconos são importantes para a estruturação da igreja, e deve haver um zelo pela “sã doutrina”.
Tito
A carta a Tito nos transmite a informação de que alguns grupos judaicos se ocupavam com “fábulas judaicas” (Tt1:14), com “discussões insensatas, genealogias, contendas e debates sobre a lei” (3:9). Os ‘mandamentos de homens desviados da verdade’ também estavam provocando confusão (1:14). Em Creta havia uma numerosa colônia judaica. Além disso, costumes pagãos estavam se infiltrando na igreja.
Os cristãos são lembrados de que a salvação foi trazida por Cristo. Devem ser traçadas normas de conduta e a igreja precisa estar organizada. Tito é incentivado a cuidar da edificação espiritual da igreja.
O centro da carta é a “sã doutrina”. Merece destaque a teologia Cristológica de 2:11-15 e 3:4-7.
Tito deve instituir presbíteros, que se empenhem pela sã doutrina. As lideranças devem ensinar e praticar a sã doutrina (2:1-10). Aqueles que contradizem a salvação gratuita trazida por Cristo, devem ser calados por intermédio do reto ensino e da reta conduta. A graça de Deus educa as pessoas (2:11-15). Por sua misericórdia, Deus manifestou sua bondade e seu amor pela humanidade (3:4-7). As discussões insensatas, as controvérsias inúteis e os homens sectários devem ser evitados (3:8-11).
Esta carta deve ter sido escrita no ano 64.
Efésios
A carta é o resultado de uma reflexão longa e amadurecida.
Podemos perceber na carta dois grandes blocos:
- 1:3 - 3:21: A Igreja é o Corpo de Cristo.
Fomos escolhidos por Deus antes da fundação do mundo. Devemos vivenciar o mistério de Cristo. A doutrina apostólica é o fundamento da igreja. Judeus e pagãos são acolhidos na igreja, constituindo uma unidade em Cristo. Não existe mais barreira entre Israel e as nações pagãs.
- 4:1 - 6:20, Diversidade de dons e unidade de espírito na Igreja.
Devemos nos revestir da nova natureza. A família deve ser estável. Nossa vida de fé é um combate espiritual. É uma exortação aos batizados. O batismo significa a participação dos cristãos no destino de Cristo.
A morte e a ressurreição de Cristo provocam uma transformação radical na pessoa que crê. A pessoa deve abandonar a antiga maneira de viver, para se “revestir de Cristo”.
A carta apresenta uma fundamentação Cristológica para o relacionamento entre as pessoas. Os filhos devem obedecer aos pais “no Senhor” (6:1).
A união entre Cristo e sua igreja proporciona uma nova dimensão às relações interpessoais. Em 5:22-6:9 é apresentado um catálogo de normas para o convívio no lar. O critério para esse relacionamento encontra-se em 5:21 – “sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo”. Este versículo é programático das normas para o lar.
Numa sociedade que desprezava o labor braçal, Paulo confere dignidade ao trabalho, apontando para uma dimensão social (4:28).
Enquanto a carta aos Colossenses enfatiza que a plenitude divina veio habitar em Cristo (2:9), a epístola aos Efésios salienta que a Igreja é a plenitude de Cristo (1:22-23). A temática de Colossenses é cristológica; a de Efésios é eclesiológica.
A ideia fundamental da carta é a universalidade da Igreja e sua união com Cristo. A Igreja é simultaneamente terrestre e celeste e sua missão é de amplitude cósmica (3:9-10).
2 Timóteo
A segunda carta a Timóteo é um escrito bem mais pessoal. O principal interesse é a relação pessoal entre Paulo e Timóteo.
No ano 67, Paulo estava novamente na prisão em Roma. O apóstolo se encontrava só. Somente Lucas permaneceu com ele (4:11). Ninguém o defendeu no tribunal (4:16). Ele percebia que o seu fim estava próximo. A carta é considerada o testamento espiritual de Paulo.
Paulo continua firme e manifesta gratidão. Antes de morrer, ele quer rever seu “amado filho Timóteo” e confirmá-lo na missão. Paulo apresenta um programa pedagógico a Timóteo (2:1-2): o que ele ouviu do Apóstolo, perante muitas testemunhas, isto deve ser transmitido a pessoas de confiança, que também saibam transmitir adiante. Paulo tem consciência de ter “combatido o bom combate”, o que lhe dá a certeza de receber a coroa da justiça. Ele considera sua carreira encerrada (4:7).
Timóteo deve se manter íntegro e se precaver de falsas doutrinas. Deve vigiar e perseverar. Deve reavivar o carisma recebido e se manter fiel.
Durante a perseguição ordenada por Nero (entre 64 e junho de 68), Paulo foi preso pela segunda vez em Roma.
Segundo o testemunho de Eusébio, História Eclesiástica, II, XXV,5, o apóstolo Paulo foi executado por volta do ano 67. Portanto, a carta foi escrita pouco antes da morte do apóstolo.
Quando a carta foi escrita, Paulo estava preso e algemado “como malfeitor” (2:9). Certamente é por esse motivo que o apóstolo pede a Timóteo que não se envergonhe dele (1:8.12). E ressalta que Onesíforo “nunca se envergonhou das minhas algemas” (1:16). Ao contrário, Onesíforo procurou o apóstolo com empenho, até encontrá-lo.
Paulo está consciente a respeito do andamento de seu processo (4:6). Ele está só: Demas o abandonou, Crescente partiu para a Galácia, e Tito, para a Dalmácia (4:10). Somente Lucas permaneceu com o apóstolo.
Paulo pede que Timóteo venha vê-lo depressa (4:9), antes do inverno (4:21). Solicita também que traga a capa que o apóstolo havia deixado em Trôade, na casa de Carpo, e também os pergaminhos (4:13).
Marcos
O evangelho escrito por Marcos contém seis seções:
1:16 – 3:6 – Jesus e os discípulos se deparam com as observâncias judaicas.
3:7 - 6:6 - Despontam os adversários de Jesus. São realizados milagres.
6:7 – 8:30 – Os Doze são enviados em missão. São encarregados de alimentar a multidão. Os discípulos ainda não compreendem o plano de Deus. A cura de um cego é paradigmática (8:22-26), pois ilustra o empenho de Jesus para que os discípulos “vejam” o agir de Deus.
8:31 – 10:52 – A confissão de Pedro. Três anúncios da Paixão e Ressurreição. O preço do discipulado. Os discípulos recebem explicações em particular. Também esta seção é concluída com a cura de um cego.
11 – 13 – Os discípulos são defrontados com o poder da fé e da oração. Eles são prevenidos para uma conduta em vista da chegada do Filho do Homem.
14 – 16 – A expectativa do Reino de Deus. Os discípulos são prevenidos em relação à tentação. Eles fogem no Getsêmani. Depois da Ressurreição, Jesus encontra os discípulos na Galiléia. O final (16:9-20) não consta em muitos manuscritos, entre eles o CodexVaticanus e o CodexSinaiticus. Numerosos estudiosos concluem que o final perdeu-se muito cedo e foi substituído pelos v. 9-20. O vocabulário e o estilo desse texto são diferentes do restante do evangelho. O texto é uma espécie de resumo dos relatos de aparições de Jesus ressuscitado.
Sumário do conteúdo do evangelho de Marcos:
Cap. 1-9 Atuação de Jesus na Galileia.
10 A caminho de Jerusalém.
11-12 Entrada em Jerusalém e discussões.
13 Discurso escatológico.
14-16 Sofrimento, morte e ressurreição.
Mateus
Mateus elaborou a genealogia de Jesus, que se estende até Abraão (1:1-17). A genealogia começa em Abraão, para mostrar que Jesus pertence ao povo eleito. Jesus é o Messias prometido ao povo de Deus, que teve início em Abraão.
O evangelista apresenta material exclusivo, como o relato dos reis do Oriente, a fuga para o Egito e a matança das crianças.
A obra pode ser dividida em duas grandes partes.
A primeira abrange 1 a 13: infância de Jesus e ministério na Galileia.
A segunda abrange 14 a 28: atuação em diversas regiões e em Jerusalém.
O livro contém cinco grandes discursos de Jesus, lembrando o Pentateuco:
1. O Sermão do Monte (5 - 7);
2. O envio dos discípulos (10);
3. As Parábolas sobre o Reino (13);
4. Exortação à igreja (18);
5. Discurso sobre o juízo final (24-25).
Sumário do conteúdo do evangelho de Mateus:
1-2 Nascimento e infância de Jesus.
2-3 Batismo e tentação.
5-7 O Sermão do Monte.
8-9 Curas e discipulado.
10-12 Israel e a oferta da salvação.
13 Parábolas.
14-15 Atuação de Jesus e a Tradição dos Anciãos.
16-20 Orientação para os discípulos.
21-23 Entrada em Jerusalém e discussões.
24-25 Fim dos tempos e juízo final.
26-28 Sofrimento, morte e ressurreição.
Lucas
Lucas é o evangelista que mais material apresenta sobre o nascimento e a infância de Jesus. Apresenta o Magnificat (o cântico de Maria), o Benedictus (o cântico de Zacarias), o Glória (o cântico dos anjos) e o Nunc dimittis (o cântico de Simeão).
Lucas estabeleceu uma ligação entre a história de Jesus e a história universal, estendendo a genealogia do Messias até Adão (3:23-38). Jesus é o Salvador de toda a humanidade.
O Evangelho segundo Lucas contém vasto material exclusivo. É enfatizada a ação do Espírito Santo e a importância da oração.
Sumário do conteúdo do evangelho de Lucas:
1-2 Nascimento de João Batista e de Jesus.
3 Atuação de João Batista.
4-9 Atuação de Jesus na Galileia.
9-19 Da Galileia para Jerusalém.
19-20 Entrada em Jerusalém e discussões.
21 O fim de Jerusalém e fim do mundo.
22-23 Sofrimento e morte.
24 Ressurreição e ascensão de Jesus.
O evangelho segundo João
A intenção do autor é ligar o Jesus histórico ao Cristo atuante na Igreja. O Senhor, que conduz a Igreja, é o mesmo Jesus humilde que foi crucificado.
O culto “em espírito e em verdade” não está mais ligado ao templo, mas a Jesus Cristo, morto e ressuscitado, e Senhor da Igreja.
Os acontecimentos históricos não são apenas fatos objetivos, mas transmitem uma mensagem.
O milagre (sinal) de Caná (2:1-12) e a multiplicação dos pães (6:1-13) são alusões à celebração da Ceia (Eucaristia). O discurso sobre o “pão da vida” (6:22-59) é uma exposição doutrinal sobre a ceia.
A cura do paralítico de Betesda (5:1-14) e do cego de nascença (9) remetem ao batismo. O diálogo com Nicodemos (3:1-21) é uma catequese batismal.
A água e o sangue, que saem do corpo de Jesus após sua morte, são uma referência ao batismo e à ceia.
A continuidade entre o Jesus histórico e o Cristo atuante na condução da Igreja é atestada pela atuação do Espírito, o Parákleto (advogado, intercessor, consolador), que possibilita aos discípulos a compreensão dos acontecimentos.
João acentua o tema da vida (zwh = zoé). A vida divina já está presente agora, na pessoa de Cristo e na vida dos que creem. Os sinóticos acentuam a vinda do Reino de Deus.
João apresenta uma escatologia peculiar. Ele não descreve o fim do mundo e nem menciona a parusia de Jesus Cristo para o julgamento final. Cristo já manifestou a sua glória (1:14; 2:11; 11:4.40). A salvação é uma realidade presente (5:24). O mundo já foi julgado (3:18-19). O “príncipe deste mundo” já foi expulso (12:31; 16:33).
João apresenta uma escatologia realizada, mas persiste a tensão entre o “já” e o “ainda não”. O “príncipe deste mundo” foi expulso, mas o mal não foi erradicado, pois o diabo conseguiu se apoderar de Judas. Quem crê em Jesus passou da morte para a vida, pois Jesus é “a ressurreição e a vida” (11:23-26), mas a ressurreição dos mortos acontecerá no último dia (5:28; 6:39.40.44.54).
“Enfim, o quarto evangelho é o evangelho do amor: Deus amou o mundo (3.16), ele ama a Cristo (3.35; 15.9), Cristo ama os seus até morrer por eles (13.1), e os cristãos devem realizar, após sua morte, sua união com ele, amando-se uns aos outros (13.34)”, comenta Cullmann, A formação do Novo Testamento, p. 35.
-João não quis repetir o material dos sinóticos.
- A vida eterna é a salvação numa existência com qualidade diferente. A vida eterna é a vida do próprio Deus, que nos é proporcionada (17:3).
- Jesus se apresenta assim como Iahweh no AT: “Eu sou”.
- A crucificação de Jesus é exaltação. A vitória foi alcançada na cruz.
- Os milagres realizados por Jesus são “sinais”. João apresenta sete “sinais”.
- João não mencionou a instituição da Ceia, para que as palavras não fossem profanadas.
- João também não menciona a tentação no deserto e nem a agonia no Getsêmani.
- As peculiaridades de João: linguagem simbólica, mal-entendidos da parte dos interlocutores, a hora de Jesus.
- Jesus foi crucificado no dia 14 de Nisan. Ele foi condenado ao meio-dia, quando eram imolados os cordeiros no Templo para a refeição da Páscoa (19:14).
- O essencial é o conhecimento na fé do Filho de Deus que se tornou carne.
- O Logos é o Filho preexistente.
- João raramente cita o AT, mas emprega muitas fórmulas da antiga aliança.
- João valoriza a criação de Deus e a condição humana é revestida de dignidade, pois o Logos assumiu a fragilidade existencial.
- O importante é descobrir o significado do acontecimento.
- O Espírito torna compreensível a história de Jesus.
- João procura a simbolização da história.
Atos dos apóstolos
O livro está esquematizado em duas grandes partes:
1. os primórdios do cristianismo em Jerusalém, após a ascensão de Jesus;
2. a expansão da fé cristã fora da Palestina, alcançando Roma – capital do império;
A obra pode ser dividida em duas partes. O apóstolo Pedro recebe destaque em At 1-12:17, reaparecendo ainda em At 15:7-11. E a outra metade do livro (13-28) narra a atuação missionária de Paulo.
A primeira parte abrange os capítulos 1 a 12, e contém poucas indicações cronológicas. O estilo é semita e alguns pensamentos parecem arcaicos. Quando Lucas narra os primórdios da igreja na Palestina, seu estilo é semitizante e duro, pois ele respeitou e preservou as informações de origem aramaica. Lucas manteve o estilo arcaico e semitizante dos discursos de Pedro (2:14-36 e 10:34-43) e de Estêvão (7:1-53). Consolida-se a igreja de Jerusalém e periferia.
A segunda parte abrange os capítulos 13 a 28 e se apresenta como um conjunto mais bem organizado. São numerosos os dados cronológicos. O estilo é grego. Quando Lucas utiliza suas notas de viagem, ele escreve em excelente grego. Por quatro vezes a narrativa passa da terceira pessoa do singular para a primeira do plural: “nós” (16:10; 20:5-15; 21:1-18 e 27:1-28:16). O Evangelho é difundido na Ásia e na Europa, chegando a Roma.
A obra também pode ser dividida “em cinco seções geograficamente determinadas, de acordo com o objetivo missionário” (Kümmel, p. 192).
“Depois do prólogo e da narrativa da ascensão (1,1-14) a primeira parte principal (1,15-8,3) trata da Igreja de Jerusalém” (Kümmel, p. 192).
“A segunda parte principal (8,4-11,18) se refere à propagação do Evangelho na Samaria e nas regiões costeiras” (Kümmel, p. 193).
“A terceira parte principal (11,19-15,35) narra a propagação do Evangelho até Antioquia e, em seguida, para além de Antioquia” (p. 193).
“A quarta parte principal (15,36-19,20) descreve a propagação do Evangelho nas terras circunjacentes ao mar Egeu” (Kümmel, p. 193).
“A quinta parte principal (19,21-28,31) apresenta a propagação do Evangelho desde Jerusalém até Roma” (Kümmel, p. 194).
O tema principal de Atos é a divulgação do Evangelho e da salvação levada aos pagãos, pois assim foi determinado por Deus. Toda obra de Lucas é marcada pelo universalismo da salvação. A história é interpretada à luz da fé.
Estrutura de Hebreus.
1. Deus fala – agora pelo seu Filho (1:1-4).
2. O Filho é superior aos anjos (1:5-2:18) e a Moisés (3:1-4:13) e, ao mesmo tempo, um verdadeiro ser humano (4:15; 5:7).
3. Jesus – o sumo sacerdote compassivo – superior a Arão (4:14-7:28)
e aos sacerdotes do AT.
4. Jesus é o Mediador da nova aliança (8:1-10:18). O sacrifício de Cristo (9:23-10-18).
5. A fé e o exemplo dos antepassados (10:19-11:40).
6. A necessidade de persistência no caminho da santidade e da paz (12-13).
O autor incentiva os seus leitores a não voltarem atrás. Ele mostra o caráter provisório do culto da antiga aliança. E exorta os leitores à perseverança e a uma fé alicerçada nos exemplos do AT. Os leitores não devem cair na apostasia (10:19-39).
O autor alerta contra o perigo da apostasia (6:4-8 e 10:26-31). Os que foram iluminados saborearam a beleza da palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro. A iluminação designa o batismo (Ef5:14). A apostasia é a rebelião deliberada contra Deus. Ela é irreparável, pois trata-se da rejeição da manifestação de Deus em Cristo. Não se trata de um pecado por inadvertência, mas de um pecar continuado, uma persistência voluntária. Em 10:26 o verbo pecar se encontra no particípio presente, indicando uma ação contínua, o que equivale a desprezar e pisotear o Filho de Deus. Esse ultraje pode ser comparado com a blasfêmia contra o Espírito Santo (Mt 12:31). Observemos também 1Jo 5:16, onde é mencionado o “pecado para morte”, que é equiparável à apostasia.
Em seu desânimo, os exilados devem compreender que a vida cristã é uma peregrinação, uma caminhada para a pátria celestial, uma entrada no repouso prometido (3:11). Cristo é o guia e ele é superior a Moisés (3:1-6).
É estabelecida uma correspondência entre as realidades terrestres e os arquétipos celestes. O culto antigo é um reflexo da imutável realidade celeste (8:5; 9:24). O mundo terrestre e a dimensão celeste estão interligados (9:23-28).
1 Pedro
Estrutura da primeira carta de Pedro:
1:1-2 – saudação.
1:3-12 – ação de graças pelo plano de salvação.
1:13-2:10 – Primeira exortação.
Os cristãos de origem pagã devem viver em santidade.
Conselhos para a vida comunitária (1:22-2:3).
Os eleitos devem proclamar os feitos de quem chamou (2:4-10).
2:11-3:12 – Segunda exortação.
A conduta que se deve ter entre os pagãos (2:11-12).
Deveres com as autoridades e no casamento (2:13-3:7).
Apelo ao amor fraterno (3:8-12).
3:13-4:11 – Terceira exortação.
Confiança perante o mundo hostil (3:13-17).
O fundamento da confiança é a vitória de Cristo (3:18-22).
O exemplo de Cristo leva a romper com o pecado (4:1-6).
Vigilância na vida comunitária (4:7-11).
4:12-19 – Quarta exortação.
5:1-11 – Exortações específicas.
Deveres dos líderes da comunidade (5:1-4).
Humildade e vigilância (5:5-11).
5:12-14 – Conclusão.
Os cristãos são preparados para suportar o sofrimento inocente. Cristo é o modelo (2:21-25; 3:18 e 4:1).
A esperança cristã triunfará. Aqueles que se conduzem em vida nova, encontrarão a salvação definitiva por ocasião da vinda gloriosa de Jesus Cristo. Merece destaque o Hino Cristológico (2:22-25). Vejamos também o hino em 4:5.
A primeira carta de Pedro contribui de um modo original com dois temas: o sacerdócio de todos os crentes (2:9-10) e a descida de Cristo ao Hades, o mundo dos mortos (3:19-20 e 4:6).
1 Pd 3:19-20 e 4:6 são os dois textos que mencionam expressamente a pregação de Jesus no Hades. Outros textos do NT mencionam uma descida de Jesus à mansão dos mortos (At 12:3; Rm 10:7; Ef 4:8-10).
Jesus partilhou do destino de todos os seres humanos e também desceu ao mundo dos mortos. Ele não foi lá para permanecer, mas para pregar libertação.
Entre sua morte e ressurreição, Jesus pregou aos espíritos em prisão: os contemporâneos de Noé, considerados irremediavelmente perdidos. “A geração do dilúvio não participa do mundo vindouro” (Sanhedrim 10:3). Jesus foi em espírito ao Hades, ou seja, em sua dimensão celestial, divina. Ele morreu na carne, mas foi vivificado no espírito. Não se trata de uma dicotomia, que é estranha ao pensamento hebraico, mas de uma declaração de que Jesus morreu como ser humano e atuou em sua dimensão divina.
A morte de Jesus expressa um poder salvífico ilimitado. Aqueles que, no entendimento do judaísmo, estão condenados à exclusão do mundo vindouro, podem ouvir a pregação de Jesus. A morte de Cristo adquire uma dimensão universal: a pregação da salvação alcança aqueles que não conheceram Cristo.
A igreja sempre se preocupou com o destino dos piedosos do AT. Se a geração do dilúvio pôde ouvir a pregação de Jesus, isso significa que não devemos estabelecer limites para o agir salvífico de Deus. O texto quer testemunhar “o poder salvífico, absoluto e ilimitado da morte de Jesus” (J. Jeremias), que abrange também aqueles que viveram e morreram antes de sua vinda.
As pessoas escolhidas têm uma missão no mundo. A eleição está relacionada com o sacerdócio de todos os crentes (2:5.9).
Judas
Estrutura da carta:
1-2 – Prólogo.
3-4 – A presença de falsos mestres na igreja.
5-16 – O juízo sobre os falsos mestres.
17-23 – Advertências e exortações.
24-25 – Doxologia solene.
Os falsos mestres se insinuam (v. 4), participam em banquetes (v. 12) e bajulam (v. 16).
“A carta é um escrito contra falsos doutores: mais violento no tom que na substância. Recrimina, em lugar de rebater com argumentos; lança ataques genéricos, sem determinar; ameaça com exemplos terríveis. Contudo, procura temperar seu rigor com a compreensão e compaixão (vv. 22-23). A carta não é atraente. Talvez nos ensine que, diante de certos erros doutrinais e morais, é preciso tomar posição clara e firme” (Bíblia do Peregrino).
2 Pedro
2 Pedro depende de Judas. Todo o cap. 2 é uma reelaboração da carta de Judas. Na epístola de Pedro, alguns temas das tradições apócrifas foram suprimidos: o combate do arcanjo Miguel (Jd 9), a promiscuidade dos anjos (Jd 6) e a profecia de Enoque (Jd 14). 2 Pedro reflete um estágio posterior, no qual se observa uma preocupação pela inspiração das Escrituras (1:20-21) e a canonização dos textos sagrados, sendo as cartas de Paulo equiparadas ao AT (3:15-16).
Estrutura da segunda carta de Pedro:
1:1-2 – Saudação.
1:3-15 – Vocação e conduta cristã.
1:16-21 – A glória de Cristo e iluminação da profecia.
2:1-22 – Os falsos mestres.
Castigo e julgamento (2:1-9).
A perversidade dos falsos mestres (2:10-22).
3:1-13 – A vinda do Senhor demora, mas sua parusia é certa.
3:14-18 – Exortação à fidelidade e ao crescimento em Cristo.
1 João.
“As epístolas joaninas foram redigidas em um espírito de contemplação luminosa. As ideias nelas expressas não seguem uma progressão lógica, como aquelas das epístolas paulinas, mas um procedimento cíclico: os mesmos temas retornam diversas vezes, e tudo é expresso numa estilo litúrgico. Até se disse que toda a primeira carta não seria mais do que uma liturgia batismal” (Cullmann, A formação do Novo Testamento, p. 81).
Estrutura da carta:
Introdução: o Verbo se tornou carne. A comunhão com o Pai e o Filho (1:1-4).
Deus é Luz (1:5-2:29).
Pecado e obediência (1:8-2:6).
O mandamento do amor e a luz (2:7-11).
Os cristãos e o mundo (2:12-17).
O Anticristo e a unção do Espírito (2:18-29).
Devemos viver como filhos de Deus (3:1-4:6).
Somos filhos de Deus (3:1-10).
O mandamento do amor (3:11-24).
O discernimento de espíritos (4:1-6).
Deus é Amor: devemos nos amar uns aos outros (4:7-21).
A vitória da fé (5:1-13).
A oração e a confiança (5:14-21).
A segunda carta de João previne a igreja diante das doutrinas de “muitos enganadores” (v. 7), que não reconhecem a encarnação de Jesus Cristo. Devem ser evitados (v. 11) aqueles que negam a dimensão humana de Jesus Cristo.
Estrutura da carta:
Prólogo (1-3).
Permanecer na verdade (4-6).
Precaver-se em relação aos enganadores (7-11).
Vínculo comunitário (12-13).
Estrutura da terceira carta de João:
Prólogo (1-4).
Elogio à hospitalidade de Gaio, que acolheu missionários itinerantes
(5-8).
O autoritarismo e a soberba de Diótrefes (9-10).
O bom testemunho a respeito de Demétrio (11-12).
Saudações (13-15).
Apocalipse
Depois do prólogo e da seção profética mencionando as sete igrejas da Ásia Menor (1-3), o Apocalipse apresenta sete visões. Cada visão descreve de um modo total e pleno o tempo final; cada uma o faz a partir de um novo ponto de vista.
As visões não se desenvolvem numa reação em cadeia, e também não apresentam uma história contínua e ininterrupta.
Cap. 1 - 3 Prólogo e sete cartas às igrejas.
4 – 5 A visão do trono e da glória de Deus.
6:1 – 8:1 Os sete selos.
8:2 – 11:19 As sete trombetas.
12 – 14 A mulher, o dragão, as bestas, o Cordeiro e os anjos.
15 – 16 As sete taças.
17:1 – 19:10 O julgamento e a derrota de Babilônia.
19:11 – 22 A Parusia de Jesus Cristo, a batalha e a vitória final,
a comunhão plena com Deus.
De acordo com essa interpretação, cada uma das sete visões traz a mensagem completa do Apocalipse. Cada uma apresenta a vitória de Jesus Cristo a partir de um outro enfoque.
Os cap. 4-22 apresentam a luta da Igreja com os poderes hostis. A Igreja é comandada por Jesus Cristo, que conta com seguidores – os “servos do nosso Deus” (7:3). Os poderes hostis são chefiados por Satanás e estão concentrados na Babilônia (Roma). O culto ao imperador dá ensejo à perseguição dos cristãos. A vitória de Cristo é certa, mas ela só é alcançada depois de sofrimento e martírio. O Cordeiro foi degolado e suas testemunhas são assassinadas (11:1-12). É necessário superar a grande tribulação (7:14). Babilônia será julgada e acontecerá a sua queda (17-18). Ocorrerá a batalha final (19:11-21) e o julgamento universal (20:11-14). Haverá perturbações no céu e na terra.
O autor se serve de imagens dos apocalipses judaicos conhecidos na época. Ele também utiliza imagens da astrologia e da mitologia pagã. Bastante mencionada pelo autor, a trombeta era um instrumento do culto da Igreja primitiva. Os primeiros cristãos consideravam o culto uma antecipação do fim. Merece atenção o fato de a primeira visão do autor ocorrer num domingo (1:9).
As muitas referências históricas mostram que o presente se projeta no futuro. A “besta emergindo do mar” (13) está a serviço do dragão, o diabo. Isso significa que o império conquistador é impulsionado pelo poder demoníaco. Os apocalipses judaicos estavam orientados exclusivamente para o futuro. Por sua vez, “o Apocalipse de João é caracterizado pelo conceito cristão de tempo, segundo o qual o centro da história divina já foi atingido por antecipação em Jesus Cristo (M. Rissi). Assim, todo o tempo presente já é tempo do fim, mesmo que o cumprimento ainda fique por vir. O autor mostra o aspecto celeste dos acontecimentos presentes, como descreve o aspecto celeste dos acontecimentos futuros. Esta é a chave da compreensão de todo o livro” (Oscar Cullmann, A formação do Novo Testamento, p. 85).
“Lembra-nos o objetivo de toda essa história da salvação, que é o objeto do Antigo e do Novo Testamento. Ao colocar todo o tempo intermediário entre a vinda de Cristo e o fim do mundo na perspectiva cristã do tempo, na qual a época atual já aparece como um tempo final, determinado pela obra de Cristo, o Apocalipse tem uma grande atualidade. Sem nos autorizar a fazer cálculos, ele nos permite compreender os acontecimentos da época atual sob essa luz. Basta ler o vigoroso capítulo 13 sobre o império conquistador e a ideologia totalitária para nos dar conta de até que ponto esse escrito está próximo de nós, mesmo falando somente do Império Romano e de seu culto ao imperador. Ele também é atual quando proclama a importância cósmica da obra redentora e do reinado de Cristo e a esperança de uma nova criação” (Cullmann, p. 87).
O Apocalipse é o escrito do NT que mais apresenta citações do AT: mais de 400. E se comunica mediante o simbolismo. O símbolo comunica a presença de Deus. Mediante as visões, os cristãos são transportados para dentro do céu (4:1-11). Lá do alto, eles podem contemplar a luta da igreja militante com os olhos de Deus. As dificuldades são enormes, mas a luta já está ganha. Esse simbolismo mostra que a igreja é uma só: quando celebramos um culto aqui na terra, nós estamos em sintonia com o culto celebrado na eternidade, onde a celebração é permanente. Jesus Cristo é Senhor dos vivos e dos mortos, da igreja militante e da igreja triunfante.